Os cerca de 700 empresários participantes do Fórum Pulire América, evento de gestão que aconteceu em Curitiba, nos dias 9 e 10 de agosto, deixaram claro que agir com ética nos negócios e não reproduzir a velha política da corrupção já não é uma questão de escolha. Para o conselheiro do Instituto Akatu de Consumo Consciente, empresário Ricardo Vacaro, a revolução tecnológica não permite mais segredos e, queiramos ou não, vivemos uma era de transparência total. “Os casos e investigações recentes, a exemplo da Lava-Jato, nos mostram que reputações podem ser destruídas facilmente, e de forma definitiva”, pontuou.
No encontro empresarial que reuniu executivos e entidades da Itália, México, Estados Unidos, Argentina e Nicarágua para discutir os motivos que mantêm o Brasil com dificuldade de atrair investimentos externos, o presidente do Conselho de Administração da Câmara Americana de Comércio Brasil e EUA – Amcham, Hélio Magalhães, disse que a incerteza e mudança constante de regras no ambiente de negócios ainda é o grande problema a ser enfrentado. “É uma questão de maturidade que o Brasil ainda não alcançou”, disse.
Ele citou o exemplo da mudança das regras do pedágio ocorrido recentemente no Paraná como fator de dano extremo. “Vocês acham que essas empresas voltam para o Brasil?”, perguntou. Magalhães disse ainda que na campanha eleitoral, é muito importante observar o extremo risco gerado por candidatos que propõem, por exemplo, mudanças nas regras trabalhistas recém-aprovadas no Congresso e anular leilões de privatização.
Em sete painéis foram discutidos, em dois dias, os temas de maior importância no cenário econômico, desde tecnologia e inovações para o setor de facilities a conceitos como ética e dignidade e o impacto que têm em todo espectro do cenário econômico brasileiro. O que trouxe as eleições brasileiras para o centro dos debates e a necessidade de mudanças no quadro político brasileiro. Na abertura do encontro, o presidente da Fundação de Asseio e Conservação do Paraná (Facop), Adonai Arruda, lembrou a importância do setor para o cenário político e econômico e destacou que ele é o segundo maior empregador brasileiro de mão de obra, responsável por mais de 2,3 milhões de empregos – um milhão deles ocupados por mulheres.
O presidente do World Trade Center – WTC para o Sul do país, Josias Cordeiro da Silva, ressaltou o impacto da ética e da dignidade nos negócios é enorme e vai além da questão moral; impacta mesmo nos resultados econômicos. O empresário citou o exemplo da decisão do maior fundo de investimentos do mundo, o Black Rock, que administra US$ 1 trilhão, em investir apenas em empresas que aplicam os conceitos de sustentabilidade e implementam ações de impacto social.
Ética
“A questão da ética é geral para todos e suas regras não mudam”, avalia Toni D’Andrea, criador do Fórum Pulire, que se realiza há 8 anos em Milão e agora, pela primeira vez fora da Europa, foi trazido a Curitiba pela Fundação de Asseio e Conservação do Paraná (Facop), entidade dedicada à qualificação dos trabalhadores do setor de higiene e facilities. Neste momento em que se discute a corrupção em nível mundial, é tão ou mais importante que seja discutida quanto melhorias para o mercado que representam.
O diretor-executivo da Associação de Fabricantes Italianos de Produtos, Máquinas e Equipamentos para Limpeza Profissional (Afidamp), D’Andrea também é diretor-gerente da Pulire, plataforma internacional de comércio integrado da indústria de limpeza. O executivo aposta no exercício coletivo da inteligência para melhorar a sociedade e criar perspectivas para o bem-estar. O setor de higiene e facilities emprega 1,6 milhão de pessoas no Brasil, grande maioria delas de baixa escolaridade.
Disparidades
O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, apresentou números da desigualdade de renda no Brasil e no mundo e afirmou não ser possível ter empresas sustentáveis num mercado tão desigual. Chamando os empresários presentes à responsabilidade, especialmente nas próximas eleições, mostrou dados que revelam que os cinco brasileiros mais ricos detêm renda equivalente a 50% da população de todo o país. E no setor financeiro, onde a renda é mais concentrada, a diferença salarial nos Estados Unidos, por exemplo, chega a 70 vezes, enquanto no Brasil é de nada menos que 700 vezes.
Num cenário caótico e de grandes e rápidas mudanças, a educação foi tratada no evento como a chave para o sucesso dos negócios. Num painel mediado pela jornalista Lea Lobo, criadora e diretora da revista Infra, a coach mexicana consultora de empresas como a Michelin e Sears, Gilda Pérez, mostrou a importância do conceito de felicidade para o bom funcionamento de uma empresa. Segundo ela, é necessário criar culturas organizacionais focadas no bem-estar de toda a hierarquia, desde a direção ao chão de fábrica, como um caminho para o sucesso empresarial.
O presidente do Conselho de Administração da Amcham, Hélio Magalhães
Foto: Guto Lavigne