João Alfredo Lopes Nyegray*
Brasil e Estados Unidos possuem um longevo relacionamento. Os EUA foram a primeira nação a reconhecer a independência brasileira em 1824. As primeiras embaixadas foram abertas em 1905, aqui e lá. Décadas mais tarde, o Brasil proveu apoio logístico ao exército estadunidense na Segunda Guerra Mundial. Ambos os países, por meio de seus representantes, trabalharam juntos na criação da Organização das Nações Unidas.
Por mais longo que seja o histórico de cooperação e amizade, nem tudo são flores: há farta documentação comprovando o envolvimento dos Estados Unidos no golpe militar de 1964, o que nunca foi oficialmente admitido por aquele país. Em 2013, vazaram dados sobre a espionagem estadunidense promovido pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, o que gerou tensões entre ambos os países e abalou as relações.
No que tange às relações comerciais, os Estados Unidos saem na frente: nos últimos 10 anos, os EUA tiveram um superávit comercial de cerca de US$ 90 bilhões, conforme dados divulgados pelo Ministério da Economia, no ano passado. Apenas em 2017, o Brasil passou a exportar para lá mais do que importa, pela primeira vez desde 2008. Na pauta comercial, os principais produtos que enviamos aos norte americanos são o ferro e o aço semimanufaturados, óleos brutos de petróleo, café, aviões, turbinas, motores e máquinas de terraplanagem. De outro lado, importamos principalmente óleos combustíveis, medicamentos, instrumentos e aparelhos médicos, e outros gases e hidrocarbonetos.
Atualmente, os Estados Unidos são nosso segundo parceiro comercial, perdendo apenas para a China. Justamente por isso, é bom que cultivemos boas relações – tanto em relação aos EUA, quanto em relação à China e aos demais grandes compradores de nossos produtos. Num momento em que se fala de guerra comercial e da sobretaxa estadunidense ao aço e demais produtos chineses, precisamos garantir que os produtos brasileiros escapem dessas tarifas para que nossas exportações para lá continuem crescendo. Para isso, uma boa relação é essencial.
Como se sabe, o Brasil é um país ainda economicamente fechado, ocupando o 153º lugar no ranking de liberdade econômica divulgado pela Fundação Heritage. Há quem defenda o fechamento econômico, argumentando que essa estratégia pode promover a indústria nacional. Os críticos da posição argumentam que a falta de liberdade econômica favorece apenas a exportação de matérias primas, desestimulando a inovação, a produtividade e a competitividade (o Brasil é apenas o 72º no ranking de competitividade). Ao que parece, é isso que ocorreu ao longo das últimas décadas. Daí vem a necessidade de que nosso país se abra para o mundo, seja para atrair capital e investimentos, seja para tornar-se mais competitivo.
Em relação à visita do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, muito se criticou a respeito da isenção de visto aos estadunidenses, canadenses, australianos e japoneses, uma vez que esse foi um ato unilateral e sem contrapartidas: os brasileiros continuarão precisando de visto para entrar nesses países. No entanto, há que se ponderar que, embora a falta de reciprocidade seja realmente algo incômodo, precisamos expandir a entrada de turistas em nosso território. O Brasil não consta nem dentre os 30 principais destinos turísticos do mundo, mesmo tendo tanto potencial.
O setor do turismo, assim como a indústria e o comércio, possui grande potencial de exploração e crescimento. Ao que parece, a isenção de visto para os quatro países mencionados é uma tentativa do governo de atrair mais visitantes. É necessário, no entanto, que se analise os resultados da medida no decorrer do próximo ano para verificarmos seus efeitos práticos. Afinal de contas, existem outras estratégias que podem ser utilizadas para atrair turistas, além de existirem muitos que não são necessariamente estadunidenses, canadenses, australianos e japoneses.
É inegável que Bolsonaro e Trump se deram bem, e isso é ótimo. Assim como aconteceu em governos anteriores, é natural que os presidentes busquem aproximar-se daqueles que compartilham de mesma ideologia. Nesse caso, líderes com perfil à direita. Trump se comprometeu a apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o que poderia dar ao Brasil maior confiança internacional e, consequentemente, favorecer a entrada de investimentos estrangeiros. Agora, precisamos aguardar para ver se esse apoio será para valer.
De toda forma, pode-se criticar ou elogiar o encontro. Um veredicto definitivo sobre o sucesso ou fracasso da visita virá apenas com o tempo, e com a análise cuidadosa de seus efeitos práticos, o que fica muito além de meras promessas.
*João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em Estratégia, é mestre em Internacionalização, advogado e bacharel em Relações Internacionais. É professor dos cursos de Relações Internacionais, Comércio Exterior, Administração e Economia da Universidade Positivo .