Por Sandra Maura, CEO da TOPMIND
Faltam programas de incentivo à equidade de gênero no mercado de trabalho brasileiro. Infelizmente, essa é uma realidade inclusive na área de TI. Parece estranho, mas há algumas décadas as mulheres não podiam responder por si mesmas, não podiam votar e não eram aceitas em cargos de liderança. As decisões, independentemente do quão pessoais fossem, eram tomadas por seus pais, maridos ou irmãos. Lamentavelmente, em algumas culturas, isso ainda ocorre.
Se pensarmos que as mulheres tiveram que lutar até mesmo pelo direito de vestirem calças, algo tão simples e cotidiano, não é difícil entender por que a questão da equidade de gênero continua em pauta em pleno século XXI. Muito já foi conquistado, mas há um longo caminho a ser percorrido.
A partir dessa discussão encontramos espaço para destacar outros pontos dentro do tema diversidade corporativa. Existe uma variedade de pessoas a serem incluídas nesse diálogo, como negros, idosos, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQ+.
Estudos de mercado apontam que empresas com altos índices de diversidade têm 35% mais chances de obter sucesso em seu ramo de atuação. Mas, apesar desses dados, pesquisas da ONU Mulheres mostram que os comitês executivos e conselhos administrativos das maiores empresas brasileiras apresentam, respectivamente, 14% e 11% de mulheres na composição de suas equipes. Outro dado também alarmante é que o índice de mulheres em cargos gerenciais está estagnado em 30% desde 2005. Além disso, as mulheres continuam sendo minoria em áreas de exatas, como tecnologia. Há mais de uma década representamos apenas 30% dos formados nesses segmentos.
Como fundadora e CEO de uma empresa de tecnologia, não posso deixar de me preocupar com dados como esses. Não há como falar de diversidade sem inclusão, equidade e pertencimento, e esta é a cultura que adoto ao montar minhas equipes de trabalho. E no papel de uma mulher que passou pelos desafios que o preconceito estrutural nos impõe diariamente, vejo a diversidade na empresa acontecer de forma natural.
Quando passamos pelos percalços do estigma e da generalização, aprendemos desde cedo a não repetir estes erros. Passamos a enxergar a pluralidade do mundo como algo não apenas positivo, mas, essencial para as organizações. Por isso vemos que em empresas lideradas por mulheres, ou com mulheres em cargos de alta hierarquia, existe maior acolhimento, apoio e receptividade.
Para que as mudanças ocorram, o exemplo precisa vir de cima. Com esse objetivo, faço questão de que em minha empresa a liderança seja plural e inclua mulheres, homens, negros e pessoas LGBTQ+. São profissionais com diferentes históricos, perfis e conhecimentos a serem compartilhados.
É hora de olharmos além. Para que a sociedade evolua e a equidade seja real para todas as pessoas, independentemente de raça, religião, gênero ou idade, precisamos aceitar a responsabilidade que recai sobre nós e atuar de forma a capacitar novos talentos sem preconceitos. A inclusão, por si só, não é mais suficiente. Precisamos olhar adiante e adotar ações para que o nosso legado seja de desenvolvimento, oportunidade e, acima de tudo, respeito.
Na posição de tomadores de decisão, todos precisamos estar atentos aos procedimentos que são adotados em nossas empresas para garantir que as práticas estejam alinhadas ao discurso. Temos que abandonar ideias restritivas para abraçar o novo, até porque pesquisas de mercado indicam que esse é o melhor caminho para se obter resultados positivos. Não é uma tarefa fácil e, assim como qualquer novo hábito, exige treinamento diário. Mas somente dessa forma conseguiremos avançar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. E você, já parou para ajudar a sua empresa a seguir uma nova jornada de diversidade e inclusão? Com certeza os negócios crescerão, o ambiente de trabalho se tornará mais rico e a percepção do mercado sobre sua empresa poderá ser diferenciada.