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Aulas presenciais ou remotas / Wanda Camargo*

A recente discussão sobre a volta – ou não – às atividades presenciais em escolas de todos os níveis, nos relembra o fato inconteste de que a instituição escolar não é somente o local onde as crianças e adolescentes desenvolvem aprendizagens e processos educacionais, mas também onde brincam, aprendem regras de convivência e estabelecem as relações interpessoais importantes para facilitar o seu desenvolvimento pessoal e social.

É também neste ambiente que normas e padrões comportamentais são transmitidos, e onde, pela primeira vez, entendemos que o usual em nossos círculos mais próximos nem sempre é válido em outras esferas, e isso representa um papel essencial no processo de socialização da criança e do adolescente.

A importância da escola para a sociabilidade e o desenvolvimento da sociabilidade não pode ser subestimada; crianças pequenas usualmente têm nas escolinhas o primeiro contato com seus “iguais”, outras crianças com a mesma idade e com as quais a relação é horizontal, diversa daquela privilegiada e afetiva a que estão acostumadas com pais e avós. É aí, então, que começam a “aprender” como se vive em comunidade, e a necessidade de negociar e dividir afetos, atenção e brinquedos. Os professores são fundamentais neste processo, orientando-o em certa medida e até estabelecendo certos limites a eventuais comportamentos mais agressivos.

Nas escola, em geral, se criam as primeiras amizades, rivalidades, desafios, amores. É comum, no ensino superior, que casamentos ou empreendimentos profissionais nasçam de relações escolares.

Uma escola é capaz de juntar diversas comunidades, misturar classes sociais, promover a autoestima e o desenvolvimento harmonioso entre os jovens, constituindo-se um espaço privilegiado de encontros e interações. É nela que grandes amigos se fazem, mas também onde se cultiva as primeiras divergências, tanto no modo de fazer quanto no de expressar-se diante da vida.

A amizade tem um papel importante na vida dos estudantes, as alianças formadas nesta fase, em especial quando essa amizade é recíproca, costumam ter ressonância na formação da própria personalidade e podem algumas vezes mudar a percepção sobre a própria família.

Aqueles que tem amizades recíprocas relatam maiores níveis de sentimentos de pertencimento à escola e têm efeitos positivos nos seus resultados acadêmicos, pois estas fornecem suporte social, tornam os jovens mais populares, que ficam mais motivados e envolvem-se mais nas atividades escolares como jogos, passeios e competições.

Dentro dela, o papel do professor é fundamental na promoção de capacidades de decisão e de escolha de estilos de vida saudáveis, o relacionamento direto e pessoal entre alunos e professores pode proporcionar diversas facilidades de adaptação, e evitar o crescimento de inimizades que muitas vezes desmotivam a aprendizagem e podem propiciar uma queda no desempenho escolar, criando condições propícias ao envolvimento em comportamentos de risco.

Estar longe dos amigos e dos professores pode alterar significativamente a vida emocional e o comportamento, chegando até ao que pode ser classificado como transtorno do desenvolvimento psicológico ou transtorno emocional e de comportamento; entre eles agressão, impulsividade, comportamento desafiador e manifestações antissociais quando o jovem externa sua insatisfação; ou então retraimento, depressão, ansiedade, medo, preocupação em excesso, tristeza, timidez, insegurança e até recusa de continuar frequentando a escola, quando o adolescente internaliza excessivamente seus problemas.

Problemas emocionais e de comportamento sempre prejudicam o rendimento cognitivo, mas o medo da pandemia, o receio da contaminação também não é favorável à aprendizagem. Embora o jovem esteja menos propenso a refletir sobre esta questão no momento de encontrar seus amigos, de aglomerar-se em lanchonetes, seus familiares previnem contra a possibilidade de propagação do vírus no ambiente da escola, o que é verdadeiro.

É difícil opinar sobre tema tão complexo, em momento tão difícil; não há uma verdade definitiva entre escolas totalmente abertas, abertas de forma híbrida, ou totalmente fechadas. Estamos na dependência das circunstâncias de momentos, e ainda não podemos ter controle sobre elas, uma melhor condução sanitária desta crise nos deixaria mais otimistas.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

 

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