[OPINIÃO] O país do futuro

Stefan Zweig, escritor austríaco que morou no Brasil nos anos 1940, foi o autor de uma definição otimista sobre o país, que se tornou mote nas décadas seguintes: o país do futuro. Muito utilizado pelos defensores do desenvolvimentismo a que parecíamos destinados na época, é repetido até hoje, como se constituindo nossa missão ou então maldição, pois tudo parece estar mais à frente, para algum dia.

Embora pesquisas recentes demonstrem que até a educação nos mais caros e exclusivos colégios e instituições superiores brasileiros estejam deixando a desejar, a verdade em nosso país de forma geral sempre foi a da enorme disparidade entre a educação oferecida àqueles capazes de pagar mensalidades muito altas, e os demais, seja a classe média com seus colégios mais acessíveis seja a extensa camada que não tem a menor condição de dispender qualquer valor com estudos, e dependem da escola pública – que deveria, claro, ser tão boa quanto as melhores.

Porém, voltando à dura realidade, e fora as raras exceções de praxe, não é o que acontece, apesar das altas taxas de impostos que pagamos para que isso fosse possível: nossas escolas revelam profundas heterogeneidades, desde aquelas com professores leigos em salas multiseriadas de alguns rincões, até as de recursos tecnológicos de ponta e docentes extremamente qualificados.

O que se observa é que apenas um bom processo educativo poderá consolidar e ampliar a classe média, e inovação é a chave. A escandalosa, e cada vez maior, dicotomia entre pessoas que vivem na extrema pobreza e alguns poucos multibilionários que possuem patrimônios e renda superiores aos de muitos países, atribuída à desigual expansão econômica, são problemas a pedir solução urgente e dependem de melhoria educacional em todos os níveis de ensino, e mais aflitivamente na educação básica.

Ambos os extremos econômicos são nefastos à sobrevivência da raça humana; a transição demográfica para um novo perfil da população é indispensável, incrementando a proporção daqueles com faixa média de renda, mais acesso aos bens de consumo, desde que com equilíbrio, e ascensão feminina mais acentuada ao mundo do trabalho. Mulheres ainda poderiam contribuir mais nos empreendimentos, nas artes, na ciência.

Como toda a sociedade tende ao envelhecimento, dado que ocidentais tem cada vez menos filhos, e a proporção de idosos aumenta em relação aos em idade de desempenho profissional produtivo, um bom projeto de requalificação profissional é também necessário, permitindo acesso a novas áreas de atuação ou modernização técnica que permita a continuidade no mundo do trabalho.

A própria democratização, com crescimento das liberdades individuais, maior isonomia e igualdade dos direitos, faz pressão por melhor qualidade de vida, e certamente um bom sistema educacional é condição inerente ao atingimento destes objetivos. Os avanços na tecnologia da informação podem levar à falsa sensação da inutilidade das escolas, que, defasadas não conseguem responder às demandas atuais de renovação comunitária.

Tais tecnologias modificam as características de todo o mercado e as formas de estruturação dos modos de produção, da forma como as pessoas se relacionam e do que fazem em seu tempo livre, e pouco temos feito para dominá-la através do sistema educacional.

Assim, o futuro desperta inquietação, cheios de dúvidas quanto ao porvir pouco fazemos no presente para alterar esta situação. Um permanente estado de devir não se mostra propício ao alcance de objetivos.

Sem o conhecimento da Escola de Sagres, as navegações portuguesas não teriam tido sucesso, um novo mundo teria demorado bem mais para se descortinar. Na maioria dos países o investimento na educação deu bons frutos, em época pré-eleitoral é bom estarmos conscientes disso.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

 wcmc@mps.com.br

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