Estamos no Novembro Roxo, mês eleito para falar sobre a prematuridade. Apesar dos avanços da medicina neonatal, o número de partos que ocorrem antes que a gravidez complete 37 semanas ainda é alto. São cerca de 340 mil por ano, em todo o mundo. Uma das consequências de nascer antes do tempo previsto é o aumento do risco de apresentar crises epiléticas neonatais (CEN).
De acordo com estudos, peso abaixo de 1,5 kg é um importante fator preditor das crises epilépticas em prematuros, sendo a incidência seis vezes maior quando comparada aos bebês que nasceram a termo, ou seja, após 37 semanas de gestação.
Segundo a neuropediatra Dra. Andrea Weinmann, especialistaNeurofisiologia e Eletroencefalografia, as crises epilépticas são mais comuns após o nascimento (período neonatal) do que em qualquer outra fase da vida. “Chamamos de período neonatal os primeiros 28 dias após o nascimento nos bebês nascidos a termo e até as 44 semanas de idade gestacional nos bebês prematuros (pré-termos)”, comenta.
Cérebro de prematuro é mais vulnerável
A neuropediatra explica que o cérebro de um bebê prematuro é mais vulnerável. “Isso porque além de não ter a proteção do ambiente intrauterino, está mais sujeito a sofrer lesões que os bebês que nascem a termo, sem contar a imaturidade do cérebro, que é comum em todos os bebês recém-nascidos”, diz.
Algumas lesões cerebrais aumentam o risco de desenvolver as crises epiléticas neonatais. “Nos bebês prematuros, especialmente naqueles que nascem antes de 32 semanas de gestação, as crises epiléticas são mais frequentemente associadas a uma lesão cerebral aguda, como a hemorragia intraventricular. Nos demais, a causa mais comum é encefalopatia isquêmica hipóxica”, cita Dra. Andrea.
A encefalopatia isquêmica hipóxica é uma síndrome neurológica relacionada, na maioria dos casos, à asfixia perinatal ou a condições que cursem com hipoxemia (falta de oxigênio), isquemia (restrição da circulação sanguínea) ou acidose, antes ou durante o parto. Uma das consequências desta síndrome são as crises epiléticas.
Detecção precoce é crucial
O diagnóstico das crises epiléticas neonatais nos prematuros pode ser desafiador. “Isso acontece porque, em muitos casos, as convulsões acontecem sem sinais clínicos aparentes, porém podem ser detectadas no eletroencefalograma (EEG). Entretanto, mesmo no EEG, é preciso um profundo conhecimento, já que a atividade cerebral varia muito de acordo com a idade gestacional”, comenta Dra. Andrea.
“Os sinais das crises epiléticas nos recém-nascidos podem ser sutis, além do fato de que os bebês podem apresentar movimentos que imitam uma convulsão. Isso é agravado quando o bebê é prematuro, principalmente quando permanece sedado e sob ventilação mecânica, por exemplo. Esses aspectos podem mascarar os sintomas clínicos das crises epiléticas”, cita a especialista.
Monitoramento constante
Os recursos da medicina neonatal são imprescindíveis para os bebês prematuros. Além do acompanhamento do bebê por um neuropediatra na UTI neonatal, há necessidade de monitoramento da atividade cerebral por meio do EEG de forma constante.
“Infelizmente, a presença de atividade convulsiva ao nascimento está associada a problemas no neurodesenvolvimento, assim como a uma maior taxa de mortalidade. Entre algumas sequelas, podemos citar condições como paralisia cerebral, microcefalia, deficiência auditiva, visual, problemas cardíacos e epilepsia pós-natal”, explica Dra. Andrea.
Prevenção
A prevenção ainda está fortemente ligada à gestação. Ou seja, é preciso adotar todos os cuidados durante a gestação para evitar que o bebê nasça antes do tempo previsto. Felizmente, hoje cerca de 80% dos prematuros sobrevivem.
“Por outro lado, é preciso se preocupar com as sequelas ou morbidades associadas à prematuridade, como as crises epiléticas e demais lesões cerebrais. Por isso, o papel do neuropediatra é essencial, tanto na maternidade, quanto ao longo da vida, no acompanhamento do desenvolvimento dos prematuros”, encerra Dra. Andrea.
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