(*)Por Gilmar Cardoso
“ E se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”
(I Cor,15,14).
Para os de crença cristã a festa da celebração do verdadeiro sentido da Fé é o Domingo da Páscoa da Ressurreição de Jesus, quando o Cristo triunfante sobre a morte sobre o sepulcro vazio abre as portas do céu. Durante a Missa com os sinos a repicar externando a alegria; acende-se o círio pascal que permanecerá até o dia em que se comemora a Ascensão de Jesus, na chamada quarta da páscoa (40 dias), quando subiu com seu corpo humano e glorioso, na presença dos discípulos para assentar-se à direita do Pai.
A ressurreição é a confirmação que Deus nos dá de que Jesus é verdadeiramente seu Filho, e Ele ressuscitou como primícia, como conquista e certeza da nossa vida eterna. O domingo de Páscoa celebra a festa excelente da vida. É nele onde são referenciadas a última Ceia, a prisão, julgamento, condenação, crucificação e ressurreição de Cristo e é nele que somos convidados à nossa ressurreição.
Jesus, ao anunciar aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição como cumprimento da vontade do Pai, desvenda-lhes o sentido profundo da sua missão e convida-os a associarem-se à mesma pela salvação do mundo.
Estamos na Semana Santa, a mais importante do ano litúrgico, memória dos últimos acontecimentos da vida de Jesus, sua Paixão, Morte na Cruz e sua Ressurreição, a nossa Páscoa. O Papa Francisco, na sua mensagem de Páscoa (Urbi et Orbi 2020), fez essa reflexão: “O Ressuscitado é o Crucificado; e não outra pessoa. Indeléveis no seu corpo glorioso, traz as chagas: feridas que se tornaram frestas de esperança. Para Ele, voltamos o nosso olhar para que sare as feridas da humanidade atribulada”
Sentimos claramente que a Páscoa tem um significado mais marcante em meio à pandemia do coronavírus; e que no isolamento e distanciamento social, privadas das celebrações eucarísticas comunitárias, as famílias buscam manter tradições mesmo sem as confraternizações e reinventam atividades para celebrar a data. Neste período pascal, de ressurreição do Senhor Jesus Cristo, estamos rezando as missas sem a presença dos fiéis, via face book, instagram e youtube, rádios e TVs; um novo jeito de comunicar e evangelizar, ainda que com muita fé, esperança e caridade.
O próprio Papa Francisco adverte-nos de que no contexto de preocupação em que vivemos atualmente onde tudo parece frágil e incerto, falar de esperança poderia parecer uma provocação, no entanto, o tempo da Quaresma é feito para ter esperança, para voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência de Deus, que continua a cuidar da sua Criação, não obstante nós a maltratarmos com freqüência. No recolhimento e oração silenciosa, a esperança é-nos dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6, 6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura.
Em meio a tanto sofrimento e busca intensa pela vida, não obstante às dores físicas emocionais e psíquicas, alegra-nos as experiências de partilha, solidariedade, oração e compromisso com a vida. “Viu sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), tudo isso são sinais de Ressurreição. Cuidemos de nossas vidas, cuidemos da vida de nossos irmãos e irmãs; façamos de nosso lares uma Igreja doméstica, espaço de oração, diálogo e paz.
A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo permite-nos alimentar a esperança de que a morte não venceu, que os obstáculos, por maiores que sejam não nos derrotarão. O Cristo Ressuscitado nos fortalece. O Deus de Jesus Cristo, o Nosso Deus, quer nos encorajar, e sua presença também nos dias de hoje, deseja retirar as pedras que nos impedem de viver.
Se fôssemos resumir em uma palavra a festa da Páscoa, com certeza a palavra seria alegria. Alegria imensa, que explode e contagia. Em todas as passagens da Escritura que falam da ressurreição de Jesus, duas ações acontecem: encher-se de alegria e sair para comunicar aos outros. Ou seja, diante da realidade da ressurreição, alegro-me ao ponto de não conseguir reter esta felicidade, mas tenho como obrigação comunicá-la aos meus irmãos, que são também irmãos do Ressuscitado.
A Páscoa de Jesus é um ato de amor total e extremo por nós. É para nossa salvação que Jesus fez sua Páscoa. Fez sua “Passagem” para que também nós façamos a nossa: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”, até o extremo. É verdade que traíram Jesus, humilharam-no, tiraram-lhe a vida… Mas, por outro lado, ele se entregou livremente, em obediência ao desígnio do Pai: “Eu dou minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e poder de retomá-la; este é o mandamento que recebi do meu Pai” (Jo 10,17s). E isto, por amor a nós, pois morrendo e ressuscitando, ele nos daria o seu Espírito Santo, no qual ele mesmo fora ressuscitado, de modo que a “passagem” de Jesus para o Pai nos abrisse o caminho e pudéssemos “passar” também para o Pai: “Vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver, estejais vós também. Eu sou o Caminho!” (Jo 14, 2.6).
Nesta páscoa queremos estar unidos a todo o povo de Deus, aos trabalhadores da saúde, a toda a Igreja, ao Papa Francisco, aos desempregados, moradores de rua, aos doentes da Pandemia e de outras doenças, pessoas necessitadas, aos ministros consagrados, a todas as famílias, no sentido de desejar a todos uma feliz páscoa. O momento é de solidariedade.
Com a sua morte destruiu a morte e com sua Ressurreição deu-nos a vida. Feliz, abençoada e Santa Páscoa, repleta da graça santificante, para todos os homens e mulheres de boa vontade, Amém e Feliz Páscoa da Ressurreição!
(*)Gilmar Cardoso, advogado, poeta, membro do Centro de Letras do Paraná e da Academia Mourãoense de Letras.