Aprovado pelo Conselho Nacional de Educação que escolas poderão ofertar à distância até 20% do ensino médio diurno, até 30% do ensino noturno e até 80% da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também sancionado: embora não obrigatoriamente utilizando uma parte de seu conteúdo programático de forma virtual, o oferecimento do ensino médio terá uma formação comum em todo o país, definida pela chamada Base Nacional Comum Curricular e também uma formação específica, que poderá ser em linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico, qualquer uma delas podendo ser realizada à distância.
A decisão é polêmica, pois muitos defendem o direito à convivência presencial, aparentemente indispensável à boa formação para a cidadania e mesmo estabilidade emocional do jovem, e com grande possibilidade de prejudicar a qualidade de ensino caso oferecida sem conhecimento técnico e pedagógico adequado, supervisão deficitária ou inexistente.
A educação à distância parece funcionar tanto melhor quanto mais maduro o educando, pois disciplina e capacidade de concentração são atributos indispensáveis à efetividade deste tipo de programa de aprendizagem. Assim, em cursos de especializações, mestrado e doutorado costuma trazer bons resultados, pela experiência em pesquisa e capacidade de organização do tempo dedicado aos estudos e ao lazer, além de outras demandas existenciais.
Com certeza no ensino médio, em razão da faixa etária usual dos estudantes, tal dificuldade tenderá a ser muito maior, resistir aos chamados de amigos para passeios, ou simplesmente gastar muito tempo em celulares e outros equipamentos como tablets, televisão, jogos em computadores sempre será difícil quando as premências da vida ainda não ensinaram a dividir corretamente a atenção entre o necessário e o prazeroso. É indispensável uma metodologia de ensino e um planejamento das atividades bem elaborados para prender a atenção do estudante, uma internet segura e estável que não desestimule – mesmo adultos tendem a desistir quando o sistema “cai” frequentemente ou reage com muita lentidão – o que mesmo em grandes centros não tem sido usual em escolas de periferia, ou seja, exatamente aquelas onde esta modalidade substituiria professores capacitados que dificilmente poderiam ser contratados.
A mistura gradativa de aulas presenciais e virtuais é recomendável para que a parcela a ser implantada possa ser feita com alguma segurança sobre os itens desenvolvidos, sempre mutáveis conforme a região, pois o que realmente interessa a determinada comunidade pode não ser atraente para outra.
Algumas regiões brasileiras acostumaram-se a utilizar um sistema de apoio aos docentes, com as prefeituras adquirindo livros contendo CDs ou pen drives com propostas didáticas, listas de exercícios, filmes a serem projetados, discussões dirigidas, sequência de assuntos em ordem crescente de complexidade, que reduzem bastante a interferência do professor no processo, bastando seguir os passos previamente estabelecidos. Embora destinados a suprir carências na formação docente, em alguns casos produziram aulas robotizadas, com o aluno indiferente a um tutor que somente efetua leitura, sem alma e comprometimento.
Assim, o receio é de que apenas tenhamos uma nova proposta na educação à distância, dentre muitas já feitas, dado que o Brasil é um dos países campeões do mundo em propostas educativas, enquanto outros apenas investem na alta qualidade daquilo que se faz desde muito tempo, porém aperfeiçoando cada vez mais a educação continuada dos docentes e os laboratórios didáticos, o que permite aulas teóricas, com metodologias ativas ou tradicionais, amparadas por bom acervo nas bibliotecas e atividades escolares ou de campo sob supervisão docente. A tudo isso, agregue-se o interesse, acolhimento e amor pelo ensino de um bom professor, e a fórmula será quase infalível.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. wcmc@mps.com.br