Há quem diga que previsões são uma furada, que o correto é se prender aos fatos. No entanto, a previsão que segue certamente não deve falhar: segundo dados do relatório Futuro do Trabalho, do Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças matriculadas nos Anos Iniciais das escolas devem trabalhar em empregos que ainda não existem. Surreal? Nem tanto. O surgimento de novas frentes de trabalho acompanha o desenvolvimento da sociedade. E isso é fato. Não se perder nesse imenso universo de possibilidades será um desafio a muitos desses jovens e, nesse processo, o papel da escola e do professor serão fundamentais.
A inserção dos alunos em uma sociedade em constante transformação é um desafio para qualquer instituição – isso porque há uma divergência entre o que deve ser papel da escola, da família e da própria sociedade, o que acaba colaborando para que discussões, em conjunto, sobre o que fazer, caiam no esquecimento. Nesse sentido, coloca-se como um desafio promover a educação empreendedora, pois ela diz respeito à cultura, à forma de ver o mundo e de com ele se relacionar. Empreender, em sentido restrito, significa decidir fazer algo que ainda não se tenha feito. Logo, é perfeitamente possível se estimular, na escola, o comportamento empreendedor, afinal, estimula-se o desenvolvimento humano. Além disso, a própria BNCC – Base Nacional Comum Curricular – menciona a educação empreendedora. Atividades voltadas ao empreendedorismo propiciam o desenvolvimento de competências e habilidades, previstas na BNCC, para todos os ciclos escolares. Isso sem contar o favorecimento a atividades transdisciplinares e interdisciplinares.
De acordo com Fernando Dolabela, consultor e palestrante internacional, referência no que diz respeito ao ensino de empreendedorismo, o empreendedor é um ser social, que se mostra um produto do meio a que pertence, do espaço do qual faz parte. Para ele, todos nascem empreendedores, o que falta é o despertar. Nesse sentido, o professor e a escola deverão buscar metodologias próprias e adequadas ao desenvolvimento dessa habilidade, que contribui para transformação da realidade. Enfim, o professor deve, necessariamente, ser também um empreendedor, capaz de estimular a curiosidade e o interesse do aluno e se perceber como referência a ele. Afinal, conviver com crianças e adolescentes é conviver com autênticos empreendedores.
Assim, a associação de práticas de aprendizagem ao desenvolvimento da autonomia visam ao fortalecimento das relações interpessoais, algo de grande importância na sociedade. A geração de novas percepções, a ampliação dos horizontes e a quebra de paradigmas têm o papel de despertar nos alunos a cultura do empreender, que não é tão somente ser dono do próprio negócio, mas sim desenvolver a habilidade de resolução de problemas, desde os mais simples, cotidianos, aos mais desafiadores. Outro fator importante a ser destacado é a iniciativa em relação à busca por oportunidades. A saída da chamada “zona de conforto” fará deles pessoas flexíveis, não acomodadas e capazes de correr riscos, porém, calculados.
O investimento na educação empreendedora é, portanto, um caminho a ser perseguido pela escola para que, de forma efetiva, se alcancem os valores necessários para promover a transformação das pessoas que serão capazes de, realmente, mudar o mundo. E, também, adequarem-se a ele.
*Daniela Tatarin, assessora pedagógica de Formação Humana do Centro de Inovação Pedagógica Positivo (CIPP) do Colégio Positivo.