Estudo em que a informação é baseada trata, na verdade, do impacto do vírus nas células testiculares e, consequentemente, na fertilidade, não trazendo qualquer conclusão sobre a eficácia e segurança do imunizante contra o Coronavírus.
As campanhas de vacinação contra a Covid-19 já foram iniciadas em grande parte dos países ao redor do mundo, inclusive no Brasil, que já possui dois imunizantes aprovados para utilização. Ainda assim, muita desinformação relacionada à vacina ainda é disseminada pela internet, o que pode fazer com que algumas pessoas fiquem receosas em participar das campanhas de imunização. Por exemplo, recentemente vem circulando nas redes sociais uma informação de que a vacina contra o Coronavírus poderia causar infertilidade em homens, o que, de acordo com o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime em São Paulo, não é verdade. “Não existe nenhuma evidência cientifica relevante que realmente confirme que as vacinas atualmente em uso podem causar qualquer impacto na fertilidade masculina. Na realidade, até o momento, o risco de reações adversas apresentado pelas vacinas aprovadas é baixíssimo e todos os efeitos colaterais demonstrados por pacientes na fase de estudos foram leves e controláveis. Logo, não há motivos para que o público geral evite se vacinar”, destaca o médico.
Segundo o especialista, a informação falsa baseia-se em um estudo publicado em novembro pela Universidade de Miami, que, na verdade, não trata da vacina. “A pesquisa divulgada pelos estudiosos da universidade americana aborda, de fato, o impacto do vírus causador da COVID-19 na fertilidade masculina, mostrando que o Coronavírus pode sim causar danos importantes ao tecido testicular dos homens infectados”, explica o Dr Rodrigo. E o estudo realizado pela Universidade de Miami não é o único a apontar a relação entre a infecção grave pelo SARS-CoV-2 e a infertilidade masculina. Pesquisas2,3 publicadas no início da pandemia do Coronavírus já apontavam indícios dessa relação. “A COVID-19 ataca qualquer tipo de célula no corpo que expresse a enzima ACE2, sendo especialmente danosa a células que apresentam alto nível de expressão dessa enzima, como as células testiculares. Logo, se o vírus causar danos a essas células, o processo de espermatogênese pode ser afetado, o que pode representar um risco para a fertilidade masculina”, diz o médico.
Vacina é a melhor opção
Ou seja, ainda que mais estudos sejam necessários para que a relação entre a COVID-19 e a infertilidade masculina seja realmente confirmada, a vacina é a melhor opção para aqueles que estão preocupados com a própria fertilidade. Infelizmente, pode demorar algum tempo até que todos sejam vacinados. Então, até lá, o ideal é investir em cuidados de prevenção ao Coronavírus. “A utilização de máscaras, a higiene frequente das mãos e o distanciamento social são essenciais mesmo para aqueles que já estão infectados pela doença, pois, dessa forma, seu sistema imunológico estará lidando com uma carga viral menor e, consequentemente, a doença poderá se manifestar de forma mais branda, o que reduz o risco de infertilidade”, afirma o Dr Rodrigo.
Além disso, quem está realmente preocupado com a fertilidade, pode optar por meios de preservação da capacidade reprodutiva, como a retirada de sêmen para congelamento de espermatozoides. “Para a preservação do espermatozoide, é necessário apenas a masturbação (método não-invasivo), de preferência em várias amostras. Então, é feita a criopreservação (congelamento) do sêmen. Caso o homem não consiga ejacular, os espermatozoides podem também ser retirados diretamente dos testículos, com uma simples agulha ou uma pequena cirurgia”, destaca o especialista.
Já para aqueles que já tiverem um quadro grave de COVID-19 e estão preocupados se conseguirão ter um filho, o ideal é tentar e aguardar. “Caso o casal não consiga engravidar após um ano de tentativas, o recomendado é consultar um médico especializado, que poderá realizar uma avaliação e solicitar uma série de exames para identificar a real causa do problema, indicando, a partir disso, a melhor alternativa para ajudar o casal a começar uma família, seja através do tratamento do fator causador da infertilidade ou por meio de procedimentos de reprodução assistida, como a fertilização in vitro”, finaliza o Dr Rodrigo Rosa.
FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
1https://wjmh.org/search.php?