Lucimeire Fedalto*
Aprendizado. Respeito à individualidade. Felicidade. Inovação. Eis algumas buscas daqueles que fazem a escola: os alunos. Aproximadamente 260 mil, entre 11 a 21 anos, tiveram a oportunidade de participar de uma escuta on-line, gratuita e aberta, realizada pela Porvir e pela Rede de Conhecimento Social, em 2019. Os jovens foram provocados a refletir sobre suas escolas atuais e também sobre como seriam os ambientes educacionais de seus sonhos. A edição da pesquisa, publicada em novembro, trouxe informações interessantes na ótica desse público.
Dentre as questões levantadas pelos jovens sobre sonhos e realidades no âmbito escolar, percebeu-se que esses jovens não querem “só comida, diversão e arte“, eles querem ser ouvidos, querem fazer parte do processo de construção e desenvolvimento desse espaço em que aspiram aprender e ser felizes. Grêmios estudantis e conselhos não dão conta da necessidade que esses estudantes têm para que tenham voz e participação nas decisões relacionadas à escola. Jovens e adolescentes querem mais diálogo e espaço. 79% dizem que têm grêmio na sua escola, mas só 45% consideram que estudantes participam das decisões; 72% indicam a existência de um conselho escolar, e apenas 41% dizem haver atividades que integrem professores, pais e alunos. Não basta ter o canal, é preciso ensinar a utilizá-lo.
E quando a pesquisa traz os dados sobre o perfil do professor que esse grupo entrevistado idealiza, vê-se que não é um profissional com superpoderes, mas sim um professor que domine o conteúdo, que consiga despertar o senso crítico e que esteja aberto ao diálogo e às trocas. Além, é claro, da existência física dessa figura fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, pois, muitas das escolas das quais os entrevistados fazem parte sofrem com a falta de professores.
Temas como bullying, suicídio, depressão e autoconhecimento devem fazer parte do currículo, na concepção dos entrevistados. 30% avaliam de forma negativa a relação entre alunos em suas escolas – eles não falariam que nela todas as pessoas são respeitadas independentemente de cor, religião, orientação sexual, nacionalidade ou cultura. Os estudantes reconhecem a necessidade de ter ajuda, seja do professor ou de um profissional especializado – 6 a cada 10 entrevistados gostariam de ter psicólogos na escola. Sonho que pode se concretizar em breve se a proposta prevista no Projeto de Lei 60/2007 for efetivada. Segundo esse projeto, equipes formadas por psicólogos e assistentes sociais deverão atender os estudantes dos ensinos fundamental e médio, buscando a melhoria do processo de aprendizagem e das relações entre alunos, professores e a comunidade escolar. O texto ainda estabelece que, quando houver necessidade, os alunos deverão ser atendidos em parceria com profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a pesquisa, grande parte dos problemas emocionais advém da pressão a que muitos dos estudantes são submetidos, no Ensino Médio, por conta do vestibular e do mercado de trabalho. O foco da escola dos sonhos, portanto, segundo o perfil dos entrevistados, deve ser também a preparação para a faculdade ou para o mercado de trabalho, aproximadamente 40% acreditam nisso. Eis o nosso desafio enquanto educadores: ensinar, mas também despertar; ver, mas também enxergar; ouvir e dar voz; acolher o sonho, mas também trabalhar junto para transformá-lo em verdade.
*Lucimeire Leduc Peixoto Fedalto é professora de Língua Portuguesa e Coordenadora do Centro de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento do Colégio Positivo.