Brasil está entre nações que mais adotaram estratégias para conservação de baleias

Brasil está entre nações que mais adotaram estratégias para conservação de baleias
As baleias são responsáveis por garantir equilíbrio ambiental, atuando como indicadores ecossistêmicos | Créditos: Skeeze/Pixabay

O Brasil proíbe a caça comercial de baleias desde 1986, sendo uma das nações pró-conservacionistas mais ativas na proteção desses mamíferos marinhos. Participante da Comissão Internacional da Baleia (CIB), em 2018 o país teve um papel importante ao propor a “Declaração de Florianópolis”, a qual restringe ainda mais a caça destes animais em águas internacionais. O posicionamento foi um dos gatilhos que fizeram o Japão abandonar a CIB em 2019, gerando uma preocupação na conservação das baleias.

Para entender este cenário, desde 1986 a Comissão mantém uma moratória internacional que proíbe a caça comercial de baleias, assim como restringe a caça para pesquisa e a caça aborígene de subsistência, realizada por países como Groelândia, Islândia e Noruega. Essa restrição é feita por meio de cotas pré-estabelecidas, que levam em conta o número total aproximado de animais da população, estipulando uma quantidade sustentável de retirada, que não coloque a espécie em risco. Contrário à proibição, o governo japonês anunciou a saída da CIB para retomar a caça comercial de baleias em 2019, restringindo as ações à zona econômica exclusiva do Japão.

De acordo com a bióloga Camila Domit, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, a decisão do Japão preocupa os pesquisadores que trabalham em prol da conservação dos mamíferos marinhos por afetar animais de todo o mundo. “Nós sabemos que as espécies de baleias são, em grande parte, migratórias. Ou seja, a retirada de indivíduos, mesmo que seja na zona econômica exclusiva e nas águas do território japonês, gera uma perda de animais que fazem parte de populações globais, afetando o ecossistema marinho mundial”, destaca.

A bióloga explica que a retirada gera um impacto instantâneo devido ao contraste na quantidade de mortes e nascimentos. “É realmente preocupante quando a gente vê uma intenção de caça desses animais porque, independentemente de serem populações que já se recuperaram da época das caças em larga escala, entre as décadas de 1950 e 1970, eles são mamíferos marinhos que demoram no mínimo de 6 a 8 anos para começarem a fase reprodutiva e só se reproduzem a cada 3 anos, com um filhote por vez. Então, a taxa de recuperação é muito lenta e a retirada, se excessiva, causa um dano muito rápido de declínio populacional”, afirma.

A previsão do Japão é de que a caça comercial seja retomada a partir do dia 30 de julho deste ano. A decisão foi justificada com o argumento de que a Comissão Internacional da Baleia (CIB) não garantiu um equilíbrio entre a preservação dos estoques de baleias e o desenvolvimento da indústria. O assunto foi discutido no Brasil, em setembro de 2018, durante a Conferência Global e o parecer foi divulgado em dezembro.

Na mesma ocasião, o Brasil propôs duas ações em prol da conservação das baleias: a Declaração de Florianópolis e o Santuário do Atlântico Sul. A primeira, aprovada, reforça a moratória de caça de baleias, estendendo a proibição que era específica à retirada de animais com fins comerciais para a caça com fins científicos. O documento apresentado pelo Brasil, que foi defendido por outras 40 nações, declara a existência de outros métodos de pesquisa não-letais, que contribuem com a proteção das baleias. A partir da aprovação, todos os países participantes da CIB estão proibidos de praticar a caça, com exceto as nações que a usam com fins de subsistência.

A segunda proposta liderada pelo Brasil, junto com países da América Latina e da África, foi a criação do Santuário do Atlântico Sul, que consiste na criação de uma área de proteção às baleias localizada no Oceano Atlântico Sul. O local manteria apenas atividades voltadas para o turismo sustentável e para a pesquisa de mamíferos marinhos, protegendo assim 51 espécies de baleias e golfinhos. Porém, a iniciativa, que vem sendo discutida pelo Brasil desde 1998, foi novamente vetada pelos países pró-caça.

Participante das reuniões da CIB como delegada brasileira, Camila Domit destaca que o País possui um posicionamento claro na conservação dos mamíferos marinhos. “Apesar de o Brasil ter demorado um pouco para aderir à Comissão Internacional da Baleia em relação à outros países, atualmente ele tem um papel fundamental no grupo de conservação, levantando muitos pontos de discussão e defendendo a ideia de proteção da biodiversidade marinha de forma geral”. As baleias são responsáveis por garantir um equilíbrio ambiental, atuando como indicadores ecossistêmicos. Dessa forma, a ausência desses animais pode causar a extinção de algumas espécies e o desenvolvimento em larga escala de outras. Em território nacional, o Brasil adota estratégias para proteger baleias, golfinhos, tartarugas, aves marinhas e maneja a pesca de espécies comerciais para garantir a sobrevivência dos animais marinhos mais explorados.

 

Sobre a Rede de Especialistas

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

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