João Alfredo Lopes Nyegray*
No domingo, dia 20 de novembro, teve início a Copa do Mundo do Catar, a vigésima segunda edição do torneio realizado pela Federação Internacional de Futebol (FIFA). O país sede, que possui cerca de 3 milhões de habitantes – dos quais 90% são migrantes, foi e continua sendo alvo de dezenas de críticas. Primeiramente, uma reportagem do jornal britânico The Sunday Times afirmou que o país teria pago 880 milhões de euros para sediar a Copa. Em segundo lugar, dos mais de 20 mil trabalhadores empregados na construção dos estádios, mais de 6.500 morreram devido às péssimas condições de trabalho – como afirmou o The Guardian. Em terceiro, há a situação da população LGBTQIA+: o país classifica a homossexualidade como uma prática criminosa, e muitos governantes afirmam tratar-se de um transtorno mental.
Mais recentemente, a proibição do consumo de cerveja nos estádios deu o que falar. A cervejaria Budweiser, do fabricante Anheuser-Busch, desembolsou mais de R$ 400 milhões para patrocinar o torneio, e não poderá comercializar o estoque levado ao país do Oriente Médio. Essa decisão foi tomada dois dias antes do início do torneio, em que um copo de 500 ml custaria cerca de R$ 73.
Até aqui, os contrastes ficam claros: uma infraestrutura padrão Fifa, estádios climatizados e cerveja cara de um lado; abuso aos Direitos Humanos e trabalhadores mortos do outro. Um outro contraste que certamente merece comentário é o comportamento da própria Federação Internacional de Futebol: após a invasão à Ucrânia, a Rússia foi banida e não disputa o mundial (a Polônia entrou em seu lugar). No entanto, em 2014, os russos disputaram a Copa no Brasil que ocorreu 3 meses após a anexação – igualmente ilegal – da Crimeia.
Fato é que o país sede tem manobrado muito bem internacionalmente, ainda com tantas controvérsias ao redor do evento e de seus hábitos. Independente dos britânicos desde 1971, até recentemente, tratava-se de uma nação que sofria um bloqueio liderado pela Arábia Saudita – único país com o qual divide a fronteira terrestre. Nesta terça-feira, dia 22, o Emir do Catar celebrava a vitória saudita sobre a Argentina balançando efusivamente a bandeira do país vizinho – até pouco tempo atrás um desafeto. Aqui se percebe a importância de uma diplomacia eficiente: não só para não ser isolado pelos vizinhos, mas para atrair pessoas e negócios.
Mais do que isso, o governo catari tem utilizado sabiamente suas abundantes reservas de gás natural para mostrar-se um fornecedor confiável ao Ocidente (ao contrário dos russos). Sede de Copa do Mundo, de GPs de Fórmula 1 e de outros tantos eventos, o luxo e a arquitetura dos gigantes estádios parecem uma tentativa de nos distrair de tudo o que cerca o torneio.
*João Alfredo Lopes Nyegray é Doutor e mestre em internacionalização e estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo.