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Independência? Só com sorte

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Candice Almeida*

 

Durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, além de torcer por fadas, surfistas, ginastas, lutadores e canoístas, emocionei-me com o pódio. A Olimpíada me trouxe de volta um certo apreço pelo verde e amarelo. Foi um alento ver jovens brasileiros, muitos que vieram de estruturas fragilizadas, lutando por tão improváveis medalhas. Consegui seguir a ideia de Barão de Coubertin, pai dos Jogos Olímpicos modernos, para quem as Olimpíadas seriam o momento de deixar de lado nacionalismos mesquinhos para participar de uma competição pacífica. 

Brava gente, brasileira! Desde 2017, confesso, sofro ao ver as cores da bandeira. As panelas batendo, os gritos patrióticos talvez tenham contribuído com isso. Aliás, nem sei mais se panela velha realmente faz comida boa. O berrante de Sérgio Reis agora conduz outro gado. A máscara caiu quando, na verdade, deveria estar bem colocada tampando, inclusive, o nariz. O brado que já foi retumbante hoje é estridente.

Estamos próximos de mais uma Semana da Independência. Quase duzentos anos depois daquele grito às margens do Ipiranga, ainda estamos vivendo no grito. Colonos ainda se revoltam com a elite. O erro de português, já denunciado pelo poeta Oswald de Andrade, persiste. No entanto, acredito que uma nação independente, a qual queria D. Pedro, não é exatamente a que nos tornamos. Uma pátria independente não tem trabalho escravo nem precarizado; não se sustenta na dicotomia casa grande e senzala; não pensa em crescimento sem educação; não se pauta no combate à violência expandindo o acesso a armas. 

Uma pátria independente respeita os idosos, as mulheres, os gays e as crianças. Uma pátria independente não exonera professor por “viadagem”. Uma pátria independente não tolera o trabalho infantil. Ela dá comida a quem precisa, seja na Cracolândia ou onde for – pois “quem tem fome tem pressa” e só se ensina a pescar quem já está com barriga cheia. Uma pátria independente tem progresso, ordem e desordem. Não se sustenta no grito, muito menos no blefe. Uma pátria independente tem universidades para muitos e cidadania para todos. Tem deficientes, diabéticos, orgulhosos, ciumentos, baixos e tudo quanto é tipo de criança e adolescente em sala de aula. E ninguém atrapalha; todo mundo se ajuda e aprende junto.  

Uma pátria independente tem chama acesa para despertar o amor pela arte e não fogo de descaso pela memória do cinema e da TV. Não diz “e daí” para a dor alheia. Pátria de verdade quer independência sem morte. Independência? No atual contexto, só com muita sorte.

Neste 7 de setembro, não exaltarei milico, mas vou parafrasear um Chico, que outrora já disse que vai passar nesta avenida um samba popular. Vamos lembrar a todos que, um dia, afinal, vamos tirar as máscaras e teremos direito a uma alegria fugaz, uma ofegante (e outra) epidemia que se chama carnaval. Aí, sim, vereis contente a mãe gentil, pois terá, enfim, raiado a liberdade no horizonte do Brasil.

*Candice Almeida, professora de Redação do Colégio Positivo e assessora pedagógica de Redação no Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios do Grupo Positivo.

 

**Artigos de opinião assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do Colégio Positivo.

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