[ARTIGO] Modelos

Toda educação está ligada intrinsecamente ao conceito social do que são crianças – ou jovens – e sua socialização no processo pelo qual assumem as normas, elaboram e apreendem os valores de suas comunidades, e em particular de suas próprias famílias.

A isso denominamos cultura, pois a criança vai refletir seu entorno, e poucas conseguem não se transformar no espelho de sua vizinhança, emulando seus modos, seu linguajar, sua forma de vestir e portar-se diante dos demais. Assim é que, de forma geral, pais que leem muito terminam fazendo de seus filhos bons leitores, pois a visão de adultos em frequentes leituras fará a associação do gesto com o prazer, e a própria teoria da aprendizagem ressalta a importância, na passagem do que não se sabe para aquilo que se sabe, da imitação.

A aprendizagem da fala, do movimento, dos hábitos, tudo aquilo que se faz hoje com a colaboração de outros é o que poderemos fazer sozinhos num futuro próximo. Não se aprende a pular antes de andar, de controlar o equilíbrio, e exige ensaio, ou seja, aprende-se mentalmente e desenvolve-se depois, e sempre será um adulto (ou alguém com mais idade) que mostrará como.  Mesmo aqueles capazes de inovar, primeiro dominaram o comum, o que todos fazem, para sobre isso criar algo novo; por isso, bons modelos são fundamentais, indispensáveis quando pretendemos que cidadania seja um dos aspectos característicos da população.

Qualquer organização, empresarial ou escolar, mas principalmente esta última, não pode esquecer que muitas vezes a satisfação dos seus usuários – clientes no primeiro caso, pais e alunos no segundo, passa antes pela satisfação dos seus colaboradores; e que a complexidade dos relacionamentos entre pessoas é consequência natural da própria complexidade humana.

Quando pais e alunos têm orgulho da instituição escolar, estão mais predispostos a elogiá-la e colaborar com ela, e esta boa convivência é tão importante quanto operar tecnicamente nas diferentes profissões existentes dentro dela e, embora em proporções distintas, uma é interligada à outra.

O sucesso das interações parece ligado a dois aspectos interdependentes: a característica de personalidade de cada um dos envolvidos, e consequentemente, as lentes de percepção social que utilizam para o contato com os demais.

Não tem sido constante que processos de interação sejam realizados através de boa cooperação, comunicação eficaz, respeito e empatia, pois as diferenças individuais de opinião, sentimentos e percepção, atitudes e posturas, valores e crenças estão extremamente acirradas em nosso país. Como pessoas interagem com o ambiente em que vivem, é daí que extraem seus modelos de vida e modos de portar-se, introjetando as políticas, os contratos verbais ou formais, procedimentos, possibilidade de atingir novas metas, e outros itens que incidem sobre o comportamento. Comunicação vai além do que falamos: o tom da voz, sua amplitude e velocidade muitas vezes passam mensagens mais poderosas que o próprio conteúdo que queremos transmitir.

As teorias da racionalidade, que passamos a construir ao final do século XIX com a ascensão das técnicas de gerenciamento e dos conhecimentos psicanalíticos, visavam controlar as emoções, impedindo que demonstrássemos frustrações, raiva, amor, ódio, alegria; emoções de qualquer tipo poderiam ser destruidoras e interferir na execução de um trabalho ou num bom relacionamento.

No entanto, quando desejamos comprometimento, seja entre pais e filhos, entre professores e alunos, jovens ou profissionais de uma empresa entre si, a melhor estratégia é oferecer um ambiente em que possam criar, inovar, influenciar mudanças e crescer pessoal e profissionalmente: emoções afloram e precisamos aprender a controla-las e viver com elas.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. wcmc@mps.com.br

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