2023 exigirá esforço de toda sociedade para que o desempenho econômico seja positivo



Economistas apontam cenário de Selic em dois dígitos, pressão inflacionária e menor dinamismo na atividade econômica para o próximo ano.




Tão tradicional quanto o Papai Noel e toda a programação de encerramento de cada ano, o encontro – Discutindo Economia: Perspectivas da Economia para 2023 -, também integra o calendário de fim ano. A data escolhida para o evento realizado ininterruptamente pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (CoreconPR), desde 2010, foi a chamada Super Quarta, como é tratada toda quarta-feira quando Brasil e EUA definem no mesmo dia a taxa básica de juros (Selic e Fed) que baliza os investimentos e a dívida. A manutenção da Selic em 13,75%, já havia sido prevista pelos profissionais que participaram do evento do CoreconPR na última quarta-feira (dia 7).



Os principais setores – Agronegócio, Indústria, Comércio, Trabalho e Emprego – foram abordados, além de uma análise profunda sobre as perspectivas para 2023 tanto internamente quanto na conjuntura mundial. Todos eles convergem ao assinalar 2023 como um ano desafiador, em que os preços seguirão pressionados por uma inflação mundial dada a elevação dos custos de produção, em parte por conta da guerra e o desarranjo logístico em decorrência da pandemia. Selic deverá seguir no patamar de dois dígitos durante boa parte do ano e, se tudo evoluir bem, a queda da taxa começará nos últimos meses do ano.



A perda de ritmo na recuperação da atividade econômica pelo encarecimento de insumos, seguirá testando a inflação, derretendo o poder de compra dos mais pobres. Também vai impactar na geração de empregos que será positiva, porém, em um dinamismo inferior ao deste ano. O Comércio tende a criar mais vagas até porque deverá atingir um PIB setorial bem superior ao PIB Nacional, tal qual ocorreu neste ano. A previsão para 2022 é de que o país cresça 0,75% e o PIB do comércio 2%.



Palestrantes



Os economistas Luiz Eliezer Ferreira (Federação da Agricultura do Paraná – Faep), Evanio do Nascimento Felippe (Federação das Indústrias do Estado do Paraná – Fiep), Rafael Montanari Durlo (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese), Claudio Shimoyama (Federação das Associações Comerciais do Paraná – Faciap) e Lucas Dezordi (Valuup) foram os convidados desta edição do Discutindo Economia. O presidente do CoreconPR, economista Eduardo André Cosentino, foi quem conduziu o debate.



Agronegócio melhora os indicadores, mas produtor paranaense precisa de apoio para suportar alta dos custos de produção e mudanças climáticas



Com o tema – “Desempenho do Agronegócio em 2022 e projeções para safra em 2023”-, o economista Luiz Eliezer Ferreira (FAEP) apresentou importantes indicadores econômicos que fizeram do Paraná a quarta maior economia do País, segundo em produção de grãos e primeiro produtor de proteína animal. Ele defendeu aspectos que sinalizam uma necessidade de atenção por parte do governo estadual para que os produtores rurais paranaenses sigam na atividade contribuindo para o bom desempenho da economia do Paraná. A elevação dos custos de produção, em especial, energia elétrica, merece atenção por parte do governo estadual, pois juntos aos insumos representam ameaças para a viabilidade econômica de alguns produtores bastante endividados. “Com as constantes altas, a energia elétrica representa um terço dos custos do produtor de frango”, afirmou.

A tensão sobre a comercialização mundial, de acordo com a apresentação de Ferreira, também segue pressionando os custos de produção no que abrange os insumos. “É preciso remunerar os fatores de produção. Muitos produtores travaram seus custos antes dessa alta, e o resultado é que mesmo com toda a elevação dos preços de alimentos, que seguirá em 2023, a conta não fechou”, resumiu.


Também foi defendido pelo economista dois pontos para 2023, o câmbio vai exigir atenção, assim como o atendimento às exigências internacionais de sustentabilidade. “Temos todas as condições de bater recorde na produção de soja e milho da safra 2022/2023, salvo se tivermos algo muito fora do padrão em relação ao clima”, destacou, exemplificando a real importância da produção agropecuária estar alinhada às boas práticas ambientais e sociais (ESG). “Dependendo da neutralidade climática para produção de alimentos, o Paraná crescerá 7% em área plantada e iremos bater recorde de produção”, aponta. A estimativa da Conab voltou a 20,8 bilhões de toneladas de soja, mas o Rio Grande do Sul também vai brigar pela segunda posição de produtor nacional de grãos.



Indústria



O economista Evanio do Nascimento Felippe (Fiep) fez a “Avaliação do desempenho da Indústria no ano e estimativas para 2023”. Ele reconheceu a perda de dinamismo na atividade industrial, na comparação deste ano com o anterior e que o quadro para 2023 está carregado de um cenário marcado pela incerteza. O cenário de instabilidade mundial, puxada por guerra e todo o impacto na circulação de mercadorias pelo planeta”.



Felippe mostrou que o aumento do emprego industrial na atividade formal gerou um saldo entre admissões e desligamentos de 391.346 empregos no Brasil X 27.709 no Paraná, no acumulado do ano de 2022, segundo o Novo Caged/Ministério da Economia.



