Expedição analisa qualidade da água do Iguaçu e mobiliza sociedade em defesa do rio

A Fundação SOS Mata Atlântica inicia nesta terça (9), em Curitiba, uma expedição técnica que percorrerá o rio Iguaçu – desde sua formação, no encontro dos rios Iraí e Atuba, em Curitiba, até a  foz no rio Paraná, na tríplice fronteira em Foz do Iguaçu. Durante 10 dias, a ONG analisará a qualidade da água de um dos corpos d’água mais importantes do Brasil, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, no trecho protegido pelo Parque Nacional do Iguaçu e que forma as Cataratas do Iguaçu. Além de analisar a água nos 19 pontos de coleta, a equipe da expedição irá ouvir as comunidades locais, especialistas e lideranças que convivem com o rio e seus afluentes e que promoveram, em anos anteriores, expedições ao longo da bacia hidrográfica.

Para o lançamento, a ONG realizará um encontro técnico, às 10h, na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, em parceria com a Comissão de Meio Ambiente, com participação dos grupos de monitoramento da qualidade da água do projeto Observando os Rios no Paraná. Patrocinado pela Ypê, o projeto conta com mais de 3.500 voluntários que analisam, mensalmente, a qualidade da água de rios nas bacias do bioma Mata Atlântica, que abrange 17 estados do país. Ao fim da expedição, previsto para o dia 19 de outubro, a SOS Mata Atlântica reunirá parceiros locais, especialistas e gestores de Unidades de Conservação da bacia do Iguaçu e do Parque Nacional do Iguaçu em uma navegação na região onde nascem as Cataratas do Iguaçu.

O objetivo da expedição é mobilizar a sociedade e autoridades para a urgente necessidade dos países e, em especial do Brasil, assumirem compromissos e metas efetivas de melhoria da qualidade da água dos rios, córregos e mananciais das bacias brasileiras e das bacias transfonteiriças, como o rio Iguaçu – de grande importância internacional e estratégica para o Brasil, Argentina e Paraguai. Além disso, a SOS Mata Atlântica quer chamar a atenção para as enormes ameaças e agressões que o rio tem sofrido no trecho brasileiro, desde sua formação na região metropolitana de Curitiba, até a foz.

“O Iguaçu é um emblemático rio brasileiro que, a exemplo de tantos outros, sofre com seus usos por vezes conflitantes. Falta de saneamento, diluição de esgoto, desmatamento que leva ao assoreamento, recepção de agrotóxico, barramentos para geração de energia e exploração de minérios contrastam com as necessidades cada vez maiores de acesso à água de boa qualidade, para abastecimento humano, dessedentação de animais, produção de alimentos, esporte, lazer, turismo e contato seguro. Identificar estes cenários, a condição atual do rio,  seus atores e histórias e que rio as comunidades e a sociedade querem para o futuro é a intenção desta expedição“, afirma Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica.

A ausência de uma norma internacional de qualidade da água para os países do Cone Sul, a exemplo de normas adotadas pela Comunidade Europeia, permite ameaças e retrocessos legais, como a pretensa intenção de órgãos gestores do Estado do Paraná de rebaixar o enquadramento do Rio Iguaçu de classe 2 para classe 4. Esse rebaixamento do rio para a classe 4 praticamente condena o Iguaçu à morte, pois permite que suas águas sejam utilizadas para diluição de poluentes, sem limites. Essa liberação faz com que rios percam qualidade, ficando cada vez mais poluídos e indisponíveis para usos da sociedade e atividades econômicas.

A partir do dia 9, quando se inicia o roteiro ao longo do Iguaçu, a ONG realizará as análises, estudos e entrevistas com moradores dos municípios por onde a equipe passar. A ONG fará a coleta da água em 19 pontos, com um intervalo de 40 km entre eles.

Metodologia de análise
Para análise da qualidade da água durante a expedição a Fundação SOS Mata Atlântica e os especialistas do projeto Observando os Rios e do Laboratório de Índice de Poluição Hídrica da Universidade de São Caetano do Sul verificarão os Indicadores de Qualidade da Água (IQA) estabelecidos no Brasil por meio de norma legal (CONAMA 357) contemplando o levantamento de indicadores físicos, químicos, biológicos, bacteriológicos e de metais pesados.

Sobre o Observando os Rios
O programa surgiu em 1991, com uma campanha que reuniu 1,2 milhão de assinaturas em prol da recuperação do Rio Tietê e originou o primeiro projeto de monitoramento da qualidade da água por voluntários, o “Observando o Tietê”. Para agregar outras bacias hidrográficas, a iniciativa foi ampliada e passou a se chamar “Observando os Rios”. Nessa fase, com o patrocínio da Ypê e Coca-Cola Brasil, o projeto conta com 3,5 mil voluntários que monitoram 230 rios nos 17 estados da Mata Atlântica 17 estados do bioma Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo –, e Distrito Federal.

sosmataatlantica@maxpressmail.com.br

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