Cultivo de carbono como instrumento de resiliência climática

Com a mudança climática sendo uma ameaça para o futuro das pessoas, a indústria agrícola, grande responsável desta mudança, tem a necessidade e obrigação de mudar as suas práticas. A propósito da Conferência Climática de Paris em 2015, uma nova iniciativa para lutar contra o aquecimento global foi apresentada. A iniciativa chamada de “4 por 1.000” mostrou que o aumento do carbono do solo no mundo inteiro em apenas 0,4% ao ano poderia compensar o novo crescimento naquele ano das emissões de dióxido de carbono provenientes das emissões de combustíveis fósseis. 

A agricultura cobre mais da metade da superfície terrestre da Terra e contribui com cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. Por isso, a restauração de solos com emissões de carbono oferece uma oportunidade tentadora para uma solução climática natural. O cultivo de carbono baseia-se nos métodos agrícolas que têm como fim o sequestro do carbono atmosférico no solo, madeira e plantas dos diferentes cultivos. Cada ano, as plantas convertem 30% do dióxido de carbono atmosférico pela fotosíntesis. Quando elas morrerem, os organismos no solo as transformam em matéria orgânica que é essencial para a alimentação humana. Assim, o aumento do conteúdo de matéria orgânica do solo pode ajudar o crescimento das plantas, aumentar o conteúdo total de carbono, melhorar a capacidade de retenção de água do solo e reduzir o uso de fertilizantes. Neste contexto, para as plantas poderem se desenvolver e fixar assim o carbono atmosférico, é importante a presença de uma boa aeração do solo.

O aumento do armazenamento de carbono estabiliza o clima e aumenta a segurança alimentar, por isso, na agricultura tradicional já existiam técnicas de sequestração do carbono, como por exemplo: o plantio direto que minimiza as perturbações do solo e reduz a perda de carbono para a atmosfera. Além disso, a diversificação de culturas e o plantio de leguminosas, perenes e culturas de cobertura devolvem mais carbono ao solo, e sustenta os micróbios do solo que desempenham papéis-chave no armazenamento de carbono. Estes cultivos crescem ano após ano sem qualquer perturbação humana ao solo, permitindo que ele mantenha sua estrutura e retenha carbono. Por outro lado, tem que favorecer a agrossilvicultura, a integração de árvores nos sistemas agrícolas, pois sequestra de longe a maior quantidade de carbono com 10 a 40 vezes a melhor colheita anual ou sistemas de pastagem gerenciada.  Ao mesmo tempo, a pastagem rotativa e o uso de adubo para nutrir o solo aumentam o armazenamento do carbono. Assim como o biochar, o carvão vegetal,  que aumenta a capacidade do solo de reter nutrientes, água e aumentar os níveis de carbono. Este pode durar até 10.000 anos nos solos. 

Outra medida a realizar para diminuir o aumento de carbono atmosférico é atuando contra as próprias causas. Entre elas encontra-se o desmatamento, os solos nus ou a perda de florestas e cultivos. Todas estas medidas podem ser implementadas nas fazendas a um custo muito mais baixo do que a agrossilvicultura, por exemplo. Este sequestro continua 20-30 anos depois de terem implementado as medidas. 

O principal benefício do cultivo de carbono é tirar o excesso de carbono atmosférico e, por conseguinte, diminuir os gases de efeito estufa. Além de reduzir a mudança climática, o cultivo de carbono apresenta muitos benefícios para o próprio solo e, ao melhorar sua saúde, aumenta a produção e rendimento dos cultivos, o que se traduz em maiores lucros para o agricultor. Além de sequestrar carbono, este tipo de cultivo também aumenta a capacidade do solo de reter água. 

Em conclusão, o cultivo de carbono pode contribuir à redução do carbono atmosférico produzido pelas indústrias e assim conseguir o objetivo de estabilizar o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius estabelecido na Conferência Climática de Paris.