Mais de 70 mil ligações foram registradas pelo Disque 100, principal canal de denúncias de violações dos direitos humanos do Brasil, só no primeiro semestre de 2018. Destas, 23,35% dizem respeito tão somente a casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em todo o país. Neste mês, o delicado tema é evidenciado em virtude do 18 de maio, data na qual governos, empresas e organizações da sociedade civil sensibilizam-se para o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Qual a maneira mais eficiente de enfrentar esse problema? O Centro Marista de Defesa da Infância entende que a resposta para essa pergunta está na fala dos pequenos, aliada a estratégias de educação e informação. “Quando bem orientadas, as crianças têm mais chances de evitar ou interromper o abuso, contando sempre com o apoio de adultos de confiança que ela reconheça em seu cotidiano” explica Vinícius Gallon, criador e coordenador da Campanha Defenda-se, uma iniciativa criada em 2014 pelo Centro de Defesa para promover a autodefesa das crianças contra a violência sexual.
Por meio de vídeos amigáveis, educativos e acessíveis eles discutem, de forma sutil e bastante delicada, temas sensíveis sobre o desenvolvimento da sexualidade infantil, que auxiliam a criança a conhecer melhor o próprio corpo, a reconhecer as diferentes emoções, entender as diferentes relações afetivas e a conduta mais apropriada em cada uma delas. Além de aprender ações simples do dia a dia que dificultam a ação dos agressores. Os 11 filmes curtos já publicados alcançaram pelo menos 20 milhões de pessoas pelas redes sociais e estão nos 81 países onde o Instituto Marista está presente.
A campanha foi vencedora, ainda, do Prêmio da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, o Aberje 2018, na categoria Comunicação e Relacionamento com a Sociedade; Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos (criado em homenagem à ativista e defensora Neide Castanha), além de ser certificada como material de excelência pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Precisamos falar sobre intimidade, privacidade e diversidade
No vídeo mais recente, lançado nesta semana que antecede o 18 de maio, intimidade e privacidade são as temáticas centrais. Elas têm como pano de fundo situações corriqueiras – uma ida ao banheiro durante o recreio ou uma atividade em sala de aula.
“Por que o pipi da Ana está escondido?”, “As partes íntimas têm esse nome porque ninguém pode encostar”, “Não é legal mostrar nossa intimidade para outras pessoas”, são algumas das falas de Marcelo, Clara, Amim e outros personagens já conhecidos da campanha.
Neste novo vídeo de quase três minutos somos apresentados, ainda, a novos rostos: Rafa, que é cadeirante, Yuki, que tem transtorno do espectro autista, Laura, que é deficiente auditiva e Ana, que representa as crianças que vivem no meio rural. “A violência sexual atinge a todas as infâncias, mas quanto maior a vulnerabilidade de cada uma delas, maior a incidência e a invisibilidade. Por isso buscamos retratar de uma maneira bastante positiva crianças com diferentes características e necessidades convivendo em harmonia e se apoiando nas descobertas da vida”, ressalta Vinicius.
É uma forma de mostrar que todas as infâncias importam e têm direito a uma vida saudável, feliz, livre de violência. “A autoestima é fundamental nesse start inicial de relatar que algo ruim está acontecendo e precisa ser interrompido”, completa o criador e coordenador da Campanha Defenda-se. Um dos destaques é Laura. Pela primeira vez uma criança com deficiência auditiva é representada em um vídeo do Defenda-se. Ela traz a adaptação de parte do roteiro para a língua brasileira de sinais (Libras).
A campanha tem produção da Spirit Animation Studio e apoio do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, Campanha Faça Bonito, Fundación Marista por La Solidaridad, FTD Educação, Organizacion de Los Estados Americanos (OEA), Instituto Interamericano del Niño, la Niña y Adolescentes e o Instituto Cores. As traduções são da produtora Filmes Que Voam.
Sobre o Centro Marista de Defesa da Infância
Criado em 2010, o Centro Marista de Defesa da Infância, vinculado à Rede Marista de Solidariedade (RMS), atua na defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, por meio do fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos. Integram o portfólio da instituição o CADÊ Paraná (plataforma virtual que reúne dados e informes periódicos temáticos sobre crianças e adolescentes), os projetos Territoriar e Brincadiquê? Pelo Direito ao Brincar, e a campanha nacional sobre a autodefesa de crianças contra enfrentamento à violência sexual, Defenda-se!. A instituição também desenvolve análises sobre o orçamento público do Paraná e promove ações de incidência política em articulação com governos, redes, fóruns, comissões e conselhos de Direito.