Entre transplantes e implantes, pacientes do Hcor recomeçam a seguir seus sonhos após as intervenções
São Paulo, setembro de 2022 – Um dos órgãos mais importantes é o coração. Ele é o responsável por bombear o sangue por todo o corpo, fazendo com que os outros órgãos exerçam suas funções normalmente. Quando há alguma disfunção cardíaca, seja congênita (desde o nascimento) ou adquirida (devido a fatores genéticos e/ou maus hábitos), a vida corre risco. Atualmente, as doenças do coração são as mais incidentes entre os brasileiros e também a principal causa de morte no país, chegando a 30% do total de óbitos, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Entre as enfermidades mais prevalentes, estão as arritmias, doença coronária (entupimento dos vasos do coração) e a insuficiência cardíaca. Todos os anos, 30 mil crianças nascem com algum tipo de anomalia no coração, no Brasil. A Patrícia Fonseca foi uma delas. Hoje, com 37 anos e triatleta, ela teve que enfrentar uma verdadeira maratona até realizar um transplante de coração no Hcor.
A esportista nasceu com uma cardiopatia e, enquanto crescia, percebia suas limitações para brincar com outras crianças. Aos 14 anos, precisou passar por uma cirurgia. Aos 20, teve uma crise de arritmia. Com a evolução das complicações, só tinha uma chance de voltar a viver: o transplante de coração. O presente chegou bem no dia do seu aniversário de 30 anos.
“Quando eu entrei na fila de transplante, todas as cirurgias já haviam sido tentadas. Quando o novo coração chegou, minha vida se transformou totalmente. Eu, que via a educação física da arquibancada da escola, depois de um ano do transplante já estava correndo, após seis meses também estava nadando e, quando completei dois anos, me tornei a primeira brasileira transplantada de coração a participar das olimpíadas dos transplantados. Graças a essa cirurgia eu pude recomeçar a viver”, relata.
Para a instrumentadora Bela Grossi, de 65 anos, o transplante não era uma possibilidade. Depois de anos com diversas alterações cardíacas e mais de cinco tratamentos de câncer, a alternativa para devolver a qualidade de vida estava na implantação de um “coração artificial”, o dispositivo HeartMate. “Já estou com esse dispositivo há dois anos e me sinto ótima. Eu sempre acreditei na minha recuperação e sabia que ia dar tudo certo. Hoje, estou aqui, como se fosse uma nova pessoa, para confirmar isso”, se emociona.
“O ‘coração artificial’ pode ser utilizado em três ocasiões: como “ponte para transplante”, quando a pessoa implanta o dispositivo para ajudar o coração enquanto ainda não existe um órgão compatível para o transplante, como a “terapia de destino”, quando não há indicação para transplante, ou como “ponte para recuperação”, quando se tem causas potencialmente reversíveis como miocardite periparto, miocardite, rejeição de transplante cardíaco, para que haja tempo de o coração voltar ao seu estado normal”, explica a Dra. Salete Nacif, cardiologista do Hcor.
Um coração comum bate entre 70 e 80 vezes por minuto. O coração do piloto Marcelo Giarreta, conhecido como ‘Juba’ no mundo automobilístico, de 22 anos, batia apenas 45 vezes devido à chamada síndrome vasovagal. Ela se caracteriza por desmaios causados pela diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Geralmente, pode ser confundida com uma leve queda de pressão.
E para o piloto isso não era diferente. Ele sempre lidou com a hipotensão e, antes de corridas, tomava mais cuidado para que não desmaiasse ao volante. Entretanto, ao final de cada uma, por conta do estresse, acabava tendo uma síncope. Em outras duas, chegou a convulsionar. Qualquer evento mais estressante ou que demandasse muito fisicamente, ou até mesmo quando deixava de comer por muito tempo, ele desmaiava. “Durante o Tilt Test, exame para detectar a síncope vasovagal, meus batimentos cardíacos chegaram a zero”, conta.
Ao realizar uma bateria de exames cardiológicos e neurológicos no Hcor, o marcapasso deixou de ser uma opção. Para voltar às pistas e à vida com segurança, Marcelo passou por um tratamento chamado cardioneuroablação, especialmente desenvolvido para tratar pacientes com esta patologia. Durante o procedimento, o excesso do nervo vago é retirado, fazendo o coração não sofrer mais com os reflexos causados por ele. “Quando eu percebi que meu coração estava acelerado, ou seja, batendo no ritmo normal, e não passei mal por isso, eu me senti imortal”, confessa Juba.
A cardioneuroablação, desenvolvida pelo Dr. José Carlos Pachón Mateos e sua equipe no Hcor, tem se difundido amplamente pelo mundo, já sendo realizada nos maiores centros de arritmias. Entre os anos de 2015 e 2022, muitos países como Estados Unidos, Espanha, Bélgica, República Tcheca, Equador, Colômbia, Argentina enviaram médicos ao centro de treinamento mundial da instituição para capacitar médicos a reproduzir a técnica. “A disseminação deste conhecimento é muito importante para melhorar a qualidade de vida destes pacientes, sem implante de marcapasso definitivo, visto que acomete muitos jovens. Só aqui no hospital, já realizamos mais de mil destes procedimentos”, finaliza Dr. Thiene Pachón, médico assistente do Setor de Arritmias e Marcapassos do Hcor. Andressa Aricieri