Publicado em maio no The Lancet, ensaio clínico destaca que procedimento em nervos renais é aposta para pacientes com pressão alta que não respondem aos tratamentos (hipertensão resistente) e têm risco maior de doenças cardiovasculares, incluindo acidente vascular cerebral e ataque cardíaco.
Um procedimento minimamente invasivo que visa os nervos próximos ao rim reduziu significativamente a pressão arterial em pacientes com hipertensão resistente, de acordo com os resultados de um ensaio clínico multicêntrico global conduzido no Reino Unido por pesquisadores da Queen Mary University of London e Barts Health NHS Confiar. O trabalho foi publicado em maio no The Lancet e apresentado na reunião do American College of Cardiology. “O estudo sugere que o procedimento pode oferecer esperança aos pacientes com pressão alta que não respondem aos tratamentos recomendados (hipertensão resistente) e têm um risco muito maior de doenças cardiovasculares, incluindo acidente vascular cerebral e ataque cardíaco”, explica o médico cardiologista Dr. Juliano Burckhardt, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da American Heart Association. “Este é provavelmente um dos estudos mais importantes no campo da hipertensão emergente na era da pandemia. É concebível que a denervação renal possa se tornar uma opção de tratamento para pacientes com hipertensão em um futuro muito próximo”, acrescenta o médico.
O ensaio clínico internacional testou um procedimento de uma hora chamado ‘denervação renal’, que usa energia de ultrassom para interromper os nervos entre os rins e o cérebro que carregam sinais para controlar a pressão arterial. O estudo investigou 136 pacientes que foram randomizados para receber denervação renal ou um ‘procedimento simulado’ – o equivalente cirúrgico de um placebo. O local do estudo no Reino Unido foi o maior recrutador de pacientes do mundo, com participantes dos Estados Unidos, França, Alemanha, Holanda e Bélgica. “O estudo mostrou que a desnervação renal levou a um efeito significativo e seguro na redução da pressão arterial após dois meses em pacientes que tomavam pelo menos três medicamentos diferentes para redução da pressão arterial. Descobriu-se que reduzia a pressão arterial em 8,0 mmHg, uma queda 4,5 mmHg maior quando comparada com pacientes que realizaram o procedimento simulado”, explica o cardiologista. Além disso, não houve problemas de segurança nos grupos de denervação renal ou de procedimento simulado.
Segundo o Dr. Juliano Burckhardt, pacientes com hipertensão resistente muitas vezes sofrem de danos aos órgãos, incluindo coração, olhos e rins. “Além disso, eles têm baixa qualidade de vida e estão em maior risco de eventos cardiovasculares e morte. Muitos pacientes de alto risco precisam administrar vários medicamentos prescritos, o que pode ser difícil de aderir e representa um desafio significativo para nosso sistema e recursos de saúde”, explica o cardiologista.
O médico enfatiza que encontrar outras maneiras de reduzir a pressão arterial nesses pacientes de difícil tratamento, como a denervação renal, diminuirá seu risco cardiovascular, reduzirá sua carga de medicamentos, melhorará sua qualidade de vida e, por fim, levará à economia de custos governamentais.
Os pacientes que passaram pelo procedimento relataram que tomavam comprimidos para pressão arterial há mais de 10 anos e tinham dificuldade de administrar o volume de remédios. Eles também relatavam dificuldade em manter um peso saudável, na medida em que sempre sentiam-se cansados. “O procedimento é minimamente invasivo, os pacientes não relataram muita dor e puderam voltar para a casa no mesmo dia”, explica o cardiologista. Segundo o estudo, o acompanhamento posterior mostrou que muitos desses pacientes sentiram-se mais dispostos, com mais energia e conseguiram controlar o peso com maior facilidade. “Se o efeito de redução da pressão arterial e a segurança da denervação renal forem mantidos em longo prazo, o procedimento pode ser uma alternativa à adição de outros medicamentos anti-hipertensivos em pacientes com hipertensão resistente, reduzindo o número de remédios dos pacientes e melhorando a qualidade de vida dos pacientes”, finaliza o Dr. Juliano Burckhardt.
FONTE:
*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Nutrólogo e Cardiologista, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal, atuou e atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. O médico tem certificação Internacional pela Harvard Medical School, para tratamento da Obesidade. É diretor médico do V’naia Institute.
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