*Por Rogério Pires
A inteligência artificial não é algo novo. Existem estudos sobre a tecnologia desde a década de 1950. Mas foi só nos últimos 10 anos que ela começou a decolar, graças ao crescimento da internet, da capacidade computacional das máquinas e do surgimento do big data. Prova disso é que em janeiro do ano passado o termo não estava nem entre os 100 mais procurados no site do Gartner, consultoria de análise de mercado. Hoje, ocupa a 7ª posição e é uma das cinco prioridades de investimento para mais de 30% dos CIOs.
No setor de Saúde, a tecnologia já apresenta ótimos resultados e pode ser usada tanto na parte de diagnóstico – a mais conhecida até o momento – quanto na gestão da instituição. Com ela, é possível evitar glosas e fraudes nas operadoras, reduzir o risco de contaminação nos hospitais, otimizar a alocação de leitos e, até mesmo, melhorar o atendimento aos pacientes.
Não há dúvidas sobre o benefício da aplicabilidade da tecnologia no diagnóstico ou suporte às decisões médicas, como na identificação de tumores cancerígenos já realizada nos Estados Unidos. No entanto, a inteligência artificial pode – e deve – ser usada também para melhorar os processos nas instituições do setor, impactando diretamente no atendimento prestado aos pacientes.
Nas operadoras, por exemplo, pode ajudar na identificação de fraudes antecipadamente, evitando prejuízos. Como o pedido de autorização é realizado manualmente, na maioria das vezes, a realização de procedimentos dispensáveis ou mais caros do que o necessário passam despercebidos. Com base em comportamentos prévios, a tecnologia poderá identificá-los antes que aconteçam e negar o pedido ou sugerir um tratamento mais adequado.
A IA contribui também para um melhor controle e redução das infecções hospitalares. Atualmente, o processo de liberação e esterilização de leitos conta com uma checagem manual, que muitas vezes é deixada de lado. Com a tecnologia, esse check-list será automatizado e mostrará aos profissionais, mais claramente, o que está faltando, além de indicar o quão predisposta a instituição está diante de determinadas infecções.
A tecnologia também possibilita uma previsão mais assertiva de cancelamentos e no show de pacientes em procedimentos agendados, como consultas ou exames. Para oferecer esses insights ao negócio, a inteligência artificial analisa e correlaciona dados do hospital, como a agenda e o perfil dos usuários, e faz predições com base no histórico. O reflexo dessa mudança não impacta apenas na otimização do atendimento, mas também de toda a operação, uma vez que o agendamento é apenas a porta de entrada da instituição e o não comparecimento de um paciente afeta todo o seu andamento – desde a alocação de aparelhos e profissionais até o uso de leitos hospitalares ou cirúrgicos.
Essa, inclusive, é outra questão do setor de saúde que merece atenção e pode ser aprimorada com a adoção da inteligência artificial. A tecnologia permite uma avaliação mais profunda dos dados da instituição, como tempo de internação, doenças e previsão de alta dos pacientes. Hoje, todo esse processo é manual, o que dificulta a predição de quantos leitos estarão vagos a cada dia, e a informatização é a premissa para resolver essa questão. É ela quem permitirá um planejamento mais preciso com base na capacidade de leitos e em um melhor conhecimento sobre o tempo médio de internação de cada perfil de paciente ou doença.
Diante de tantas possibilidades, é seguro dizer que essa tecnologia impactará toda a cadeia e não só a etapa de diagnóstico. Essa contribuição será fundamental para um melhor atendimento aos pacientes, menor índice de infecções hospitalares e maior rentabilidade das instituições, sejam elas hospitais, clínicas ou operadoras de planos de saúde.
*Rogério Pires é diretor de Healthcare da TOTVS