Estilo de vida saudável pode ajudar a reduzir o alto risco genético de câncer, diz estudo recente

Estilo de vida saudável pode ajudar a reduzir o alto risco genético de câncer, diz estudo recenteMesmo quando há alto risco genético para o desenvolvimento de câncer, fatores de estilo de vida saudável, como não fumar ou beber, manter um baixo índice de gordura corporal e praticar exercícios físicos regularmente, se correlacionaram com a diminuição da incidência de câncer. Essa é a conclusão de um estudo da American Association for Cancer Research publicado no final de julho no periódico da entidade. “Como a pesquisa genética continua a descobrir áreas no DNA com mudanças específicas que influenciam o risco de câncer, os pesquisadores podem definir ‘escores’ (pontuações) de risco poligênico (PRS) – estimativas personalizadas do risco de câncer de um indivíduo – com base na combinação única de um paciente dessas mudanças”, explica o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem. “Um escore de risco poligênico indicando o risco de um certo câncer é importante, mas não o suficiente. Na pesquisa, eles tentaram criar um indicador – o escore de risco poligênico de câncer (CPRS) – para medir o risco genético de câncer como um todo”, acrescenta o geneticista.

Os pesquisadores calcularam o PRS individual para 16 cânceres em homens e 18 cânceres em mulheres, usando dados disponíveis de estudos de associação do genoma. Eles então usaram métodos estatísticos para combinar essas pontuações em uma única medida de risco de câncer, com base na proporção relativa de cada tipo de câncer na população em geral. “Para validar o risco genético de câncer como um todo, os pesquisadores utilizaram informações de genótipo de 202.842 homens e 239.659 mulheres do UK Biobank, com participantes da população geral recrutados na Inglaterra, Escócia e País de Gales entre 2006 e 2009”, explica o geneticista.

Os participantes do UK Biobank foram pesquisados no momento da inscrição para vários fatores de estilo de vida, incluindo tabagismo e consumo de álcool, índice de massa corporal, hábitos de exercício e dieta típica. Com base nesses fatores, os pesquisadores classificaram cada paciente como tendo um estilo de vida geral desfavorável (zero a um fator saudável), intermediário (dois a três fatores saudáveis) ou favorável (quatro a cinco fatores saudáveis). Segundo o estudo, 97% dos pacientes teve um alto risco genético de pelo menos um tipo de câncer, o que sugere que quase todos são suscetíveis a pelo menos um tipo de câncer. “Isso indica ainda a importância da adesão a um estilo de vida saudável para todos”, diz o geneticista.

Pacientes com estilo de vida desfavorável e com risco genético para câncer mais alto tiveram 2,99 vezes (nos homens) e 2,38 vezes (nas mulheres) mais probabilidade de desenvolver câncer do que aqueles com um estilo de vida favorável. “Entre os pacientes com alto risco genético, a incidência de câncer em cinco anos foi de 7,23% em homens e 5,77% em mulheres com estilo de vida desfavorável, em comparação com 5,51% em homens e 3,69% em mulheres com estilo de vida favorável. As porcentagens diminuídas são comparáveis ao risco de câncer em indivíduos com risco genético intermediário. Tendências semelhantes foram observadas em todas as categorias de risco genético, sugerindo que os pacientes poderiam se beneficiar de um estilo de vida saudável, independentemente do risco genético”, conta o Dr. Marcelo Sady.

Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), um dos fatores analisados, o índice de massa corpórea (IMC), não é o único nem o melhor modo para diagnosticar sobrepeso e obesidade, pois não leva em consideração a composição corporal. “Porém, o cálculo serve de alerta e um IMC entre 25 e 30 Kg/m2 já pode sinalizar a necessidade de adotar estratégias para retornar à faixa de normalidade de peso e assim evitar o desenvolvimento de inúmeras doenças causadas por equívocos alimentares como obesidade, síndrome metabólica, dislipidemias, diabetes, doenças cardiovasculares, osteoarticulares, digestivas e, também, alguns tipos de câncer”, diz a médica.

No cardápio, a médica recomenda a inclusão de alimentos funcionais, capazes de reduzir o risco de doenças crônicas degenerativas, como câncer e diabetes. “Os alimentos funcionais, para serem considerados funcionais, devem, além de nutrir, trazer componentes que, se consumidos com frequência, otimizam funções orgânicas e consequentemente podem reduzir a prevalência de doenças crônicas. Isso é possível por causa das moléculas presentes nesses alimentos, que conferem atividades antioxidantes, hipoglicemiantes (de controle da glicemia), hipolipemiantes (no controle do colesterol), imunomoduladoras, entre outras”, explica a Dra. Marcella. “É importante ressaltar que os alimentos, mesmo aqueles com funcionalidades, não se prestam a substituir medicamentos e estratégias terapêuticas para doenças estabelecidas. Nesses casos o consumo de alimentos funcionais é conduta complementar, para a promoção da saúde”, diz a médica nutróloga. “São exemplos de alimentos com funcionalidades: as sementes oleaginosas, cereais integrais, azeite de oliva, tomate, alho, cebola, peixes de água fria, grãos integrais, laticínios fermentados e enriquecidos com probióticos, vinho e suco de uva integral, verduras de folhas verdes e crucíferas, frutas alaranjadas, frutas vermelhas, tubérculos e raízes, algas, entre outro. Os alimentos funcionais podem ser incluídos na dieta de todas as pessoas”, explica.

O médico geriatra e nutrólogo Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), afirma que a alimentação é um fator muito importante para diminuir o risco de câncer. “Segundo estudos, o consumo de 10 porções diárias de frutas e hortaliças poderia evitar até 7,8 milhões de mortes prematuras. Pequenas quantidades de frutas e verduras todos os dias já trazem benefícios para a saúde, mas é certo que quanto maior a porção diária, melhor; a incidência de câncer é menor em quem consome alimentos verdes, amarelos e as chamadas crucíferas, como couve-flor, repolho e brócolis”, explica o médico.

Afastar-se do excesso de carboidratos e açúcares também colabora para prevenção de doenças. “O consumo excessivo de açúcares pode levar a doenças metabólicas como obesidade e diabetes, porém agrava os riscos de doenças cardiovasculares, inflamatórias, degenerativas e até neoplásicas (tumores). O consumo de açúcares adicionados e escondidos é um dos principais equívocos alimentares da dieta ocidental, com inúmeras consequências indesejáveis à saúde, e não deve compor mais de 10% de todas as calorias ingeridas”, diz a médica Dra. Marcella. “Além da alimentação, sabemos que hábitos saudáveis de vida, principalmente se afastando do cigarro e do excesso de bebidas alcóolicas, uma vez que essas substâncias são tóxicas para o organismo e podem agravar os riscos de câncer. A atividade física também é importante para prevenir o desenvolvimento de câncer em pacientes que apresentam um risco genético. Estudo recente da Universidade de Copenhague destaca que 6 semanas de exercícios físicos de força, como a musculação, levaram a mudanças na informação epigenética das células do músculo em homens jovens e essas mudanças ocorreram em áreas do genoma que foram associadas a doenças”, finaliza o geneticista.

FONTES:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.

*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.

Link: https://cancerres.aacrjournals.org/content/early/2021/07/29/0008-5472.CAN-21-0836