Celso Hartmann
Humilhaรงรฃo talvez seja a palavra que melhor define a sensaรงรฃo que sentimos quando temos que – forรงosamente – admitir que estamos errados. Estudiosos do assunto afirmam que isso acontece porque, naturalmente, enxergamos o erro como sinรดnimo de incompetรชncia e acreditamos que pessoas bem sucedidas nunca erram. De onde vem essa crenรงa? Em que momento de nossas vidas passamos a enxergar as coisas dessa forma? Se voltarmos no tempo e recuperarmos a maneira como as geraรงรตes anteriores eram ensinadas, vamos notar que a raiz desse pensamento pode ter brotado dentro das escolas. Professores costumavam – e alguns ainda insistem nisso – ensinar que existia apenas uma resposta certa para cada questรฃo apresentada. Quem nรฃo conseguisse chegar ao resultado apontado pelo mestre, falhava – e ponto final. Aquele que respondesse da forma esperada, ganhava pontos e a admiraรงรฃo de todos.
Tal constataรงรฃo nos leva a refletir que, desde cedo, somos programados a nรฃo permitir que o erro aconteรงa, quando, na verdade, o correto seria sinalizar para crianรงas e jovens que todos tรชm a permissรฃo de errar – nรฃo para transformar o erro em hรกbito, mas como parte de um processo natural de aprendizado que comeรงa na escola e se estende para a vida. Entre os desafios diรกrios que lรญderes enfrentam ร frente de uma equipe, organizaรงรฃo ou paรญs talvez um dos mais difรญceis seja aprender a lidar com os prรณprios erros. Quantos gรชnios e prรชmios Nobel erraram antes de acertar? Precisamos aceitar, sem resistรชncias, que cometer erros faz parte da natureza humana. Aprender a enxergรก-los de maneira positiva รฉ o primeiro passo para errar cada vez menos.
Vamos agora voltar nossa reflexรฃo para o contexto escolar e as crianรงas. O processo de desenvolvimento infantil envolve aprender e isso sรณ se concretiza quando a crianรงa tem a oportunidade de experimentar e descobrir. O que pais e educadores precisam ter em mente รฉ que, de inรญcio, รฉ normal e atรฉ esperado que ela nรฃo acerte e nรฃo consiga ter รชxito em suas tentativas. E a forma como as primeiras falhas sรฃo encaradas รฉ que serรก determinante para o sucesso futuro. Tomemos como exemplo a matemรกtica. A resistรชncia em relaรงรฃo ร disciplina vem da crenรงa de que รฉ difรญcil demais e nรฃo รฉ qualquer um que consegue ser bem sucedido na resoluรงรฃo das questรตes e conceitos matemรกticos. E como, culturalmente, temos o receio de errar, a reaรงรฃo natural รฉ resistir ou fugir da matรฉria.
Nรฃo por acaso, o Programa Internacional de Avaliaรงรฃo dos Estudantes mostrou que em 2016 o Brasil ocupava a 66ยช colocaรงรฃo no ranking que avalia o desempenho dos jovens em matemรกtica – a colocaรงรฃo mais baixa alcanรงada pelo paรญs nas รบltimas cinco ediรงรตes do programa. Mas, e se os alunos perderem o medo de errar? Podemos, com certeza, melhorar essa realidade. O PED Brasil, um programa desenvolvido na Universidade de Stanford em parceria com o Centro Lemann, propรตe novas abordagens para o ensino da disciplina, mostrando o quรฃo produtivo pode ser o aprendizado quando o erro รฉ tratado em sala de aula como algo positivo. Sim, positivo! Afinal, รฉ possรญvel aprender muito mais com o erro do que com o acerto. Quando erramos, ficamos alerta, tentamos descobrir onde foi que erramos e o que รฉ necessรกrio para acertar na prรณxima vez. Portanto, fica aqui um convite para pais e educadores: vamos ajudar nossas crianรงas e jovens a enxergarem no erro uma oportunidade para fazer sempre mais e melhor?
* Celso Hartmann รฉ diretor-geral do Colรฉgio Positivo.