Luiz Fernando Schibelbain*
A Sagrada Família, cartão-postal de Barcelona, é uma das centenas de igrejas e catedrais impressionantes construídas ao longo de muitas centenas de anos, incluindo a Catedral de São Paulo (1029 anos, Londres), a Catedral de Milão (427 anos) e a Basílica de São Pedro (120 anos, Vaticano). Sua construção iniciou em 1882 e ainda há guindastes presentes construindo as torres finais. É um exemplo perfeito de como é possível nos sentirmos ancorados ao passado e simultaneamente conectados ao futuro.
Apesar de viverem em diferentes lugares e épocas, todos os arquitetos que planejaram essas estruturas compartilham de uma abordagem semelhante denominada “Cathedral Thinking”, ou ‘Pensamento de Catedral’ – que é o ato de empreender uma busca visionária de longo prazo com décadas de previsão, intenção de design e gerações de trabalhadores motivados para seguir adiante e um dia completar a obra.
Para um conceito que remonta à Idade Média, Cathedral Thinking é notavelmente relevante no contexto corporativo atual. As organizações estão enfrentando pressão para se adaptarem a um futuro cada vez mais incerto, moldado pelos rápidos avanços tecnológicos e por novos players disruptivos. Ao mesmo tempo, estão buscando maneiras de obter sucesso em uma economia orientada por objetivos imediatos na qual os clientes desejam e esperam que empresas ajudem a solucionar alguns dos desafios sociais, ambientais e políticos mais angustiantes do mundo. Da mesma forma, as novas gerações de colaboradores vinculados a metas e objetivos estão procurando carreiras que lhes permitam fazer parte da solução. O Cathedral Thinking pode ser usado pelas instituições como uma ferramenta transformadora a fim de conceber e planejar o futuro, gerando propósitos e auxiliando os funcionários a encontrarem significado e motivação.
E como deve funcionar o conceito na prática? O primeiro passo é a observação, estabeleça uma visão de longo prazo e voltada para o futuro. Em seguida, faça planejamentos e projeções do negócio a partir de um propósito. E, por fim, construa algo importante motivando as equipes com trabalho significativo. O Cathedral Thinking nos traz estruturas inspiradoras que continuam a cativar geração após geração. A incorporação de uma mentalidade de catedral pode despertar uma nova história nos negócios, provocando uma mudança do foco na maximização da riqueza dos acionistas no curto prazo para a criação de valor compartilhado de longo prazo com as várias partes interessadas – incluindo aquelas que ainda não nasceram.
Com vidas jurídicas que se estendem além da vida de qualquer pessoa, as organizações são, de fato, um veículo ideal para enfrentar desafios do tamanho de catedrais que exigem ações de longo prazo e multigeracionais. Ancoradas em um modelo que adota uma visão de longo prazo, guiadas por um projeto para alcançar seus objetivos variados e equipadas com equipes multidisciplinares e intrinsecamente motivadas de construtores, as instituições podem encontrar uma relevância nova e mais convincente em uma economia orientada por objetivos imediatos.
*Luiz Fernando Schibelbain é gerente executivo de conteúdo no PES English, o programa de inglês avançado que forma cidadãos bilíngues.