Maioria dos tumores cerebrais merecem ser operados e estudos demonstram raríssimas sequelas quando a cirurgia foi extremamente segura e bem planejada
A descoberta de um tumor em qualquer parte do corpo, especialmente no cérebro, costuma ser acompanhada de muito medo e apreensão, pois afinal é esse órgão que comanda nosso corpo. Nesse contexto de insegurança, muitos pacientes geralmente questionam se vale mesmo a pena operar e se a cirurgia pode deixar sequelas. “De uma forma geral, praticamente todos as lesões que aparecem no cérebro e que nos levem a suspeitar de tumor merecem ser operadas; temos como exceções algumas lesões que são muito arriscadas para serem operadas, alguns tumores muito benignos e pequenos que podem ser apenas observados, e raros tumores mais comuns em crianças que soltam marcadores no sangue e na água que banha o cérebro (líquor) que podem ser imediatamente tratados, pois a cirurgia não gera benefício. As cirurgias costumam ser tranquilas, e existem várias formas de evitarmos que a cirurgia deixe sequelas, assim podemos tranquilizar bastante os pacientes que vão precisar enfrentar o centro cirúrgico”, explica o médico neuro-oncologista Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).
Segundo o especialista, no momento não há como falar em prevenção de tumor cerebral para a população em geral. “Mas podemos afirmar que para pacientes que possuem herança genética com risco de gerar tumores, existem formas de prevenir câncer e outros tumores benignos”, diz o médico. Quando o tumor é identificado, a cirurgia é a melhor opção. “Fica muito mais fácil tratar o cérebro que está com pouquíssimas células tumorais, do que tratar um punhado de células anormais tumorais que podem inflamar e gerar sintomas no paciente, além de ficar mais fácil sobrar alguma célula resistente a quimioterapia e a radioterapia. Ou seja, se possível vamos tirar o máximo de tumor sem deixar qualquer sequela, a partir daí vamos poder analisar qual tumor se trata, para escolher o melhor tratamento para hoje e para o futuro”, diz o médico.
O neuro-oncologista enfatiza que geralmente a cirurgia exige muita técnica do médico. “O neurocirurgião faz um pequeno corte e chega no cérebro com muita cautela, entrando e sempre afastando gentilmente as estruturas nobres. Geralmente o tumor vai sendo removido com materiais cirúrgicos pequenos, aspirando muitas vezes, e com ajuda de microscópio, além da ajuda de outros médicos, que ficam observando de diversas formas se o paciente apresenta qualquer risco de sequela ou se o cirurgião está próximo de alguma parte nobre, como a área da fala e da visão. Costumam ser cirurgias não muito longas, com uma recuperação rápida que costuma levar um dia na UTI (geralmente mera precaução, zelo) e um a dois dias no quarto antes da alta. Às vezes, pela inflamação que a cirurgia gera, alguma dificuldade neurológica momentânea pode ficar aparente após a cirurgia, mas quase todas elas somem após alguns dias”, diz o médico.
Com relação às sequelas, ao decidir operar, os médicos nunca têm como objetivo deixar sequelas. “A maioria dos estudos demonstra raríssimas sequelas quando a cirurgia foi extremamente segura e bem planejada, e realizada por profissional bem treinado e com conhecimento em neuro-oncologia cirúrgica. Quando um neurocirurgião entra em campo para operar um paciente é para retirar o máximo de tumor possível sem deixar danos”, destaca. No entanto, sintomas neurológicos no pós-operatório podem ser comuns, e dependem muito do tamanho do tumor e aonde ele está, mas devem ser transitórios, segundo o Dr. Gabriel Batistella. “O cérebro não gosta que alguém toque nele, mexa e movimente ele, além do fato de que a remoção do tumor pode gerar uma inflamação por algum tempo, afetando zonas totalmente saudáveis do cérebro. Na recuperação após a cirurgia, muita coisa acontece, o ar que entra some, sangue é limpado pelo próprio corpo do paciente, o cérebro ‘se ajeita’ novamente, e a inflamação reduz, fazendo com que os sintomas sumam. Pacientes que apresentam sequelas fixas são pacientes que já tinham áreas do cérebro infiltradas pelo tumor, e mesmo que o cirurgião não retirasse, ainda assim teriam um déficit decorrente disso”, explica o neuro-oncologista.
O acompanhamento após o procedimento é fundamental. Além de o paciente ficar um tempo no hospital, curto, para observação e segurança, ele deve voltar no consultório do cirurgião cerca de 10 dias após a cirurgia, para retirar os pontos. “O paciente que retira um tumor deve ter um neuro-oncologista clínico ou um oncologista para dar seguimento no tratamento, geralmente a consulta já aconteceu antes da cirurgia, ou este médico ‘entra em campo’ no pós-operatório, de preferência na mesma semana. A maioria dos pacientes vai precisar esperar cerca de 4 a 8 semanas após a cirurgia para fazer uma radioterapia ou quimioterapia, então neste tempo aproveitamos para conhecer o paciente, explicar tudo, examinar o tumor, buscar estratégias, reabilitar quem precisa ser reabilitado e fazer o máximo com esse tempo para permitir que o paciente comece o tratamento com muita força e garra”, explica o médico.
Após a cirurgia, explica o médico, o paciente deve realizar, obrigatoriamente, uma ressonância magnética ou, caso indisponível, uma tomografia de crânio com contraste até 48h após a cirurgia (mas de preferência imediatamente após a cirurgia). “Este exame serve para mostrar o quanto de tumor saiu. Em seguida, o paciente possivelmente vai fazer outra ressonância ou tomografia para planejar a radioterapia, seguido de outra ressonância cerca de duas a três semanas após terminar a radioterapia. Quando os ciclos de quimioterapia começam, temos o hábito de fazer ressonância a cada dois ou três ciclos, com o objetivo de garantir que o tratamento está fazendo efeito, e para identificar necessidades de mudar o tratamento o quanto antes, caso necessário. Costumamos dizer que o paciente precisa seguir religiosamente o cronograma oncológico, pois isto é o que garante a segurança e melhor resultado no tratamento”, finaliza o neuro-oncologista.
FONTE: *DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).