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Autismo, ensino remoto e inclusão na pandemia

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Wania Emerich Burmester*

A educação de crianças com necessidades especiais, transtornos do desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem sempre foi um enorme desafio, tanto para escola e os educadores, quanto para os pais e os próprios alunos em questão. Essa dificuldade talvez tenha a ver com o fato de que nossa sociedade valoriza a cultura da padronização e seletividade, restringindo o espaço para as singularidades e necessidades individuais.

Quando nos vemos diante de uma pandemia que trouxe ainda mais desafios e dificuldades para a Educação, falar em inclusão se torna ainda mais complexo. A integração em diferentes níveis e setores de uma sociedade, incluindo aí um dos mais essenciais – a Educação -, é o que vai determinar o futuro e a vida do indivíduo com alguma necessidade especial. O Abril Azul, campanha realizada todo mês de abril para promover a conscientização sobre o autismo,  traz visibilidade para o tema neste período e precisamos então aproveitar o momento para gerar reflexão e ação no sentido de uma sociedade cada vez mais inclusiva, mesmo diante de desafios como a pandemia.

Manter a concentração durante as aulas remotas é um desafio para a maior parte dos estudantes, de qualquer idade e em qualquer nível escolar. Mas, para alunos com necessidades especiais, a experiência de só ter contato com professores e colegas por meio de uma tela de computador é ainda mais difícil. No caso de alunos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), surgem inúmeras questões quando são colocados para aprender por meio do ensino remoto: o autista consegue permanecer em frente a uma tela e se concentrar para absorver o conteúdo? Por quanto tempo isso é possível? Há que se considerar também as dificuldades na comunicação virtual, não apenas no que diz respeito ao aluno entender o que é dito, mas também no sentido de se fazer entendido.

Por maior que seja a preocupação de escolas e educadores em adaptar a realidade atual para que o ensino remoto também seja inclusivo aos autistas, é preciso levar em conta que o isolamento e a suspensão das aulas presenciais afetam uma das principais premissas da inclusão desse público, que é a socialização. Quando um aluno autista entra na escola, a socialização é um dos principais objetivos desse processo. A interação e a comunicação com o outro podem se tornar grandes desafios. O ensino remoto para esse estudante vai exigir estratégias personalizadas, um olhar diferente para a aula que está sendo oferecida. O professor precisa aplicar uma metodologia, expressão facial e corporal específicas para se conectar a esse aluno. A integração entre família e escola é igualmente importante no processo de aprendizagem, que também tem como finalidade a interação com os demais colegas da turma em atividades cotidianas, que lhe permitirão a socialização tão fundamental para seu processo de inclusão social.

Abraçar a causa da educação inclusiva – com ou sem pandemia – é trabalhar diariamente para quebrar as barreiras que sempre se apresentam pelo caminho. Escola e educadores precisam buscar alternativas que garantam àqueles com necessidades especiais as adaptações necessárias para viabilizar o aprendizado, mas sem deixar de lado uma questão importante: o aluno precisa estar inserido no mesmo contexto dos demais, sem que tais adaptações acabem por excluí-lo do meio ao qual deve pertencer. Sem essa condição, a inclusão não acontece de fato. Não podemos apartar um aluno de seu grupo apenas porque para ele a aula virtual é mais difícil. Quem sabe criar momentos, mesmo que curtos, de interação com pequenos grupos? Os professores podem sugerir que uma vez por semana um grupo se reúna, virtualmente, para conversar e trocar ideias sobre algum tema das aulas ou sobre assuntos que possam chamar a atenção dos estudantes. Dessa forma, o aluno com TEA, ou outra necessidade, tem a oportunidade de interagir, ouvindo e participando.

Outra estratégia pedagógica é agendar um momento individual do aluno com o professor, para que possa haver uma comunicação mais dirigida para essa criança ou jovem, visando às expressões faciais, à fala personalizada e até à comunicação não verbal, estratégias tão importantes quando se trata de estabelecer o vínculo com o aluno autista e a adequação do conteúdo para a realidade individual. É certo que o nível de autismo e as formas de manifestação do transtorno em cada aluno também determinam o grau de complexidade do processo de inclusão, sendo, por isso mesmo, necessário lançar um olhar individualizado sobre cada caso. O que não se pode é incorrer no erro da padronização ou da acomodação.

*Wania Emerich Burmester é consultora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.

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