Estudo aponta baixo engajamento feminino como reflexo de desigualdades estruturais. Programa Cidade Modelo busca reverter quadro de baixa participação política com laboratório de cultura democrática.
Cerca de 50% das mulheres em Curitiba não votariam se o voto não fosse obrigatório, enquanto 25% só votaria se o candidato representasse sua preferência. Enquanto a falta de disposição em votar entre elas chega a 75%, entre os homens curitibanos a soma totaliza 68%. Em São Paulo, a população, em geral, aparece mais interessada no pleito eleitoral, mas a diferença entre eles e elas se repete: o percentual de mulheres que não votaria caso o sufrágio fosse opcional (61,1%) é mais alto que o de homens que não votariam (57,4%). Os dados são parte do Índice de Democracia Local, do Instituto Sivis, que avaliou as duas cidades no período de 2017 a 2019.
Segundo os pesquisadores, os números podem ser reflexo de desigualdades estruturais, em uma sociedade que não estimula o engajamento político feminino e, por muito tempo, negou a elas o direito ao voto. “Um olhar mais atento para a realidade contemporânea nos faz perceber que não é por falta de vontade ou aptidão que as mulheres deixam de participar da vida política, mas sim por uma série de restrições ou obrigações que são impostas ao feminino”, comenta Thaíse Kemer, Gestora de Pesquisa e Impacto do Instituto Sivis.
Assunto que é sempre levantado no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é a baixa representação das mulheres na elite política. Este pode ser outro fator a desencorajar a participação deste grupo, já que no Brasil apenas 10,5% do Congresso é feminino, apesar da lei reservar 30% da bancada a elas. Além disso, a pesquisa também demonstra que o percentual de mulheres filiadas a partidos políticos (1,9%) é inferior quando comparado ao dos homens (4,22%).
Insegurança nas ruas
Outro dado sobre elas que chama atenção no IDL e é que quase 73% das mulheres que moram na capital paranaense sentem medo ao saírem sozinhas e a pé pelas ruas, especialmente à noite. Já 23,47% delas nem cogitaria a possibilidade. Somente 3,4% delas se sente segura. O medo cai pela metade entre os entrevistados homens: apenas 11,71% descarta a possibilidade de andar à noite sem companhia; enquanto a sensação de segurança sobre quatro vezes, já que 14,5% deles não sente medo algum.
Perspectiva esperançosa
A partir da análise de dados como esses e com o objetivo de provocar mudanças, o Programa Cidade Modelo reúne, desde 2019, mais de uma centena de lideranças locais, em Curitiba, e fomenta a cultura de colaboração e confiança. Entre os membros participantes, 43% são mulheres. Elas também estão representadas nos grupos de trabalho e nos Conselho Multisetorial. “Temos atuado de forma multidisciplinar, propondo discussões na área de educação e cultura e convidando lideranças femininas e engajadas para juntos encontrarmos caminhos que facilitem a inserção delas e provoquem uma transformação de paradigmas”, conclui Thaíse Kemer.
Sobre o Programa Cidade Modelo
O Programa Cidade Modelo é um laboratório coletivo de cultura democrática que busca fortalecer a participação política por meio da promoção de práticas de confiança e colaboração local. Tendo Curitiba como laboratório, pretende encontrar caminhos e soluções replicáveis, a fim de ampliar o impacto global. Reúne diversas lideranças comunitárias locais para debater e colaborar a favor de soluções conjuntas para a cidade. Saiba mais: www.cidademodelo.org.br
ester.athanasio@depropositocomunica.com