Para dar certo, modelo de trabalho remoto precisa de um modelo de gestão mais atualizado que faça o controle das entregas e não mais das horas trabalhadas.
Na TecnoSpeed, conhecida como ‘A Casa do Desenvolvedor de Software’, a mudança dos colaboradores para o modelo home office imposta pelas medidas de isolamento representou o fim de uma era. A empresa, que antes possuía 120 colaboradores trabalhando na sede no centro da cidade de Maringá, hoje não tem esse endereço e agora seus 200 funcionários atuam 100% em trabalho remoto, espalhados por 43 cidades e 9 estados.
Um ano depois após o início da pandemia, a empresa fez uma pesquisa com seus colaboradores e descobriu que ninguém queria voltar para o modelo de trabalho presencial.
Sobre a produtividade, Erike Almeida, fundador e CEO da TecnoSpeed, garante que “foram monitorados os índices de qualidade do serviço, da qualidade do produto e a produtividade de forma geral. Percebemos que no início houve uma queda, mas depois os colaboradores conseguiram se adaptar a esse modelo e foi possível superar o patamar de produtividade anterior. Foi quando decidimos entregar o nosso escritório de 1.400 m2 de área construída na cidade de Maringá”.
“Hoje a TecnoSpeed conta com 200 colaboradores, todos atuando em modelo home office e sem escritório. Os novos funcionários foram contratados, treinados e tiveram a integração com o time totalmente feitos de forma remota. Para conseguir extrair o máximo desempenho da equipe, foram necessárias algumas adaptações. A gestão do time também teve que ser alterada, já que os colaboradores podem trabalhar em horário flexível. O gerente não sabe se a equipe está toda trabalhando naquele momento ou não. Então a comunicação e a gestão das entregas tiveram que ser adaptadas também”.
Garimpando talentos em tempos de pandemia
Quando a empresa precisou mandar os colaboradores para casa, a TecnoSpeed providenciou cadeiras, móveis e uma ajuda de custos para que os colaboradores pudessem contratar uma Internet melhor e organizar o ambiente.
Claro que nem todos tinham e alguns ainda continuam trabalhando em alguns espaços provisórios. Mas a partir do momento em que a empresa decidiu contratar todo mundo em modelo home office, ter um ambiente próprio para o trabalho passou a ser uma exigência.
Erike explica que “é preciso ter um ambiente de trabalho adequado em casa para o trabalho remoto. Estamos buscando que os novos contratados tenham autodisciplina, voltado para esse novo modelo de trabalho, já que de acordo com Eike, home office não é para todo mundo. Tem que gostar e ter um ambiente de trabalho em casa voltado para isso também”.
“A partir do momento em que decidimos que não vamos mais voltar com o escritório, fizemos uma pesquisa e apenas 2% do quadro ainda precisava ajustar alguma coisa em casa. Depois de um ano todo mundo se adaptou. Mesmo quem ainda precisava fazer pequenas adaptações, não desejava mais voltar para o modelo presencial. E as justificativas são várias, incluindo o fim da necessidade de deslocamento, mais tempo com os filhos ou com a família, melhor qualidade de vida, flexibilidade no horário de trabalho, além do risco de sair de casa e ter contato com o vírus”, garante Erike.
Também foi preciso aumentar o número de colaboradores na área de Gestão de Pessoas para acompanhar ainda mais de perto a força de trabalho, não só para acompanhar a qualidade, mas também por questões relacionadas à saúde mental. “Em muitos casos, se deixarmos, a pessoa tende a trabalhar mais, passar mais tempo na frente de computador. A gente monitora isso e faz todo um acolhimento quando há algum incidente, para que a qualidade de vida, a quantidade de horas trabalhadas e as entregas sejam todas programadas”.
“Há uma escassez de mão de obra no setor de TI, porque hoje todas as empresas são empresas de tecnologia. Empresas do varejo, empresas de serviços, bancos, todo mundo está passando por uma transformação digital, então todo mundo precisa de profissionais da área de TI e não só as empresas de software. A procura é grande e a necessidade de formação e inclusão de pessoas também. Assim, buscamos criar programas que incluem novos profissionais ao mercado. Além disso, o home office nos permitiu contratar pessoas fora da cidade de Maringá” diz Erike.
Também houve um aumento na rotatividade de funcionários, já que a demanda por mão de obra de TI é maior e os profissionais, principalmente os com mais experiência e uma carreira desenvolvida, são mais assediados por grandes instituições. Com isso as empresas de TI acabam perdendo alguns profissionais.
A ação da empresa nesse sentido é repor, incentivar a formação, fomentar a inclusão de novos talentos rapidamente para suprir a demanda e substituir esses profissionais que saíram.
“Em 2021 a gente fez o ASPIRA, para estudantes do ensino médio. Tivemos 25 alunos e desses 25 a gente contratou 13. Esses 13 foram contratados em abril e são grandes talentos. Destaques”, comemora o executivo.
Erike afirma que a empresa continua com a ideia de construir no Parque de TI de Maringá, mas o projeto agora foi remodelado. Não é mais um escritório. Agora é um ambiente onde vai se poder trabalhar, mas com mesas rotativas e mais ambientes para treinamento, para estimular novos profissionais no mercado e para a realização de eventos da área de TI voltados a inovação.
“Quando a nova estrutura estiver pronta no Parque de TI, acreditamos que uns 20% do quadro de colaboradores vai querer trabalhar no modelo híbrido, com alguns dias trabalhando na sede da empresa e outros dias em casa”, prevê Erike.
“Essa é uma tendência para as empresas de TI, sobretudo as startups que já possuem um modelo de gestão mais atualizado, onde é possível controlar a produtividade e a produção de forma diferente. Não mais pelo controle de horas, mas pelo controle de entregas, ou que incluam os colaboradores nas decisões, já que trabalhar de home office requer autonomia. O profissional, ao trabalhar sozinho de casa, terá que tomar decisões, e as decisões precisam ser baseadas em informações, então é preciso ter acesso às informações da empresa. É preciso ter toda uma estrutura de transparência e as informações e o conhecimento precisam estar acessíveis para esse colaborador”, conclui Erike.