Gestão é palavra feminina e exercida em sua plenitude pelo gênero. Não por acaso, as nações com as melhores decisões em relação à pandemia do coronavírus têm mulheres como chefes de estado ou no time principal. Mais do que uma tendência de reconhecer a relevância das mulheres, a equidade está na ordem do dia de organizações públicas e privadas dada a complexidade dos enfrentamentos das questões que afetam o futuro da humanidade.
Em Curitiba, o LIDE Paraná destaca como principal liderança, a jornalista e empresária Heloisa Garrett, de 36 anos. Em entrevista ao jornalista Luiz Augusto Juk, disse, entre outras coisas, que não se intimidou frente ao desafio da posição e tomou posse quando o filho caçula tinha apenas quatro meses de idade. Detalhe, ela é mãe de três filhos (Isabela, Enrico e Valentin). Empresária e comunicadora, lidera uma série de transformações na entidade empresarial que aumentou em 350% o número de filiados, mesmo com redução abrupta de eventos presenciais, que marcam o cenário atual de negócios como um todo. Atualmente, o Paraná destaca uma das unidades mais representativas do Sistema LIDE, no Brasil e no exterior.
Ciente de seu poder pessoal e do quanto pode inspirar outras pessoas a superarem seus limites, Heloisa personifica a essência da palavra gestão. Confira a entrevista:
LUIZ AUGUSTO JUK – Em uma breve análise da construção de sua trajetória profissional até o LIDE Paraná, quais foram os seus principais desafios?
Heloisa Garrett- Venho de uma família muito humilde. Fui a primeira a ter curso superior e acredito que ter optado por uma carreira na área de comunicação me abriu horizontes. Comecei minha atuação profissional na vida pública. Atuei dentro do ecossistema empresarial onde pude conhecer a força da economia do Paraná in loco percorrendo todo o interior. Quando assumi uma posição executiva em São Paulo, atuando em todo o mercado nacional, adquiri maturidade para compreender que a minha habilidade de comunicar me tornou uma pessoa relacional. Portanto, fazer conexões e negócios é algo natural para mim. Claro que, com a bagagem de duas décadas de trabalho, também busquei especializações e um crescimento constante no desenvolvimento das minhas habilidades.
JUK – Diante da sua trajetória, como você acha que é possível superar ou reduzir a desigualdade social e de oportunidades no Brasil? O LIDE possui algum projeto nesse sentido?
Heloisa Garrett- Acredito no ciclo da prosperidade. Quando empresários fecham negócio isso se reverte em comida na mesa do trabalhador. Tenho parentes que moram em comunidades e conheço a realidade da maioria da população brasileira. Nosso país é o sétimo mais desigual do mundo e acredito na distribuição de renda tendo o trabalho como fonte. Muitas vezes, vejo o empresário sendo demonizado por prosperar, mas a sociedade esquece que ele gera renda, alimenta inúmeras famílias direta e indiretamente. O LIDE tem como missão promover negócios, negócios sérios, íntegros e com governança que, como consequência, desenvolvem comunidades e fortalecem os mais diferentes setores da economia, ativando toda uma cadeia. Além disso, temos o LIDE Solidariedade que promove ações específicas pensando nas minorias. Veja, até 2019, este programa no Paraná se resumia a realização de uma festa de Natal. Desde que assumi a presidência, a área social dentro do LIDE é um programa constante. Acredito que as oportunidades também podem ser construídas. Chegar até aqui, com a minha origem, é um exemplo de que não precisamos de nove gerações para quebrar o ciclo da pobreza.
JUK- Como é a relação do LIDE Paraná com a política e os políticos do Paraná?
Heloisa Garrett- Política é o sistema de relações de poder na sociedade. Acredito que os empresários precisam participar cada vez mais do ambiente político para que não vejam decisões que impactam seus negócios serem tomadas por quem nunca viveu a dor que é empreender. Neste sentido, a entidade atua pelos interesses dos empresários. Somos uma entidade da livre iniciativa, não um movimento político. No entanto, estamos muito próximos dos poderes em favor do desenvolvimento econômico, em todas as esferas. Na pauta do LIDE está a cobrança pelas reformas, que são extremamente importantes para o nosso desenvolvimento e a desburocratização. Na minha concepção, todo o cidadão precisa entender que tem um papel político importante, que precisamos respeitar as diferenças e pensar em um bem maior que é coletivo e impacta toda a sociedade. Ainda temos muito o que evoluir.
