Artigo: Um ano de Open Banking no Sicredi: aprendizados e expectativas

Com a evolução da iniciativa, será possível ter acesso às informações de outros mercados como investimentos, seguros e previdência Créditos: Nattanan Kanchanaprat/ Pixabay

*César Gioda Bochi, Valério Araújo e Volmar Machado

No fim de abril completamos o primeiro ano da adesão do Sicredi ao Open Banking. Nossas Cooperativas decidiram que os benefícios na entrada nessa jornada de forma antecipada, mesmo não obrigatória para o compartilhamento dos dados, superariam os desafios que teríamos na mobilização do Sicredi para execução. Enfim, por se tratar de levar mais informações e possibilidades aos nossos associados, não tínhamos como ficar de fora.

Assim, como se trata de uma iniciativa que amplia a competitividade entre os players do Sistema Financeiro Nacional, ao fomentar a concorrência e facilitar a oferta de soluções mais personalizadas para os consumidores, buscamos desde o início participar da inovação promovida pelo Banco Central, pois entendemos que este movimento traz diversos benefícios aos nossos associados, prova disso é que, voluntariamente, aderimos ao movimento desde a sua primeira fase.

Resgatando o ponto de partida, o projeto coloca as pessoas como proprietárias dos seus dados. Dessa maneira, a partir da solicitação do consumidor, se realiza o compartilhamento de dados entre instituições financeiras num ambiente monitorado e seguro. Assim, traz mais transparência ao segmento, permite a portabilidade de relacionamento entre instituições, e facilita o acesso das pessoas físicas e jurídicas às propostas mais vantajosas em termos de serviços financeiros. Na prática, entre outras possibilidades que irão se abrir, possibilita, por exemplo, o acesso a um empréstimo com melhores condições de pagamento.  Isso sem falar nas inovações que virão pela frente, nos novos arranjos de iniciação de transações financeiras, seja em pagamentos, crédito, seguros. Enfim, um sistema financeiro aberto e conectado.

Em 2022, a iniciativa foi rebatizada para Open Finance, pois começou a ampliar o mesmo conceito de compartilhamento de dados para produtos e serviços financeiros de outras instituições, como corretoras e fundos de previdência. Em breve, os benefícios do compartilhamento entre essas empresas também estarão disponíveis, facilitando a pesquisa de quem quer contratar um seguro ou previdência complementar, por exemplo.

Saldo positivo e perspectivas

O desafio da implementação tem sido grande, pois tudo precisou ser compreendido durante a jornada de construção e exigiu muita colaboração entre as equipes do projeto, áreas envolvidas, fornecedores, centrais e cooperativas. O balanço de um ano do Sicredi junto à iniciativa é extremamente positivo. Estamos aprendendo junto às grandes instituições financeiras, bancos digitais e fintechs, principalmente no que se refere à capacidade de orquestrar múltiplas iniciativas, desde as mais estruturantes em termos de tecnologia, modelos de oferta, desenvolvimento de capacidades analíticas, capacitação dos nossos colaboradores, canais de suporte e a comunicação com nossos associados.

Passado este primeiro ano, compreendemos melhor o que os nossos associados esperam. Constatamos que não querem apenas o retorno específico sobre uma finalidade para a qual compartilharam seus dados. Os consumidores esperam melhores produtos e serviços, independente se são do escopo do sistema. Eles compartilham seus dados como sinal de expectativa de ter algo melhor e é isso que estamos buscando proporcionar.

Também confirmamos que ainda há uma jornada de aculturamento por parte da sociedade e, para as pessoas compartilharem seus dados, é preciso estimular e apresentar de forma transparente os benefícios que terão com essa ação. Outro fator chave será a evolução da experiência nos processos de compartilhamento, integrando o sistema às jornadas de associação, consulta de extrato, faturas do cartão e simulações de empréstimos, por exemplo. Dado esse cenário, nossa estratégia de posicionamento no Open Finance tem se pautado pela comunicação clara com os associados desde o início, contando com uma página exclusiva para orientá-los sobre o assunto.

Outra constatação é que o novo sistema tem trazido a oportunidade de dar maior protagonismo ao cooperativismo de crédito por meio da agenda regulatória pró-competição, onde os sistemas cooperativos como o Sicredi estão se colocando na vanguarda do movimento, ajudando inclusive a construir a infraestrutura tecnológica, processos e operação dessa inovação no Brasil. Além disso, temos convicção de que a partir da adoção do sistema, os cidadãos poderão conhecer melhor as vantagens de se associarem a uma cooperativa de crédito e ter acesso há benefícios exclusivos deste modelo que conecta o melhor do digital com o relacionamento próximo e consultivo que nossas Cooperativas e agências prestam aos associados

Ainda há muito que ser feito para que o sistema se torne de fato uma ferramenta de competição. Estamos em um estágio de amadurecimento do ecossistema financeiro brasileiro, especialmente no que diz respeito à conclusão das jornadas de compartilhamento e a qualidade dos dados, o que está sendo resolvido pelos participantes com a prioridade necessária. Entretanto, já é perceptível que o modelo brasileiro está avançando mais rápido frente aos outros países. Para termos uma ideia, nos primeiros oito meses desde o início do compartilhamento dos dados, foram mais de 204 milhões de chamadas às APIs (interface de programação de aplicação, na sigla em inglês), o que representa mais de cinco vezes a quantidade apresentada no mesmo período no Reino Unido, que era a nossa referência mundial até então. Isso mostra uma forte tendência de adoção por parte do cidadão brasileiro em busca dos benefícios do Open Finance.

Apesar dos desafios à frente, já temos diversos casos práticos em funcionamento, nos quais conseguimos oferecer uma solução vantajosa para a necessidade apresentada por meio dos dados compartilhados. Essas propostas têm sido encaminhadas tanto pelos nossos gerentes como de forma automática pelos nossos aplicativos.

O aprendizado de um ano indica um futuro promissor. Com a evolução da iniciativa, será possível ter acesso às informações de outros mercados como investimentos, seguros, previdência, entre outros, expandindo mais a capacidade de entender a realidade financeira dos nossos associados.  Além disso, temos convicção de que a partir da adoção do Open Finance, os cidadãos poderão conhecer melhor as vantagens de se associarem a uma cooperativa de crédito e, além de resolver sua vida financeira, colaborarem para a construção de uma sociedade mais próspera.

 

*César Gioda Bochi, diretor-executivo de Administração do Sicredi;

*Valério Araújo, gerente de Open Finance e Inovação do Sicredi;

*Volmar Machado, diretor-executivo de Tecnologia da Informação do Sicredi.