Pesquisa publicada no começo de junho com mais de 7500 pessoas, acompanhadas por 5 anos, destaca que duas porções de frutas inteiras, como maçãs e laranjas, estão relacionadas a uma menor chance de desenvolver diabetes.
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é caracterizado por secreção prejudicada de insulina (disfunção das células β) e aumento da resistência à insulina (ou resistência à captação de glicose mediada pela insulina). “A doença é responsável por mais de 2 milhões de mortes anualmente e é a sétima causa de incapacidade em todo o mundo”, explica a médica nutróloga.
No estudo, as frutas mais comumente consumidas foram maçãs, contribuindo com aproximadamente 23% para o consumo total de frutas, seguidas por bananas (20%) e laranjas e outras frutas cítricas (18%). “Os mecanismos biológicos que sustentam os efeitos benéficos das frutas na regulação da glicose e no risco de diabetes são provavelmente multifacetados. Além de sua baixa contribuição para a ingestão de energia, a maioria das frutas normalmente tem uma carga glicêmica baixa e são ricas em fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos, todos os quais podem desempenhar um papel contributivo. Tanto as fibras insolúveis e solúveis melhoram o controle glicêmico”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez. “Além disso, muitas frutas, incluindo maçãs, são ricas em flavonoides, uma classe de fitoquímicos que melhoram a sensibilidade à insulina, potencialmente por diminuir a apoptose e promover a proliferação de células β pancreáticas, e reduzir a inflamação muscular e o estresse oxidativo”, destaca.
Os pesquisadores estudaram dados de 7.675 participantes do Estudo Australiano de Diabetes, Obesidade e Estilo de Vida do Baker Heart and Diabetes Institute, que forneceram informações sobre a ingestão de frutas e sucos de frutas por meio de um questionário de frequência alimentar, durante um período de cinco anos. Eles descobriram que os participantes que comeram mais frutas inteiras tinham 36% menos chances de ter diabetes em cinco anos. “Os pesquisadores descobriram uma associação entre a ingestão de frutas e marcadores de sensibilidade à insulina, o que significa que as pessoas que consumiram mais frutas tiveram que produzir menos insulina para reduzir seus níveis de glicose no sangue”, conta a médica. “Isso é importante porque altos níveis de insulina circulante (hiperinsulinemia) podem danificar os vasos sanguíneos e estão relacionados não apenas ao diabetes, mas também à hipertensão, obesidade e doenças cardíacas”, completa.
Por fim, a médica lembra que mesmo com as diferentes concentrações e velocidade de absorção do açúcar contido nas frutas, inseri-las no hábito alimentar continua sendo uma opção saudável. “As frutas de baixo e médio índice glicêmico podem ser consumidas em qualquer horário do dia e não precisam estar combinadas com outros nutrientes como proteínas, fibras e gorduras. Já as de alto índice glicêmico, devem ser consumidas de modo mais restrito e sempre que possível, combinadas com nutrientes que ajudam a baixar o seu índice glicêmico”, destaca a Dra. Marcella. Dentre as frutas de baixo índice glicêmico, estão a maçã, o morango, a pera, as frutas vermelhas, as frutas cítricas, o pêssego e a ameixa fresca, enquanto os de médio índice glicêmico são o kiwi, a banana, as uvas frescas, o mamão, o melão, a manga e o damasco seco, ameixa seca e uvas passas. “Melancia e o abacaxi maduro são exemplos de frutas de alto índice glicêmico que podem ser consumidas com parcimônia, ou combinadas com fibras, como as aveias”, finaliza a médica.
FONTE:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*Estudo: https://academic.oup.com/jcem/