Cleia Farinhas*
Ao mesmo tempo em que constatamos que a facilidade de acesso à informação pode ser um ativo importante para impulsionar as pessoas em direção ao conhecimento, nos deparamos com notícias como as do Censo Escolar da Educação Básica 2017, que mostram uma preocupante redução no número de alunos matriculados no Ensino Médio, fato que nos leva a algumas reflexões sobre o papel da escola nesse cenário. O levantamento, divulgado pelo Ministério da Educação, aponta que 1,5 milhão de jovens ficaram fora da sala de aula no ano passado. A imensa – muitas vezes, até incontrolável – oferta de informação online derrubou por completo a barreira que separava o indivíduo da informação e do conhecimento construído histórica esocialmente. Hoje em dia, qualquer pessoa pode aprender sobre qualquer assunto de seu interesse. Basta procurar para encontrar conteúdos impressos, digitais, gratuitos ou pagos. Diante disso, vemos um número muito alto de estudantes que acabam desistindo da escola nos últimos anos da Educação Básica.
O que aconteceu com a curiosidade, a vontade ou a necessidade tão humana de aprender pelas vias formais?Por que jovens, que deveriam estar cada vez mais entusiasmados diante de tantos incentivos, simplesmente parecem “desistir de aprender na escola”? Sabemos que fatores sociais e econômicos podem interferir – emuito – no caminho para a escolaridade, mas somente isso não basta para fechar essa questão. Precisamos analisar o problema, lançando um olhar crítico sobre a forma como a educação vem se sustentando ao longo dos anos e o modelo de escola que oferecemos aos nossos estudantes. É certo que a educação formal etradicional, que historicamente coloca o professor como protagonista e detentor absoluto dos conhecimentos, já não funciona para as novas gerações, acostumadas a obterem o que querem com apenas um click no mouse ou uma deslizada de dedo pelo celular. Fato é que a internet expandiu os horizontes e fez surgir, por força das circunstâncias, uma dinâmica diferente entre quem ensina e quem aprende.
Escolas e educadores que já perceberam essa mudança adaptam-se continuamente revendo seus papéis eatuando para construir uma escola mais inclusiva no que tange a metodologias e recursos de gestão de aprendizagem, sem esquecer de mobilizar a curiosidade e o apreço pelo aprender em um ambiente desafiador, sem perder o acolhimento. Uma boa dose de espanto e incredulidade pode influenciar positivamente a postura do estudante. Pensada sob essa perspectiva, a escola ajuda a criar o interesse por meio de um processo – às vezes árduo, sabemos – de parceria entre os professores, alunos e suas famílias. É preciso assumir o compromisso de estar junto – e não à frente ou acima. Cabe a nós, professores, ajudar a construir pontes que aproximem cada vez mais crianças e jovens do conhecimento. Como fazer isso? Estimulando os meninos emeninas na busca por respostas a perguntas que não necessariamente tenham relação com o conteúdo de sala de aula. É preciso fazer com que ele se sinta desafiado a alçar voos longos – e o lugar certo para essa trajetória ser iniciada é a escola, que deve ser vista pelos alunos como um espaço permanente de acolhimento de pessoas e ideias.
Aprender depende, principalmente, de motivação e atitude. O estímulo surge quando algo nos provoca, incentiva e mobiliza. E tal mobilização pode ser conquistada quando se conseguir transformar a escola em um lugar que alimente o sonho e incentive a criação de um projeto maior, para a vida. Só assim nossos estudantes conseguirão se concentrar e enxergar que todo esse processo de construção do conhecimento vale, de fato, a pena.
*Cleia Farinhas, gerente pedagógica da Editora Positivo.