“Como agregar valor ao sistema de saúde” foi o tema do debate realizado pelo Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde – Capítulo Paraná (CBEXs-PR) no dia 28 de março, no auditório da FAE Business School, em Curitiba, com a participação do presidente da entidade e CEO do Hospital Santa Cruz como moderador, Claudio Enrique Lubascher; a gerente médica do Escritório de Gestão de Valor do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcia Makdisse; o superintendente de Relacionamento com Prestadores e Clientes da Região Sul da SulAmérica, Celso Boaventura; o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Carecycle, William Marandola; e o gerente médico do Hospital Santa Cruz, Rafael Moraes. No final do debate houve a diplomação dos fellows, pessoas com notório saber na área de saúde.
Lubascher ressaltou a importância de ter o paciente como foco principal no sistema de saúde. “Não há saúde se não for focada no paciente, no que de fato agrega valor para ele. A boa medicina custa mais barato, tem menos desperdício e está centrada no paciente”, apontou, acrescentando também sua preocupação com a necessidade do sistema de saúde se autofinanciar no país. O debate é o primeiro passo para se construir modelos de saúde diferentes e exequíveis no país, através de entidades como o CBEXs de forma apartidária, retirando o custo da desconfiança, afirmou Lubascher.
Marcia Makdisse apresentou o case da implementação do escritório de valor no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e destacou que “saber pilotar as iniciativas” é o princípio para a transformação necessária e a implantação do valor no sistema de saúde. O modelo de transformação de valor do Einstein foi baseado nos propósitos do professor da Harvard Business School e autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade, Michael Porter; da Professora Elisabeth Teisberg, diretora executiva do Instituto de Valor da Dell Medical School; e do médico e expert em políticas de saúde americano, Thomas H. Lee.
A gerente médica do Einstein discorreu sobre as diversas iniciativas tomadas para mudar e melhorar o Sistema de Saúde, por meio da transformação de um sistema que remunera por atendimento (Fee-for-Service) para um que remunere pelos resultados alcançados e gere valor para o paciente e para o sistema de saúde como um todo (Fee-for-Value). Dentre as iniciativas de Value Based Health Care (VBHC) em implementação no Hospital Albert Einstein destaca-se a criação de novos modelos de remuneração baseados em valor, tais como os Bundles, nos quais um valor único é cobrado par um episódio ou ciclo completo de atendimento, incluindo a avaliação inicial, a internação para realização da cirurgia e uma garantia após a alta em caso de complicações. Além disso, outras áreas de atuação do escritório de gestão de saúde são a avaliação de performance médica, a padronização de desfechos, a geração de conhecimento, e as análises de custo ao nível das condições clínicas.
Celso Boaventura, da SulAmérica, observou que é preciso repensar alguns desafios do sistema de saúde e destacou que o mercado oferece hoje toda a gama de serviços que não seria o modelo ideal para se trabalhar com o conceito de valor em saúde. “Devemos privilegiar o que cada serviço faz de melhor. Para quem paga e toma serviços é complexo quando tem muitos provedores de serviço, oferecendo vários tipos de procedimento com custos pouco explicáveis”, ponderou. Também afirmou sobre a importância do paciente estar no centro dos cuidados e a necessidade de promover as mudanças no sistema. “Precisamos quebrar barreiras, correr riscos, arriscar novos modelos de remuneração e não ter medo de errar ou errar juntos”, disse Boaventura.
William Marandola, da Carecycle, falou sobre o engajamento do paciente como garantidor de modelos baseados em valor. “O engajamento do paciente é importante porque ele define o desfecho”, acredita. Ele citou que uma das medidas para alcançar esse objetivo é criar comitê de pacientes no hospital e usá-lo como celeiro para o desenvolvimento de novos produtos. Disse também que o sistema de saúde melhora quando há coordenação do cuidado e a comunicação é centrada no paciente.
Rafael Moraes apresentou no debate a experiência do Hospital Santa Cruz e seu
modelo de valor através da melhoria da governança clínica, investimento em equipes multiprofissionais e melhores desfechos, entre outras medidas. Ele reforçou a ideia que “a boa medicina é medicina mais barata”, havendo necessidade de sempre buscar a excelência, e “praticar a medicina dentro do mais alto padrão científico e tecnológico”.
Segundo Moraes, o hospital está hoje estudando linhas de cuidado e investindo na gestão de saúde ambulatorial para evitar internamentos. Além disso, o Santa Cruz está migrando para outros modelos, além da remuneração Fee-for-Service, reestruturando o plantão de emergência e acompanhando ainda a velocidade da tecnologia aliada à saúde de valor com médicos hospitalistas. Atualmente houve redução de 41% de encaminhamentos de pacientes à UTI, menor utilização de antibióticos e queda drástica de 53% da infecção global do hospital, além de ter caído de 3,6 para 3 dias a permanência do paciente no Santa Cruz. Em fevereiro deste ano, o hospital atingiu 91% da satisfação dos pacientes com NPS (Net Promoter Score) de 61%.
O debate teve os patrocínios da Sodexo (gestão) e o apoio institucional da FAE Business School, Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), KPMG, Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Associação Brasileira de Planos de Saúde do Paraná e Santa Catarina (Abramge PR-SC) e do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (Ibravs).