A pesquisa sugere que o pai de Monaliza viva livre em fragmentos de floresta em Cerro Azul
Quando Monaliza chegou ao Zoológico de Curitiba, em 2019, ainda era um filhote. Ela foi resgatada em uma operação policial em 2017 no Rio Grande do Sul, entretanto, sua origem era desconhecida. Isso pode mudar com os resultados de um estudo genético conduzido por pesquisadores do Projeto de Conservação dos Monos no Paraná, realizado pelo centro de pesquisa, tecnologia e inovação Lactec em parceria com a Copel e a Fundação Grupo Boticário.
A partir de material genético coletado das fezes dos muriquis-do-sul — também conhecidos como monos ou mono carvoeiros —, análises buscam identificar graus de parentesco entre os grupos de animais em cativeiro e em vida livre que são acompanhados pelos cientistas. Foram analisados os genes de indivíduos do Paraná e do estado de São Paulo.
As análises apontaram que o DNA do pai de Monaliza é compatível com o um macho adulto que foi registrado pelos cientistas em Água Morna, na região de Cerro Azul. Entretanto, um maior número de amostras ainda é necessário para ter exatidão. Para Robson Hack, coordenador do projeto, a descoberta é uma prova dos riscos em que vive a espécie: “É uma espécie que depende muito da mãe até ter sua independência. Quando ela chegou, teve que ser alimentada por mamadeira e precisava de muitos cuidados; um sinal de que a mãe foi morta para ter o filhote apreendido, vítima do tráfico de animais”.
Tanto Monaliza como seu pai são possivelmente paranaenses. Depois de ser retirada de sua mãe, ela foi parar no Rio Grande do Sul, onde foi encontrada com uma pessoa que não possuía autorização para abrigá-la a resgatá-la.
Hoje, a muriqui-do-sul vive na companhia de outros de sua espécie. Eles também tiveram material genético coletado, e descobriu-se que são todos originários do Paraná. “Por enquanto, conseguimos contar a história de apenas um. O quebra-cabeça ainda precisa ser montado, e para isso precisamos de mais dados sobre os animais em vida livre”, explica o pesquisador.
Espécie ameaçada
Traçar a história de Monaliza é um avanço importante para os esforços de preservação da espécie. A tecnologia usada em análises genéticas é relativamente nova. Começou a ser usada na década de 1990 e, quase 30 anos mais tarde, responde a um questionamento que é feito desde que os primeiros monos foram resgatados e levados para proteção em Curitiba — à época, no Passeio Público: a sua origem.
Desde 2015, o Projeto de Conservação dos Monos no Paraná se dedica a encontrar, monitorar e estudar os monos remanescentes em fragmentos de Mata Atlântica. Analisando características demográficas e de comportamento dos animais, os pesquisadores buscam informações para embasar decisões que podem aumentar a segurança da espécie — um dos primatas mais ameaçados de extinção do mundo.
Com a análise genética é possível, por exemplo, identificar a necessidade de introduzir um indivíduo de outro lugar para aumentar a variabilidade genética de um grupo, o que aumenta as suas chances de sobrevivência. “Se nada for feito, em algumas décadas a espécie não vai mais ocorrer. Ela não está dentro de nenhuma área protegida, então está sujeita a toda sorte de ameaças”, pontua Robson.
Símbolo da Mata Atlântica, o muriqui-do-sul é o maior primata do continente americano e vive cerca de 35 anos. Em todo o Brasil, apenas dois zoológicos abrigam muriquis-do-sul, em Curitiba e em Sorocaba (SP), ambos parceiros do projeto. Em vida livre, estima-se que existam cerca de 66 animais no Paraná.
O fato de que a origem dos companheiros de Monaliza não foi identificada pode significar que seus parentes foram extintos. Mas também é possível trabalhar com uma hipótese mais animadora: a de que existem outros grupos de monos para serem descobertos e monitorados, o que aumentaria o número de amostras para serem analisadas e comparadas.