Alunos do Ensino Fundamental (1ª a 5ª série), de cerca de 10 escolas municipais de Curitiba, serão beneficiados com uma atividade pouco convencional: oficinas de cerâmica indígena. O projeto chama-se Tauá – A Arte Indígena da Cerâmica e irá atingir com 60 oficinas mais de 2 mil crianças até julho deste ano.
Tauá significa argila em Tupi Guarani e a iniciativa, além de promover o exercício e a valorização do trabalho artesanal, visa destacar a importância, a beleza e a riqueza da cultura indígena brasileira, em especial a cultura da cerâmica. O entusiasta desta ideia e criador do projeto é o artesão, arte educador e músico Fabio Mazzon, que desde 2004 produz peças de cerâmica a partir de pesquisas de técnicas ancestrais de modelagem e decoração utilizadas por povos originais e indígenas brasileiros. Além de Mazzon, outro ministrante da oficina é o artesão e pedagogo Pietro Rosa que há anos desenvolve trabalhos com crianças, inclusive com necessidades especiais.
“A argila, como material, é um elemento natural que oferece muitas possibilidades: alimenta a fantasia, exercita a paciência, a concentração, estimula a imaginação, o espírito criador, a sensibilidade e ainda desenvolve o conhecimento cognitivo e a psicomotricidade”, destaca Mazzon. “Tendo como referência a cultura e a sabedoria dos nossos povos nativos ancestrais, decifrando mistérios, dominando técnicas e colocando as mãos na massa, as crianças terão a oportunidade de reconhecer sua capacidade de criar, reproduzir e produzir, tendo a argila como elemento para sua expressão individual”, complementa.
O formato da oficina será sempre o mesmo em todas as escolas. Os alunos serão recepcionados ao som de músicas indígenas tradicionais de diferentes etnias, tendo como ambientação um cenário composto por imagens que retratam a técnica do acordelado, técnica utilizada na oficina, comum à quase totalidade das comunidades indígenas e também peças originais de adornos e artefatos (cocar, colares, cintos, instrumentos musicais, zarabatana, cerâmicas…) confeccionados por diferentes povos indígenas (Guarani, Kaingang, Fulni-ô, Yanomami, Tikuna, Baniwa etc.) de diferentes regiões do país. As crianças serão introduzidas ao tema a partir de histórias e mitos sobre a argila e bate papo sobre a diversidade dos povos indígenas brasileiros, sua riqueza, importância e sabedoria. Cada criança confeccionará uma peça que poderá ser levada para casa. A duração da oficina é de 1 hora e 40 minutos.
Os educadores também serão beneficiados com duas oficinas onde receberão conhecimentos históricos e culturais da utilização da cerâmica pelas culturas indígenas e mundial e realizarão atividades práticas de manipulação da argila utilizando a mesma técnica de confecção, o acordelado, a fim de multiplicar as ações propostas pelo projeto.
“A possibilidade de confeccionar algo com as próprias mãos é extremamente saudável e fundamental para o desenvolvimento humano. Esse tipo de atividade não só estimula a valorização das artes manuais, mas também a criatividade e a socialização”, declara Rosa.
A cerâmica no Brasil
Existem hoje registradas no Brasil mais de 250 sociedades indígenas, cada qual com sua cultura, seus costumes, suas crenças, sua arte.
A cerâmica é muito presente nestas sociedades, faz parte da cultura material destes povos nativos e carrega significados a serviço da manutenção da tradição de cada povo e da continuidade de sua identidade. Utilizando como ferramentas gravetos, cipós, penas, pedras, sementes e principalmente as mãos, criam panelas, vasilhas, vasos, cachimbos, apitos, brinquedos, urnas funerárias, instrumentos musicais, peças que posteriormente são decoradas com pigmentos naturais como o urucum e o jenipapo.
No Brasil, a cerâmica tem seus primórdios registrados na Ilha de Marajó, no Pará. A cerâmica marajoara tem sua origem na avançada cultura indígena que floresceu na Ilha. Estudos arqueológicos, contudo, indicam a presença de uma cerâmica mais simples, que ocorreu ainda na região amazônica por volta de 5.000 anos atrás.
A confecção de artefatos em argila é um aspecto presente na maioria das comunidades indígenas brasileiras. Em algumas comunidades a cerâmica é lisa, exclusivamente utilitária, em outras, além de utilitárias, encontram-se peças decorativas nas quais sobressaltam a beleza e variedade das formas, grafismos e pinturas, como é o caso das cerâmicas Marajoara, Tapajônica, Kadiwéu e Asurini. Onde for, a cerâmica mostra-se imbuída de cultura e extremo valor, acompanhando a história e o desenvolvimento da raça humana.
Este projeto foi viabilizado por meio da LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA e FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA e conta com o incentivo do Shopping Muller.
Crédito fotos: 08/09/10/11/12: Guilherme Pupo – fotos: 02/03/04/05/06/07: Vinícius Mazzon.
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