Confirmando a força motriz que é toda a cadeia do agronegócio para a economia do Estado, dentre as atividades que mais geraram emprego ao longo de todo ano, destaque para a indústria alimentícia, seguida pela de vestuário. No Estado do Paraná, o total de novas vagas foi acima de 27 mil ao longo do ano. Houve diminuição no ritmo de criação de novas vagas no mês a mês, porém, o dado segue positivo, embora menor”, comentou. “O Paraná precisa de 833 mil trabalhadores de níveis técnico e superior. Dentro das 25 áreas pesquisadas pela Fiep. As áreas com mais oportunidades são as transversais, que exigirão um maior número de capacitação de mão-de-obra”, alertou.



“O nível de produção em 2022 foi menor que 2021, o que explica tal resultado é a perda de dinamismo. O custo de produção aumentou, o que influencia e impacta no ritmo da atividade industrial como um todo neste ano e no seguinte”, esclareceu. Ele ressalta que só a indústria de transformação é responsável por quase 80% do total exportado pelo Paraná ao longo de 2022. “A questão fiscal permanece em xeque para 2023”, completa Felippe.





Para o economista Lucas Dezordi (Valuup), que discorreu sobre as “Perspectivas da Economia Brasileira e Internacional para 2023”, o ano que vem exigirá uma parcela adicional de empenho de todos os setores no Brasil e no mundo. “Se a inflação começar a cair, abrirá espaço para uma queda de juros e aumento de preço das ações, pois há correlação entre redução da taxa de juros e melhora do mercado de capitais. Só que para tudo isso acontecer, precisamos de definições claras sobre meta fiscal e a política econômica do novo governo”, enfatizou.



“Verificamos que o comércio está lutando para uma recuperação nos patamares do período pré-pandemia, o mesmo ocorre com o terceiro setor. Mas uma queda moderada da taxa Selic e recuperação da geração de valor das empresas brasileiras, ainda se mostra distante, vamos conviver com os juros nesses patamares ao longo de boa parte de 2023”, sentenciou. Segundo ele, as “demandas sociais são legítimas”, mas é fundamental “o governo deixar isso bem claro, voltar a ter meta para superávit primário e/ou movimento contracíclico”. “O mercado não gosta de muita pergunta, gosta de estar na mesma página”, acrescentou em resposta as discussões sobre a PEC do Estouro.

Comércio tem e repetirá desempenho superior ao nacional



O economista Claudio Shimoyama (FACIAP) apresentou o “Cenário do comércio em 2022 e projeções para 2023“. Foi categórico na demonstração de indicadores que mostram a importância do setor para a economia como um todo e que puxa um desempenho superior ao restante das atividades econômicas analisadas. “Considerando que a projeção do PIB nacional, em 2023, será em torno de 0,75%, o comércio terá um melhor desempenho com a previsão do PIB em 2,0%. Neste 2022, fechará em 2,8% de alta”, aponta. “Sabemos que o PIB nacional envolve exportação e importação, por isso sofre maior influência de fatores externos, como a alta da inflação americana, crise da pandemia na China e a situação da Europa com a guerra e crise energética. Os fatores internos, como a melhora da renda e queda da inflação, contribuem para o poder aquisitivo e estimulam o consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos, móveis, e principalmente com alimentação e saúde e higiene”, informa.



Trabalho e emprego distantes dos patamares anteriores à crise



Para o economista Rafael Montanari Durlo (DieesePR) que apresentou o “Balanço da geração de empregos e salários em 2022 e expectativas para 2023”, a recuperação do emprego é lenta e não foi acompanhada da renda. “Não conseguimos recuperar no Brasil o estoque de 2014, e o rendimento real”. “A reforma trabalhista que prometia melhorar a remuneração, mesmo levando em consideração que teve uma pandemia no meio do período, não fez isso e os dados mostram uma renda inferior ao que o trabalhador recebia há seis anos. Prova que, bastou retirar o Auxílio Emergencial, para uma queda drástica no rendimento da população.



A perspectiva de baixo crescimento econômico para 2023 preocupa o economista diante dos desafios atuais. “Questão dos combustíveis, ingresso volumoso de capital estrangeiro por conta da taxa de juros, política econômica do governo eleito serão pontos determinantes para os rumos da economia”, elencou. Outro tema que merecerá muita atenção é a política de valorização do salário mínimo. “Como isso irá se comportar. Como o trabalho remoto e de formalidade do emprego de motoristas de aplicativos serão tratados? “Como o governo abarcará as novas formas de trabalho na seguridade social?”, questionou. Para ele é premente que o novo governo faça uma gestão disso, promova a reforma tributária tão aguardada por toda a sociedade. ”Em 2020 tivemos a incerteza da pandemia; 2021 o agravamento da pandemia; 2022 a guerra da Ucrânia, se não tivermos nada similar em 2023 já é boa notícia”, finaliza Durlo.



Para o presidente do CoreconPR, economista Eduardo Cosentino, as informações trazidas revelam o cenário atual e as tendências dos principais setores econômicos do Paraná. “O próximo ano se mostra bastante desafiador e gera muita expectativa por parte do mercado diante de tantas incertezas. Nas apresentações dos economistas ligados aos principais motores da economia do nosso Estado, pudemos ter uma visão ampla de como caminha cada segmento, os seus desafios e as tendências para o novo ano que se aproxima”, destaca.

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