por Anna Clara Rabha, Mestranda em Pediatria e Ciências aplicadas à Pediatria pela Unifesp; integrante dos Comitês de Saúde Digital e de Imunodeficiência da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia e diretora médica da Tuinda Care, startup que tem como aceleradores os hospitais infantis Pequeno Príncipe (PR) e Sabará (SP)
A pandemia virou o mundo de cabeça para baixo. Nos fez observar a fragilidade do sistema de saúde no mundo e o que a falta de conhecimento da população pode gerar: filas de espera nos prontos-socorros, prescrição de exames e medicamentos sem evidência científica, notícias falsas, medo disseminado sobre vacinação, entre outros. Dois anos depois, aparentemente, o pior ficou para trás. Mas, o que muitos não sabem é que, todos os anos, nesta época, vivemos um surto de vírus respiratórios que causam bronquiolite nas crianças menores de 3 anos de idade. Essas crianças estão morrendo nas filas de espera dos hospitais, sofrendo por falta de atendimento médico adequado e de qualidade.
O Sabará Hospital Infantil, por exemplo, relatou que, de 1º de janeiro a 15 de maio, foram 6.536 suspeitas de infeções de vias aéreas e 747 crianças com bronquiolite atendidas no pronto-socorro. O Rhinovírus, o Vírus Sincicial Respiratório e o Metapneumovírus foram os vírus identificados com maior frequência.
Além disso, nas últimas semanas, os casos positivos para COVID-19 vêm aumentando. Na capital paulista, de janeiro a maio deste ano, foram notificados 12.601 casos de síndrome gripal e 4.696 casos de síndrome respiratória aguda grave em crianças até 4 anos. Cerca de 84% das enfermarias pediátricas e 86% dos leitos de UTI estão ocupados no estado de São Paulo. Segundo o InfoGripe, este é um problema crescente em mais de 95% do estado, que se encontra em atenção. Mas, além de aumentar o número de leitos, o que os sistemas privado e público estão fazendo para solucionar isso? Para se antecipar a essa demanda? Para agregar valor à saúde das nossas crianças e obter melhores resultados?
Para a maioria dessas perguntas, não temos as respostas. Entretanto, de uma coisa já sabemos: para dar conta das necessidades e reduzir as filas de espera nos hospitais, a telemedicina tornou-se a nossa maior aliada. Assustados com o tempo de espera – que pode passar de três horas no pronto-socorro, cada vez mais pais têm recorrido com sucesso à consulta virtual, recebendo tratamento no tempo adequado e orientações quanto à real necessidade de ida ao hospital. O exame físico, fundamental no pilar diagnóstico e assistência médica, se tornou possível de ser realizado à distância, graças a dispositivos que permitem a telepropedêutica (coletar dados do paciente a distância), como o TytoCare. Escutar o pulmão e coração e ver o ouvido de maneira remota já é realidade, agregando um valor enorme à consulta virtual. Estudos já consideram esta opção uma alternativa segura na comparação com o exame físico tradicional.
Orientação e atenção primária são as palavras de ordem. É necessário a conscientização da população sobre a importância do acompanhamento regular dos seus filhos com seus pediatras, quanto aos sinais de alarme para procurar a emergência no tempo correto E sobre prevenção das doenças respiratórias.
A pandemia nos trouxe ensinamentos valiosos e nos mostrou a importância de mudar a forma como consumimos e fornecemos saúde atualmente. Com a telemedicina, conseguimos levar atendimento de qualidade, reduzir internações, diminuir a morbidade das doenças e transmitir carinho à distância. Limitados pela falta de espaço físico e recursos médicos, é necessário se reinventar para suprir as demandas das nossas crianças.
O futuro da nossa sociedade está pedindo por ajuda. E os bebês que estão nascendo na era mais tecnológica que já vivemos precisam justamente dela para sobreviver.