Acedriana Vogel*
As oportunidades que a vida moderna oferece hoje para as famílias fazem com que a grande maioria dos pais comece a criar, cada vez mais cedo, agendas intensas com atividades e compromissos para seus filhos. Percebemos, muitas vezes, certa ansiedade dos pais que querem preencher, o quanto antes, todo o tempo livre dos filhos. A intenção é sempre a melhor possível. Num mundo conectado e altamente competitivo, há pais com receio de que seus filhos fiquem em desvantagem em relação a outras crianças se não tiverem acesso aos conservatórios de música, aulas de gastronomia e robótica ou outras atividades intelectuais, artísticas e esportivas. O resultado disso pode ser desastroso: crianças com uma agenda sobrecarregada, capaz de gerar um stress emocional que mais paralisa do que ativa sua capacidade de se apropriar do mundo que a cerca.
Não é o caso aqui de condenar as atividades complementares, longe disso. O que precisamos colocar em discussão é o verdadeiro papel dessas atividades na formação das crianças e jovens. Se bem dosadas, essas atividades podem, inclusive, mudar o futuro de um indivíduo, ajudando-o a descobrir talentos que nem sempre a escola consegue dar a devida atenção, em virtude do tempo que dispõe. Vale lembrar aqui que boa parte dos países do mundo investe na educação básica de período integral. Isso também reforça o fato de que fazer aulas para além do currículo escolar regular, dentro ou fora da escola, é uma forma de aprimorar as diferentes competências das crianças, facilitando o trabalho de autoconhecimento e de escolha da carreira, no futuro.
Para que essas aulas extras não demandem apenas dinheiro e tempo de pais e filhos, e tragam benefícios concretos, é preciso tomar alguns cuidados na hora de definir o curso ou atividade, levando em conta o perfil da criança. Não basta apenas escolher para o seu filho o esporte da moda ou aquela atividade que o melhor amigo dele está fazendo ou, pior, aquela cujos horários sejam mais convenientes para nós, adultos. É comum vermos pais em busca de completar a agenda dos filhos com a intenção apenas de preencher os dias da criança a fim de ocupá-las. E desculpa mais ouvida é a de “aproveitar” bem o tempo. E aí, acabam definindo de forma aleatória o que a criança ou o adolescente vai fazer. Ao escolher o que eles vão praticar enquanto não estiverem na escola, a prioridade dos pais deve ser responder à seguinte pergunta: quais os verdadeiros interesses do meu filho? A principal parte interessada nessa história é a criança – e, por isso, ela deve ser considerada e co-responsabilizada nessa escolha.
É preciso prestar atenção na criança, incluindo seus interesses e necessidades na definição da sua agenda semanal. Somente assim ela poderá ser cobrada pelas suas responsabilidades e entregas. Observamos com frequência que, quando permitimos que elas participem das escolhas, há um envolvimento maior e um melhor aproveitamento. O que acaba criando oportunidades reais de desenvolvimento de habilidades que poderão fazer a diferença no futuro pessoal e profissional desse estudante. Por fim, para definir uma agenda de atividades extracurriculares é preciso ter em mente que a diferença entre o remédio e o veneno é somente a dosagem! Se, nem mesmo nós, adultos, conseguimos lidar bem com uma agenda sobrecarregada, que dirá crianças que precisam, entre outras coisas, continuar a serem crianças. Com tempo livre para o cultivo da curiosidade, das descobertas e do descanso necessário para o crescimento saudável. Portanto, escolha junto com o seu filho o que ele irá fazer ao longo do ano, garantindo uma agenda e rotina que o permita aprender e evoluir mas também brincar e encarar a vida com a leveza e encantamento essenciais para essa fase da existência.
*Acedriana Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo.