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Ministério da Agricultura confirma a retirada da vacina contra febre aftosa no Paraná

A última barreira para o Paraná ser reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação caiu. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou a antecipação da retirada da vacina contra febre aftosa. Ou seja, a campanha que começa no próximo dia 1º de maio será a última no Estado. A confirmação aconteceu em reunião realizada nos dias 24 e 25 de abril, em Curitiba, com representantes do órgão federal e diversas entidades do setor agropecuário do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que integram o Bloco V do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).

“Essa era praticamente a última etapa para o Paraná dar continuidade ao processo para obter o status de zona livre de febre aftosa. Nossos pecuaristas precisam realizar essa vacinação [de maio] corretamente para podermos, de forma definitiva, caminhar com as etapas que, futuramente, irão permitir ao Estado acessar mercados que pagam mais pela qualidade”, destaca o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette. “Foram décadas de trabalho até chegarmos ao estágio atual, que comprova que estávamos certos em colocar esforços nesta luta, que trará inúmeros benefícios aos produtores paranaenses de todas as proteínas”, complementou.

Inicialmente, de acordo com o calendário do PNEFA, a última etapa de imunização do rebanho bovino e bubalino do Bloco V, o qual o Paraná integra, seria apenas em maio de 2020. Porém, como o Estado comprovou que seu serviço de defesa agropecuária está estruturado e robusto e que as etapas do cronograma estão sendo cumpridas, o Mapa aprovou a antecipação da retirada da vacina. Desta forma, o Paraná poderá solicitar o status de livre de febre aftosa sem vacinação junto à Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) em setembro de 2020, com o reconhecimento realizado na Assembleia Geral de maio de 2021.

“Na reunião comandada pelo Mapa houve um consenso de que a vacinação de maio seja a última no Paraná. De uma forma unânime, os serviços de defesa dos cinco Estados do Bloco V apoiaram o pleito da retirada da vacinação, o que demandará maior rigor no sistema de vigilância sanitária. É o coroamento de um trabalho de muitos anos, que exigiu investimentos milionários com grande proatividade do Sistema FAEP/SENAR-PR e que aumenta nossa responsabilidade na condução da excelência de sanidade no Estado”, destaca o diretor-executivo do Fundepec, Ronei Volpi.

O diretor do departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, Antonio Carlos de Quadros Ferreira Neto, avalia que o Paraná está à frente em aspectos estruturais do sistema de vigilância agropecuária, mas que isso é um ponto positivo para a relação entre os Estados. “A gente entende que o Paraná está um passo adiante, mas também vamos buscar essa mesma situação, porque o Rio Grande do Sul já se sente em uma situação desprivilegiada em questão logística para atender a mercados consumidores do centro do país. Nosso pleito maior é a equiparação ao Paraná, para que consigamos caminhar juntos. De forma nenhuma o Rio Grande do Sul é contrário aos paranaenses, a gente tem buscado no Paraná um exemplo”, enfatiza.

Auditorias

Em 2018, o Mapa realizou auditorias necessárias para que seja encaminhado o pedido do Paraná à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O resultado das duas auditorias foi excelente. O serviço de defesa agropecuária do Paraná foi o mais bem avaliado do Brasil, melhor até do que Santa Catarina, único Estado brasileiro reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação.

O Paraná superou a pontuação da auditoria do Mapa em 48% dos quesitos e alcançou a pontuação necessária em 35%. Apenas 16% dos itens analisados ficaram abaixo da pontuação, o que gerou um plano de ação com nove itens, dos quais sete estão em implantação pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e os outros dois em processo de finalização (contratação de fiscais para garantir o funcionamento pleno das barreiras sanitárias e a construção do posto de fiscalização sanitária em Campina Grande do Sul – em fase final de aprovação pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

“O Paraná está no caminho correto, faltam apenas pequenos ajustes, que ficou acordado que serão feitos até o mês de setembro. São ações faltantes pontuais e já em andamento. O Estado demonstrou que está avançando de uma forma mais ágil que os outros”, apontou Geraldo Marcos de Moraes, diretor do departamento de saúde animal do Mapa. “Dentro das regras do reconhecimento internacional, temos que provar 12 meses sem vacinação e sem circulação viral no Estado. A última vacinação ocorre em maio. Também é preciso 12 meses sem a entrada de animais vacinados. Acreditamos que isso será concretizado em setembro, pois faltam alguns ajustes em relação a postos fixos de fiscalização, em implantação. Ou seja, em setembro de 2020 será possível enviar o relatório para a OIE. Com o parecer favorável de um grupo ad hoc [destinado para isso], vai para uma comissão científica dentro da OIE para então sair o reconhecimento, que deve ser oficializado em maio de 2021, na Assembleia Mundial”, explica.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), Decio Coutinho, esse passo do Paraná é importante não só para o Estado, mas também para a própria continuidade do PNEFA a nível nacional. “O Estado cumpriu todas as etapas do que ele precisava resolver para antecipar o processo
de retirada de vacinação contra febre aftosa e fez isso de forma bastante competente”, avalia. “Esse reconhecimento serve com uma belíssima vitrine, demonstra a determinação da área pública e privada da pecuária paranaense. Para o Estado é o recebimento de um troféu, e para o PNEFA eu vejo como um passo fundamental para sua própria continuidade”, acrescenta. “É uma conquista importante, principalmente para a proteína animal, vai dar um novo estímulo ao agronegócio paranaense, pois sanidade animal não é um item da Adapar, mas de toda a cadeia produtiva”, complementa o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins.

Novos mercados

A suspensão da vacina contra a febre aftosa no Paraná tem inúmeros desdobramentos positivos para o agronegócio estadual, principalmente para as cadeias de proteína animal. A prova é Santa Catarina, que com o status de área livre de aftosa sem vacinação, consegue acessar mercados que pagam mais pela carne, como a Coreia do Sul. Em 2017, por exemplo, a tonelada do frango paranaense foi exportada por US$ 1.595,65, em média, enquanto que a tonelada da ave de Santa Catarina foi comercializada em média por US$ 1.867,98, valor cerca de 17% superior.

Elias Zydek, diretor-executivo da cooperativa Frimesa, classifica a conquista do Paraná como histórica. “O que ganhamos com esse avanço é imensurável, passamos a outro momento histórico. Para nós, das cadeias produtivas pecuárias, significa sentar na mesa de negociação internacional em outro patamar. Aquelas barreiras que nós tínhamos, vão cair”, comemora. “Isso significa em números, na cadeia de suínos, por exemplo, uma conquista de 65% do mercado ao qual não tínhamos acesso, e que a partir do momento que sair o certificado da OIE nós vamos começar a vender”, prevê.

Ainda, de acordo com estudo da Adapar, o novo status sanitário permitiria ao Paraná dobrar as exportações de carne suína, das atuais 107 mil toneladas para 200 mil toneladas por ano. Este cenário é previsto se o Paraná conquistar apenas 2% do mercado potencial, liderado por Japão, México e Coreia do Sul, que pagam mais pelo produto com reconhecida qualidade sanitária, e representam 64% do comércio mundial de carne suína. Com o reconhecimento de área livre de febre aftosa sem vacinação, o Paraná poderia exportar, sem restrições, para esses países que compram cerca de 5 milhões de toneladas de carne suína por ano, o equivalente a seis vezes as exportações atuais.

O diretor da Frimesa prevê que nos anos seguintes ao novo status será possível acessar um mercado que representa em torno de 3 milhões de toneladas de carne suína anualmente. “Hoje, o Brasil exporta 600 mil toneladas por ano. Imagina o que é isso, poder entrar nesse mercado. É a nova redenção da suinocultura do Estado do Paraná. Sem contar que vamos poder acessar os mercados que pagam melhor, nos quais hoje o Paraná está fora. Nós vendemos para os mercados periféricos da Ásia, como Hong Kong e Singarupa, mas ainda não vendemos para o Japão, que paga 20% a mais”, diz.
Leia mais notícias sobre o agronegócio no Boletim Informativo.

 <felipe.santos@senarpr.org.br>

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