JUK- A que atribuiu o crescimento no número de filiados do LIDE Paraná, mesmo em um contexto tão adverso como nos últimos anos?
Heloisa Garrett- Conheci a entidade como filiada em São Paulo. Quando retornei ao Paraná e passei a frequentar os eventos, notei que tínhamos uma lacuna enorme entre o potencial do Paraná e o que o LIDE realmente fazia pelo Estado. Acredito que o crescimento é resultado de uma busca contínua em entregar para nossos filiados o valor de estar em um ecossistema empresarial plural, que promove negócios e gera conhecimento. Investi em uma equipe plural e em tecnologia para comprovar que o LIDE não é um simples promotor de eventos. Desenhamos um plano estratégico de expansão para o interior do Estado, respeitando as vocações econômicas do Paraná, e toda a nossa pauta de trabalho está alinhada com um plano de retomada, que tem cinco pilares que norteiam a nossa operação. Um trabalho denso, orquestrado e com métricas sendo mensuradas constantemente, corrigindo a rota quando é necessário e tendo um rumo claro, que consiste no desenvolvimento da economia paranaense.
JUK- Como jornalista e tendo sido executiva de um dos principais grupos do Paraná, como você avalia hoje o papel fundamental da comunicação e o futuro dos veículos de comunicação?
Heloisa Garrett- Há alguns anos cheguei a questionar nossa sobrevivência. Contudo, hoje vejo o papel do jornalista e dos veículos sérios como essenciais para a manutenção do estado democrático de direito. Quando vejo redes de transmissão de fake news, de mensagens de ódio e tanta desinformação influenciando a vida das pessoas e a coletividade, considero nosso papel como essencial. O jornalista tem responsabilidade sobre o que fala e o que escreve. Nossa voz tem um papel cada vez mais fundamental. Infelizmente, com as redes sociais e a busca por views, o mercado anunciante vêm migrando o investimento que acaba inviabilizando negócios de comunicação, mas acredito no conteúdo assinado como uma equação para a manutenção dos veículos e, consequentemente, sustento aos profissionais de toda essa rede. Mas, reforço que o cidadão precisa ter consciência de qual o meio que ele está consumindo informação, se ele está se informando ou se desinformando.
JUK- Sobre o futuro, o LIDE conta com uma vertical que acompanha o desenvolvimento de startups. Como você avalia a participação feminina nesse segmento, sendo você cofundadora de uma startup em parceria com seu marido, Leon Le Senechal?
Heloisa Garrett- Eu e meu marido somos sócios, bastante complementares. Temos três operações de tecnologia e eu estou à frente da CONECTA, que atua na área de incentivos fiscais e é uma atividade onde me conecto muito à área social e à cultura, que é minha grande paixão. Ainda temos uma participação minoritária de mulheres como founders e a captação de investimentos ainda é menor entre as mulheres. Pelo LIDE, vamos desenvolver um programa para incentivar a carreira de mulheres em STEM (sigla em inglês para Science, Technology, Engineering e Mathematics), e vejo também que, apesar de muito empreendedoras, as mulheres ainda são reservadas para expor suas ideias e buscar investimentos. Some a isso o fato de o mercado também ser resistente. Um dia passei por uma situação onde, em uma banca de investimentos, me questionaram como era minha rotina como mãe e empreendedora. Essa pergunta nunca foi feita ao meu marido. Ainda vivemos um problema estrutural que é a participação das mulheres na liderança de companhias e isso não é diferente no universo de startups. Mas, o cenário está mudando.
JUK- Você movimenta o LIDE em várias frentes. O que podemos esperar para 2021?
Heloisa Garrett- Dinamismo. A entidade é viva e se movimenta de acordo com as necessidades e oportunidades do momento. Acabamos de lançar a plataforma ESG onde vamos potencializar as áreas de governança, sustentabilidade e responsabilidade social nas empresas filiadas. Além disso, o LIDE Paraná acaba de ser signatário do WEPS, da Organização das Nações Unidas, para promover a equidade de gênero na liderança das empresas. Também vamos lançar o LIDE Saúde focado em negócios na área e fortalecimento de lideranças do setor, associado a um HUB de Inovação que vai reunir investidores, empreendedores e academia para um “match” de oportunidades. Todavia, minha grande meta deste ano é estruturar nosso comitê de gestão, onde vamos reunir grandes nomes da cena empresarial do Paraná, que, em colegiado, vamos direcionar todas as iniciativas do LIDE. Acredito que liderança não se faz sozinha, precisamos oxigenar nossa entidade com boas ideias e propósitos.