Entre as vantagens das novas variedades estão o elevado teor de sacarose, os diferentes ciclos de colheita e as adaptações a vários tipos de solos e ambientes
A cana-de-açúcar está presente naquele pedaço de bolo do café da manhã, no refrigerante que acompanha o almoço, nos biscoitos do lanche da tarde e na caipirinha do final de semana. Você também consome cana-de-açúcar quando se desloca em um automóvel e quando toma xarope para tosse. Até na ração do seu animal de estimação ela tem papel importante. A planta é matéria-prima para a produção de açúcar, álcool combustível, melaço e biodiesel e as universidades federais brasileiras são os principais núcleos de pesquisa e de desenvolvimento de variedades de cultivo.
A Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento Sucroenergético (Ridesa) é formada por um convênio de cooperação técnica entre dez universidades federais, do qual a Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz parte. Atualmente, a Rede é o principal núcleo de pesquisa canavieira no âmbito do Governo Federal, desenvolvendo as cultivares denominadas República do Brasil (RB). Desde 1992, o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar, vinculado ao Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da universidade paranaense, já desenvolveu dez variedades e, em 2021, deve liberar outras quatro.
Entre as vantagens das novas variedades estão o elevado teor de sacarose, os diferentes ciclos de colheita e as adaptações a vários tipos de solos e ambientes. O coordenador do Programa na UFPR, professor Ricardo Augusto de Oliveira, explica as características de cada uma delas. “Destaco o elevado teor de sacarose da RB056380 e da RB056351, sendo recomendas para cultivo em ambientes de alta a média fertilidade. Ambas possuem ciclo precoce, isto é, podem ser colhidas no início de safra. A RB006970 também tem alto teor de sacarose e apresenta um período de colheita maior, podendo ser colhida do início ao meio de safra. Ela é recomenda para cultivo em ambientes de alta a média fertilidade, com melhores resultados quando cultivada em solos com boa retenção de umidade. Já a variedade RB036152 tem melhores resultados em solos de média a baixa fertilidade. Ao longo dos cortes, ela apresenta elevados rendimentos agrícolas e possui teor de sacarose de médio a alto”.
Só no estado do Paraná, a área com cultivares RB chegou a 76% na safra 2020. Quando a Ridesa nasceu em 1991, de toda a área com cana-de-açúcar do país, apenas 5% era cultivada com variedades da sigla RB. Depois de 30 anos de pesquisa, o território que apresenta esses cultivares representa 60% se levada em conta a safra 2020. Isso significa uma contribuição de mais de 12% na matriz energética do Brasil.
As variedades mais cultivadas no país são a RB867515, desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa, seguida pela RB966928, desenvolvida na UFPR. Essa última, liberada em 2010, está presente em 14% da área nacional cultivada com cana-de-açúcar.
Além das quatro variedades criadas na UFPR, a Ridesa pretende liberar para cultivo, ainda este ano, outas 17. No total, serão 114 qualidades de cana-de-açúcar RB desenvolvidas em 50 anos de pesquisa pelo setor público. “As novas cultivares são adaptadas para as regiões de cultivo que possuem características climáticas, solos, tecnologia de manejo e outros fatores que influenciam no seu desempenho agrícola”, revela Oliveira.
Processo de melhoramento genético de plantas
O melhoramento genético proporciona aumento de produtividade, pois viabiliza o cultivo de plantas mais resistentes a pragas e a doenças e adaptadas para as diferentes regiões produtoras. De acordo com o coordenador do Programa na UFPR, o processo tem grande relevância para o setor agrícola e, principalmente para a sociedade, brasileira e mundial.
O professor explica que são necessários cerca de 15 anos de estudos e pesquisas para obter uma nova variedade de cana-de-açúcar. “O processo inicia com a produção de sementes em ‘Estações de Floração e Cruzamento’ da Rede, que possuem bancos de germoplasma. Existem centenas de possibilidades estudadas para gerar as combinações híbridas e produzir sementes originárias de diversos cruzamentos”.
Nas estações, são produzidas milhares de sementes e enviadas para as universidades da Ridesa iniciarem as fases de experimentação de campo. Entre as etapas realizadas nas universidades estão: germinação das plântulas; seleção de clones de cana-de-açúcar RB; ensaios de competição de clones; avaliação da época de maturação dos clones; e reação às pragas e doenças de clones. “Depois desses estágios, que levam alguns anos, os clones são multiplicados em ensaios de validação comercial. Essa fase dura cerca de dois anos até que sejam comprovadas as qualidades em situações de manejo”, afirma Oliveira.
Ridesa no Brasil
A Ridesa é conveniada com 298 usinas no Brasil, o que representa, aproximadamente, 80% das empresas brasileiras produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade. “A Rede ainda possui diversas ações de transferência de tecnologia para pequenos produtores que geram produtos como açúcar mascavo, aguardente artesanal e alimentação animal”, destaca o coordenador.
Esse modelo de parceria com usinas e destilarias possibilita que a Rede desenvolva novas variedades e as introduza em sistemas de cultivos no Brasil para avaliá-las com base em experimentos nas empresas nacionais.
Em 2021 a Ridesa comemora 30 anos de criação e 50 anos de variedades RB. Além da liberação das 21 novas qualidades desenvolvidas em várias regiões produtoras do Brasil, haverá o lançamento de três livros abordando a temática.
Links úteis
Matéria no portal UFPR: https://www.ufpr.br/