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Um chamado à ação e um alerta à reação no mundo contemporâneo

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Ballet de Londrina estreia “Bora!”, coreografia de Henrique Rodovalho que evoca as relações humanas em um tempo de virtualidades, cancelamentos e necessidade de ação consciente

Um chamado à ação e um alerta à reação no mundo contemporâneo
foto: Fabio Alcover

A psicanálise nos ensina que a condição humana é, antes de tudo, de desamparo. Assim parece ser quando um bailarino solitário, aparentemente perdido, entra no palco e caminha em direção a um coletivo. A partir desta primeira cena, o espetáculo “Bora!”, nova montagem do Ballet de Londrina, parece nos arrastar freneticamente por uma sequência de fotografias cinéticas que revelam com ironia e irreverência a fragilidade das relações humanas no século XXI, entre o desejo de pertencimento e a necessidade de manter a integridade individual. A aguardada estreia acontece neste sábado (15), às 20 horas, no Teatro Ouro Verde, dentro da programação do Festival de Dança de Londrina. É a primeira vez que a companhia oficial da cidade é coreografada por um artista externo – Henrique Rodovalho, diretor da Quasar Cia de Dança e um dos nomes mais reverenciados da dança brasileira atual.

O coreógrafo, natural de Goiânia, aceitou o convite do Ballet no primeiro semestre deste ano e permaneceu em Londrina em agosto, quando concebeu a montagem. Ao longo de setembro, os nove bailarinos, sob a batuta do diretor geral da companhia Marciano Boletti, ensaiaram as cenas. Rodovalho retorna agora à cidade para os ajustes finais e a estreia. Outro profissional de renome que participa do projeto é o figurinista paulistano Cássio Brasil, que produziu parte dos trajes em São Paulo e parte em Londrina, em processo que considerou diálogos produtivos com o elenco. A assistência de direção e direção de produção é de Danieli Pereira.

Um chamado à ação e um alerta à reação no mundo contemporâneo
foto: Fabio Alcover

Animada pela música eletrônica do compositor japonês Aoki Takamasa e do multiartista português Komet, a coreografia contagia o público. “Eu acho que, mesmo na pós-pandemia, e apesar de todas as dificuldades da situação como está hoje, acho que essas construções positivas têm de acontecer, no sentido mesmo de não desanimar, não entristecer. O ‘Bora!’ vai muito neste lugar”, explica Rodovalho. Entretanto, ao mesmo tempo que se constitui como um chamado para ir adiante e progredir, “Bora!” deixa implícita a pergunta: Avançar para onde? Conclamando, assim, a uma ação consciente. Neste ponto, a obra alinha-se com a reflexão sobre a Pós-Modernidade no sentido de revelar o fim das utopias do nosso tempo e a liquidez das relações humanas.

 Os bits ora compassados e ora irregulares que se ouvem desde o momento em que o dançarino solitário encontra o agrupamento social conduzem, em fluxos e solavancos, personas perdidas em um mundo, ao mesmo tempo, hostil e afável. Elas estão divididas entre a lógica do cardume – uma saída para se proteger em meio à grande violência da sociedade e uma resposta ao desejo de pertencimento – e a coragem de assumir suas identidades. Parece uma incoerência, mas, na era do individualismo e do elogio da solidão, somos arrastados por efeitos-manada, cujas consequências são imprevistas. Passa-se de vítima a carrasco, de hater a cancelado, na velocidade de um clique. Algumas imagens evocadas durante a peça lembram o conhecido perfil da evolução das espécies – do hominídeo a partir dos macacos, reservando uma surpresa para a aposta nesta sucessão. Como é típica da linguagem de Henrique Rodovalho, os movimentos exploram curvas sinuosas do corpo, destacam quadris e braços, jogam com contrastes de velocidade e trabalham a interpretação irônica do semblante dos bailarinos.

Visualmente, o espetáculo se passa em um não-lugar: um vazio branco, espelhado por luzes frias de led, que remetem à imensidão incomensurável do espaço virtual, uma das “telas totais” (para usar expressão do pensador francês Jean Baudrillard) em que nosso cotidiano está inserido. Ou, então, à velha metáfora do deserto do mundo, onde o homem é exilado para um convívio com iguais que são, a um só tempo, inferno e céu. Em contraste à dimensão espacial asséptica, os figurinos de Cássio Brasil trazem cores quentes, entre o ocre e o alaranjado, que apelam para a sedução do calor humano. Os cortes e as formas lembram a urbanidade e a juventude, gerando identificação com os espectadores. “Eu segui a indicação do Henrique para os terrosos e fui para uma roupa que é urbana, cotidiana, ordinária e que pudesse, de alguma maneira, estabelecer um vínculo com quem vai ver, trazer uma proximidade”, destaca Brasil.

O elenco do Ballet de Londrina é formado pelos dançarinos Alessandra Menegazzo, Ariela Pauli, Higor Vargas, Ione Queiroz, Lucas Manfré, Matheus Nemoto, Nayara Stanganelli, Thaisa Morais, Viviane Terrenta e Wesley Silva. A companhia está vinculada à Funcart – Fundação Cultura Artística de Londrina, com patrocínio da Secretaria de Cultura e da Prefeitura Municipal de Londrina.

Serviço:

Bora! – Ballet de Londrina (Londrina- PR)

Dia: 15 de outubro (sábado)

Horário: 20 horas

Local: Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85)

Classificação indicativa: Livre

Valor: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)

Bilheteria:

Ingressos para espetáculos:

R$20 e R$10 (meia-entrada)

Vendas Online:

Portal Sympla (já disponível): sympla.com.br/festivaldedancadelondrina

Vendas presenciais:

Teatro Ouro Verde

Rua Maranhão, 85

Horário de funcionamento: das 16 horas até o início do espetáculo

O Festival de Dança de Londrina 2022 é apresentado pela Copel, por meio do PROFICE (Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado e Comunicação Social e Cultura), com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina, por meio do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). O Festival é uma realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná), com apoio institucional da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Conta ainda com o apoio cultural do Hotel Crystal e Rádio UEL FM.

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