Adotar um protocolo para priorizar o atendimento dos pacientes é uma prática adaptada das guerras, quando militares costumavam fazer triagem dos soldados feridos
Você sabia que existe um protocolo internacional por trás daquela pulseira colorida que o paciente recebe quando entra em atendimento em hospitais e prontos-socorros? O Protocolo de Manchester, também conhecido como Sistema de Triagem de Manchester (STM), é uma metodologia de classificação de risco por meio de cores e tempo de espera.
O propósito deste protocolo é identificar a gravidade dos casos de urgência e emergência médica, priorizando o atendimento imediato de pessoas em estado crítico. Quem faz essa avaliação é um profissional de saúde habilitado, presente no local, que avalia os sinais vitais, lesões, intensidade da dor e outros sintomas relatados pelo paciente.
Esses dados são avaliados e categorizados a partir do STM, método criado na Inglaterra, na cidade de Manchester, pelo médico e professor Kevin Mackway-Jones e sua equipe, na década de 90. No Brasil, foi preconizado pelo Ministério da Saúde e passou a fazer parte das políticas de saúde nos estados a partir de 2008.
Da guerra para a gestão cotidiana
Criar procedimentos para priorizar o atendimento médico de pacientes é uma prática adaptada das guerras, em que militares costumavam fazer triagem dos soldados feridos no campo de batalha.
“Porém, se na guerra a ordem de atendimento estava 100% focada na sobrevivência, nos hospitais modernos ela considera não apenas o risco de morte, mas também a qualidade do serviço prestado, gestão de equipes, legislação trabalhista, direito dos pacientes e até do consumidor”, explica Henrique Mendes, sócio-fundador da startup brasileira Global Health Monitor (GHM), que desenvolve tecnologias de gestão inteligente na área da saúde.
Segundo ele, o Protocolo de Manchester, usado tanto em hospitais públicos quanto privados, é um dos primeiros passos da gestão do atendimento ao cidadão na área da saúde. “O STM é essencial para que casos graves sejam encaminhados mais rapidamente. Porém, ele não é suficiente para organizar toda a demanda da saúde, por isso, mesmo seguindo o protocolo, ainda assim existe demora, falha no atendimento e avaliações negativas por parte dos pacientes”, explica.
Um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Medicina e o Datafolha em 2018 revelou que o motivo de maior insatisfação relatado por usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, são as filas de espera, que podem chegar a 12 meses.
“Existe uma grande necessidade de encontrar soluções para o problema dessa alta demanda, por isso estamos desenvolvendo tecnologias para catalisar a gestão dos atendimentos, em especial os de casos não urgentes, que muitas vezes vão parar nos prontos-socorros e prontos-atendimentos sem necessidade, colapsando o sistema”, conta Mendes.
Ele reforça que, quando o assunto é priorizar a vida, integrar tecnologia aos sistemas de gestão de saúde dá celeridade aos processos. “Isso já é possível por meio da inteligência artificial e automatização de protocolos, um elo de ligação entre paciente, equipe médica e políticas de governança. Muito em breve teremos novidades nessa área”, revela o sócio-fundador da GHM.
Entenda o significado das cores
O Protocolo de Manchester utiliza as cores para classificar os casos e facilitar a ação da equipe médica, além de agilizar o fluxo de atendimento já no primeiro contato com a recepção.
A cor vermelha indica emergência e requer atendimento imediato, pois representa risco de morte. Já a cor laranja significa muito urgente, além de estipular um tempo de espera máxima de dez minutos.
A pulseira amarela representa urgência e espera de até 60 minutos. As de cor verde e azul são utilizadas em casos pouco urgentes e significam um tempo de espera maior, de até 120 minutos. Indicam atendimento não prioritário, sem risco de morte.
Quando avaliado na cor azul, por exemplo, o paciente pode buscar auxílio de baixa complexidade, em unidades de saúde, sem sobrecarregar os centros de alta complexidade, como no caso de emergência hospitalar.