O grupo Proteu, que impulsionou o movimento teatral de Londrina entre as décadas de 1970 e 1990, conquistando grande público e destaque no cenário nacional, está preparando uma série de atividades para festejar seus 40 anos. Criado em 1978, por Nitis Jacon, com o apoio da Universidade Estadual de Londrina, o Proteu (Projeto Experimental de Teatro Universitário) foi responsável por realizar montagens ousadas e emblemáticas ao longo de sua história, sendo escola para uma geração de atores e produtores londrinenses.
Para comemorar a data, o grupo vai apresentar o espetáculo “Tango”, com texto de autoria de Slawomir Mrozek, e dirigido por William Pereira. “Conheço Tango desde os anos 1980 e sempre me encantou. Considero um dos grandes textos de teatro do século XX, e sua atualidade é imensa, como todos os grandes clássicos. Um conflito de gerações ao avesso. Um núcleo familiar que sintetiza todo um panorama político, artístico e social de uma época”, explica William Pereira. “É um texto que tenho certeza que a Nitis Jacon adoraria. Um texto que se adapta à estética – e a ética – do Proteu.”
William Pereira relembra que descobriu o Proteu em 1982, quando ainda era estudante de Arquitetura na UEL. Aos poucos, o teatro foi se firmando como sua maior paixão até ele decidir fazer o curso de Artes Cênicas, na USP. Hoje é considerado um dos mais importantes e representativos diretores de teatro e ópera no Brasil. Entre os inúmeros prêmios recebidos por seu trabalho, destacam-se o Prêmio Governador do Estado-SP, Troféu Mambembe, APCA e Prêmio Shell. Agora, William Pereira está de volta a Londrina especialmente para dirigir “Tango”.
“O Proteu e a Nitis foram fundamentais na minha vida. Apesar do pouco tempo que passei no grupo, foi o suficiente para a minha decisão de querer ser um homem de teatro. A vivência teatral do grupo, a linguagem dos espetáculos, a maneira de encarar o ato teatral, isso tudo foi decisivo para minha escolha de abandonar a arquitetura e ir para o teatro. O Proteu foi o impulso, o estopim para eu ser o profissional que sou hoje.”
Reverência
A montagem de “Tango” vai reunir no palco várias gerações de atores londrinenses. Segundo Maria Fernanda Coelho, que já participou de várias peças do grupo, é uma honra participar do espetáculo: “Com a Nitis Jacon aprendi o ofício do teatro, como atriz e produtora. O grupo foi o norte da minha formação como pessoa e artista. Reverencio minha história que foi forjada a partir do Proteu. Reverencio Nitis Jacon, a eterna mestra na arte e na vida. Em um momento tão triste de nosso país, poder dar voz para um dos mais importantes coletivos artísticos do teatro brasileiro é necessário e emocionante.”
A montagem vai estrear no dia 29 de abril, no Teatro Ouro Verde, e marca o fim de um hiato de 20 anos sem apresentações da trupe. “O objetivo do projeto é homenagear e agradecer ao Grupo Proteu e a Nitis Jacon, sua fundadora. Resgatar a história recente também é um dos objetivos, considerando que as gerações mais jovens sequer sabem da existência do grupo, incluindo aí estudantes de teatro. E também apresentar um texto de qualidade dramatúrgica inquestionável, sob a direção de um dos maiores diretores brasileiros que começou sua carreira no Proteu”, analisa Maria Fernanda Coelho, uma das idealizadoras do projeto.
Volta às origens
A direção de produção tem assinatura de Jacqueline Almada e Patricia Braga Alves, que também foi integrante do Proteu. Ela conta que através da amizade com alguns membros da companhia teatral foi se envolvendo com a produção do FILO. “Ao me ver ali frequentemente, a Nitis começou a me pedir para ligar para algumas pessoas e empresas para marcar reuniões com o intuito de pedir apoio financeiro ao festival. Em pouco tempo comecei a acompanhá-la em reuniões e quando começou o festival me engajei na produção junto a Maria Fernanda Coelho, com quem hoje tenho uma empresa de produção Cultural, a Palipalan Arte e Cultura”, diz.
Seu envolvimento com o teatro a levou para a Dinamarca, onde trabalhou com o Odin Teatret, companhia de Eugenio Barba, até 2007 como diretora de turnê, mas nunca deixou suas origens teatrais em Londrina. “Nunca abandonamos completamente aquilo que nos cria. O Proteu me fez nascer como pessoa de teatro e assim continuo. Nunca deixei o Proteu, o FILO ou Londrina. Isso sempre esteve comigo e sempre estará, pois é o que eu sou. Tenho apenas outras camadas que foram agregadas pelo caminho.”
Atividades paralelas
Além da montagem teatral, haverá outras atividades comemorativas aos 40 anos do grupo: Roda de Conversa com integrantes do grupo e jovens artistas, produtores e agentes culturais da cidade; Produção de uma micro-série para Web TV, realizada pela Vila Cultural Alma Londrina, além da parceria com a Funcart, com a participação de estagiários na montagem e execução de iluminação, cenário e figurino.
“No princípio, o foco era a montagem do espetáculo teatral, porém, a partir de diversas conversas e do entusiasmo que esta montagem despertou nos membros do grupo, foram surgindo várias ideias e desdobramentos. Acabamos firmando várias parcerias e delas surgiram essas atividades”, informa Jacqueline Almada, produtora e proponente do projeto. A iniciativa conta com o patrocínio da Prefeitura de Londrina (Promic) e apoio cultural do Crillon Palace Hotel.
“O Proteu e o Filo se constituíram como importantes espaços de formação no campo das artes cênicas e da produção cultural na cidade. Por outro lado, o modelo de incentivo à cultura desenvolvido em Londrina, através do Promic, tem oportunizado formas diversas e interessantes de capacitação de artistas, agentes e produtores culturais. Entendemos que é importante e necessário criar um contexto de troca entre essas distintas gerações de agentes culturais. Celebrar, resgatar, reunir e trocar experiências, são os nossos objetivos”, conclui Jacqueline Almada.