Patrícia Tendolini Oliveira, economista, mestre em Administração e coordenadora do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA.
No começo de março o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2020: uma queda de 4,1%, o pior resultado da série histórica iniciada em 1996 e que retira o país da lista de dez maiores economias do mundo.
A recuperação de 3,2% no último trimestre do ano, que poderia ser uma boa notícia frente à forte queda do primeiro semestre de 2020, acaba sendo apenas um respiro para um início de 2021 nada promissor. Inúmeros fatores podem ser elencados para justificar o pessimismo em relação aos próximos meses: o maior intervencionismo do presidente Bolsonaro na economia neste início de ano; um recrudescimento da inflação e maior risco de inadimplência; e claro, a piora da pandemia associada à extrema lentidão no processo de vacinação.
As recentes intervenções do presidente na economia desagradam os mercados, pioram as expectativas em relação ao futuro e contribuem ainda mais para a alta do dólar. Essa alta, já observada nos últimos meses e que pode se intensificar em 2021, pressiona os preços e abre espaço para uma antecipação do aumento na taxa de juros, o que pode contribuir para o aumento da inadimplência, em especial para a população de baixa renda. Portanto, essa população que já sofre com a perda dos principais estímulos dados pelo governo no ano passado e com uma inflação localizada especialmente no setor de alimentos, será novamente afetada pelos juros e consequentemente, pela inadimplência.
O resultado também acentua a tendência de queda no PIB per capita (calculado dividindo o PIB do país pela quantidade de habitantes), que já se manifestava ao longo da última década (com queda de 4,4% em 2015 e 4,1% em 2016). Em 2020 o recuo foi de 4,8%, pior queda desde 1981 no início da famosa década perdida.
O crescimento de 2% do setor agropecuário em 2020 é um alento nesse cenário desastroso e está diretamente relacionado à recuperação da economia mundial e à alta do dólar. Entretanto, a análise setorial do PIB nos mostra uma forte queda no setor de serviços (de 4,5% na atividade que corresponde à maior parcela do PIB e é o maior empregador da economia) e na indústria (3,5%).
O otimismo em relação à agropecuária, que se revela hoje como atividade fundamental para a sustentação da economia pode revelar uma preocupação, em especial para o setor industrial. Olhando para o passado, para uma década de desindustrialização e perda de competitividade da indústria brasileira, o que esperar desse futuro?
O momento em que vivemos, de pandemia (e o atual lockdown vem mostrar que estamos longe de seu fim), alto desemprego e possível recessão, significará para nossa economia destruição de capital humano, com perda de habilidade dos trabalhadores alvejados pelo longo desemprego e muitas vezes afetados em sua saúde mental, e um aumento da informalidade.
A saída da Ford do Brasil é o símbolo de uma era de desindustrialização, de falta de investimento e inovação, e perda de competitividade. Mas… o que esperar de um país que por vezes, insiste em duvidar da ciência?