Ensino híbrido dificultam a identificação de problemas de comunicação nas crianças
As férias escolares estão chegando ao fim em grande parte das escolas do País, e este período de volta às aulas será de readaptação para alunos e pais. As dúvidas sobre a continuidade das atividades escolares frente ao grande número de casos de covid-19 geram incertezas sobre a manutenção do modelo presencial ou a adoção de ensino híbrido, que apresenta desafios à aprendizagem e exige atenção das famílias e profissionais, como o fonoaudiólogo, responsáveis pela identificação de situações que afetam a compreensão e o desenvolvimento das crianças.
É a escola o principal ambiente para detecção de dificuldades nos aspectos de comunicação e linguagem infantil. Esse espaço rico para trocas de experiências, de fortalecimento das relações e desenvolvimento de habilidades vê nas restrições impostas pela pandemia componentes desafiadores na adoção de atividades à distância, por meio de recursos tecnológicos.
“O acompanhamento, pelas crianças, de aulas online, via videoconferência ou outros recursos que a escola disponibiliza, nem sempre permite que sejam observadas, com tanta rapidez, dificuldades da criança em se comunicar e de compreender o que os professores e colegas estão tentando transmitir”, explica a fonoaudióloga, Maria Ana Brito Valim, presidente da comissão de educação do Crefono 3 (Conselho Regional de Fonoaudiologia com atuação no Paraná e Santa Catarina).
De fato, a fonoaudiologia tem um papel fundamental nos processos de aprendizagem escolar e o profissional da área deve fazer parte da equipe pedagógica das instituições de ensino. O fonoaudiólogo tem condições de contribuir com as estratégias de favorecimento do processo de ensino e aprendizagem por meio de seus conhecimentos sobre a comunicação humana, tais como a linguagem oral e escrita, audição, cognição, fluência e articulação da fala, e até mesmo de funções como mastigação e deglutição.
“Não é raro identificar casos em que uma criança precisa de acompanhamento profissional. Mas, para isso, é preciso um olhar atento de professores e pais, e a realização de atividades à distância compromete essa percepção. A tecnologia traz inúmeras vantagens para a continuidade do ensino, mas nada substitui a autonomia e a interação pessoal do aluno com seus colegas e docentes, fatores tão presentes e fundamentais no ambiente escolar”, analisa Maria Ana Brito Valim.
A construção de vínculos no ambiente escolar é um fator que contribui para a aprendizagem. Ao mesmo tempo, é mais um ponto a ser observado pelos profissionais da escola na identificação de dificuldades decorrentes de problemas de comunicação de alguma criança. O calor da relação com professores e colegas, o olhar nos olhos, o fortalecimento da empatia pela criança considerando seus contextos social e familiar são fundamentais para que profissionais da educação detectem situações que devem ser melhor investigadas fora do ambiente escolar.
Em tempos de educação à distância, esse papel acaba sendo mais uma tarefa para os pais. “É preciso, com muito amor, fortalecer o poder de observação frente aos filhos. Nesse contexto, são os pais que vão observar eventuais situações como o atraso na fala, a troca de sons e a dificuldade em formar frases, que prejudicam a alfabetização, o conhecimento dos números e a capacidade de interpretação, por exemplo”, explica a fonoaudióloga.
O aumento da percepção sobre as características dos filhos pode ser treinado mesmo fora do horário escolar. Para isso, é preciso aumentar o tempo de convívio de qualidade com as crianças, reservando tempo sem interrupções ou interferências para brincar, trabalhar o contato visual e as expressões faciais e realizar tarefas rotineiras de forma lúdica, segundo a presidente da comissão de educação do Crefono 3.
Isso não é motivo, contudo, para se considerar negativas as atividades à distância. Além de serem um meio eficaz de manter a regularidade das atividades escolares, as novas tecnologias têm fornecido ferramentas para que alunos encontrem soluções para aprimorar sua comunicação com o grupo. “Há muitas crianças que têm descoberto formas diferentes de aprender e de conversar com seus colegas e professores. Elas possuem muita desenvoltura para lidar com essas ferramentas, e isso traz muitas possibilidades novas para nossos filhos”, analisa Valim.
Qualquer situação que cause estranhamento ou desconforto deve ser levada ao pediatra e ao fonoaudiólogo para avaliação, diagnóstico e indicação de abordagem ou terapia. Quanto mais cedo os problemas de comunicação infantil são identificados, mais promissores são os resultados. “O tratamento adequado é decisivo para que a criança tenha um aprendizado de qualidade de forma atrativa, que lhe dará condições de desenvolver seus relacionamentos sociais e sua autoestima”, finaliza a especialista.
SOBRE O CREFONO3
O Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região (CREFONO3), atuante no Paraná e em Santa Catarina, constitui, em conjunto com o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), uma autarquia federal. É responsável por zelar pelo cumprimento das leis, normas e atos que norteiam o exercício da fonoaudiologia, a fim de proteger a integridade moral da profissão, dos profissionais e dos usuários diretos.
Ao zelar pelo exercício regular da profissão, o CREFONO3 protege o fonoaudiólogo daqueles que exercem inadequadamente ou ilegalmente a profissão, além de proporcionar melhores condições para que a população tenha um atendimento adequado ao consultar o profissional.