Imagine um futuro no qual sair sem dinheiro ou cartões não seja motivo de preocupação, mas a regra. Estamos mais próximos disso do que parece. Na China, onde as tecnologias financeiras estão extremamente avançadas, já existem lojas que aceitam apenas as chamadas carteiras digitais como forma de pagamento. Para muitos, é apenas uma questão de tempo e não teremos mais cartões de débito e crédito, resolvendo tudo pelo celular.
Uma pesquisa divulgada este ano pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), apontou que 24% dos consumidores brasileiros utilizam apps para realizar compras em lojas físicas e, desses, 17% pagam com QR Code. O estudo ainda mostra que 82% dos varejistas pretendem adotar aplicativos e QR Codes como meios de pagamento nos próximos 12 meses. Ou seja, o investimento é grande e, ao que indica, devemos esperar aumentos expressivos nessa forma de pagamento nos próximos anos.
O impacto social e econômico dessa mudança será grande. Já testados e seguros, os pagamentos por QR Code garantem mais agilidade, evitando filas nos restaurantes, por exemplo. Basta escanear a imagem e realizar seu próprio pagamento pelo celular, sem precisar esperar para ser atendido.
O acesso cada vez maior a smartphones e à rede móvel de dados, que seriam alguns dos desafios técnicos a serem enfrentados para viabilizar esse avanço, não devem ser impeditivos nos próximos anos. Um relatório publicado este ano pelo Pew Research Center mostrou que o Brasil tem uma penetração de 60% de smartphones, estando no topo da lista dos países emergentes pesquisados – a média global é 45%.
A implantação desta nova tecnologia é extremamente simples. O dono do restaurante ou da loja que decidir adotar esta forma de pagamento precisa apenas entrar em contato com uma empresa que fornece o serviço. Após cadastrar sua conta bancária, recebe um totem com o QR Code exclusivo para seu negócio. Ele então acompanha os pagamentos em tempo real, tendo a vantagem de evitar filas, pois vários pagamentos podem ser feitos simultaneamente, e um prazo de recebimento melhor a um custo reduzido, em comparação às taxas de transação das maquininhas POS. Para o cliente, basta escanear o código e digitar o valor a ser pago com um cartão já cadastrado.
Para além das questões tecnológicas, o principal desafio é uma mudança educacional. Hábitos muito consolidados podem dar trabalho para serem mudados, mas inovações verdadeiramente disruptivas são as que conseguem realizar esse feito, por trazerem mais praticidade e qualidade de vida aos seus usuários. Exemplos clássicos são as plataformas de streaming de música e vídeo, que tornaram a cultura on demand tão forte que para muitos já é estranho pensar em assistir programas com horário marcado.
O mesmo vale para os aplicativos de delivery, que deixaram muito mais acessível e comum a prática de pedir uma refeição para entrega; e para as empresas de micromobilidade, que tornaram possível o uso pontual de meios de transporte como bicicletas e patinetes, contribuindo para a melhoria da mobilidade urbana.
No caso do pagamento por QR Code, o sistema simples de ser utilizado e integrado a serviços já conhecidos tem tudo para virar regra, e não exceção, em pouco tempo. O que se observa no dia a dia é que soluções que tornam a vida mais simples são sempre bem-vindas. Estamos na era das mudanças mais velozes que a sociedade já viu, e estamos ficando craques nisso – as novas gerações se apegam cada vez menos à constância de modelos fixos e padrões imutáveis.
A vantagem é que o QR Code é uma porta de entrada para uma carteira digital, onde é possível entregar muitos outros serviços e benefícios aos usuários, como transações monetárias rápidas e seguras, preenchimento automático em compras pela internet e autenticação por biometria.
Tanta tecnologia nos faz até questionar: qual será o próximo passo? Daqui a 2, 10 e 20 anos, a biotecnologia vai avançar ao ponto de que nem mesmo os smartphones serão mais necessários? Por aqui, vamos acompanhar bem de perto, tendo em mente a missão de impactar de forma positiva cada vez mais pessoas com o uso da tecnologia. O que sabemos até o momento é que os retângulos de plástico que carregamos na carteira estão com os dias contados.
*Daniel Bergman é engenheiro civil por formação, com MBA em gerenciamento de negócios pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas (INSEAD), na França. Possui ampla experiência em estratégia, gerenciamento de projetos e desenvolvimento de produtos. É CEO da MovilePay, fintech de soluções financeiras do Grupo Movile.
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