quarta-feira, 18 dezembro 2024
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[OPINIÃO] Sementes do Futuro

A arte divinatória atende de certo modo ao desejo humano de conhecer o futuro como forma de controla-lo; desde sempre os astrólogos, magos, videntes e todos os pretendentes a enxergar através das brumas do tempo tiveram lugar garantido entre nobres e plebeus. O exemplo mais extremo é o do francês Nostradamus, que produziu uma abundante coleção de previsões, em forma de versos cifrados – a interpretação de muitas delas parece demonstrar sua acuidade, porém sempre após a ocorrência dos acontecimentos supostamente previstos, e mediante malabarismos interpretativos.

Em termos mais realistas, o futuro é imprevisível, disto todos sabemos, dado que muitos eventos, nem todos ruins, podem modificar aos poucos ou repentinamente aquilo que as vezes supomos que será nosso amanhã. No entanto, diversas variáveis do presente, relacionando-se entre si, determinariam com certa precisão algumas tendências, e a estas forças de mudança são muitas vezes denominadas Sementes de Futuro, ou seja, peças chaves na construção de cenários prospectivos: são fatos ou sinais existentes num passado recente ou até mesmo no presente que sinalizam possibilidades de novos encaminhamentos dos eventos vindouros.

Identificar estas sementes permite a elaboração de bons cenários, estar preparado para as possíveis alterações no curso dos acontecimentos, representam tendências importantes, embora sempre tenhamos que admitir algumas incertezas, ou mesmo estar de sobreaviso sobre eventuais surpresas.

No entanto, determinados aspectos da realidade atual estão suficientemente visíveis e consolidados para que consideremos tais movimentos extremamente prováveis num futuro mais próximo, e autorizando pensar em sua permanência durante ainda um bom tempo.

Como exemplo, ao que parece a população mundial continuará crescendo ao longo de todo o século XXI, embora mais lentamente nos países mais desenvolvidos que naqueles de terceiro mundo, e isso vai demandar mais água tratada, mais fontes de energia, e claro, mais alimentos, o que provocará problemas ambientais.

Em adição a isso, nos países economicamente desenvolvidos o aumento da expectativa de vida somado à baixa natalidade trará um envelhecimento populacional significativo, que pressionará a previdência social e principalmente os serviços de saúde; enquanto o crescente número de jovens dos países menos adiantados enfrentará o desafio da inserção no mundo do trabalho, principalmente se considerarmos que outro grave problema mundial é o da migração, constituída em sua maioria por jovens dispostos a oferecer sua mão-de-obra em locais diferentes de sua nacionalidade, em função de guerras, desastres ambientais ou perseguições políticas em seus locais de origem. Esta dinâmica das migrações possivelmente intensificará as desigualdades sociais, provocará novos impactos ambientais, e até algumas epidemias, pois a cobertura vacinal não é a mesma em diferentes países.

Migrações mudam também a urbanização, se a comunidade cresce mais rapidamente nas cidades que nos campos, o que parece ser tendência em todo planeta, embora em alguns – muito pobres – ainda exista boa parte da população em regiões rurais, podemos prever que megacidades, nas quais as questões como controle de resíduos, distribuição de recursos e estruturas de lazer, entre outras, tornarão a gestão sustentável pleito indispensável.
É fundamental nestas necessidades não esquecermos de incluir boas escolas, sem as quais a população não terá como auxiliar governantes e dirigentes políticos a atingirem estes objetivos.

A melhoria do sistema educacional, capacitando para o progresso social e científico, exige a urgente consolidação do ensino fundamental com qualidade, garantindo recursos humanos que possam contribuir para com a emergência da economia, a inovação e o favorecimento da ampliação de uma classe média, reduzindo a pobreza.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.  (wcmc@mps.com.br)

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