Início Vida e Saúde Rara e perigosa: Retinose pigmentar pode levar a cegueira e afeta 50...

Rara e perigosa: Retinose pigmentar pode levar a cegueira e afeta 50 mil pessoas no Brasil

0

Genética e hereditária, doença leva à perda progressiva da visão. Atualmente existe tratamento para apenas 1 dos 60 genes da retinose. Progressos da ciência, no entanto, podem aumentar esse número, afirma oftalmologista

Crédito: Adobe Stock

28 de fevereiro é o Dia Mundial das Doenças Raras. No campo da oftalmologia, uma das doenças raras mais perigosas para a visão é a Retinose Pigmentar (RP). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no Brasil cerca de 50 mil pessoas sofrem com o problema. Como trata-se de uma doença hereditária, a OMS acredita que outros 3,6 milhões de brasileiros carregam o Gene da doença, mas não vão manifestá-la. Em nível mundial, 1 a cada 4 mil pessoas são afetadas pelo problema.

A RP causa a degeneração da retina, região do fundo do olho responsável pela captura de imagens a partir do campo visual. Pessoas com retinose apresentam um declínio gradual da visão, pois as células fotorreceptoras (cones e bastonetes) morrem, podendo conduzir à cegueira. Segundo o oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná, Carlos Augusto Moreira Júnior, essa é uma doença que causa muita angústia, pois o paciente percebe a cada ano uma piora, e tem cada vez mais dificuldade para realizar suas tarefas habituais. “Ele sofre uma perda progressiva do campo visual, e tem muita dificuldade para enxergar em ambientes pouco iluminados. À medida em que a doença progride, o campo visual vai diminuindo até ficar como se a pessoa enxergasse através de um tubo. Com isso, o paciente tem dificuldade para caminhar, para se locomover, pois vai batendo nas coisas. Com a progressão maior, o centro da visão também é acometido, e a pessoa para de enxergar vultos, formas, ficando apenas com visão de luz, até que no último estágio, perde totalmente a visão de luz e fica cego”, explica o médico.

 

Diagnóstico e tratamento

 

O diagnóstico da RP se dá por meio do exame de fundo de olho – onde o especialista observa as alterações típicas da retinose pigmentar, como a presença de pigmentos na retina; pelo exame de campo visual – que mostra a deterioração e a progressão da perda do campo visual, além de exames de imagem como a tomografia óptica. De acordo o Dr. Moreira Junior, a cura para o problema ainda não existe. Porém, além da recomendação de alimentos ricos em vitamina A e DHA, outra possível solução de tratamento tem se tornado cada vez mais próxima de virar realidade: a terapia genética.

“Atualmente existe tratamento para apenas um gene da doença, o RPE 65. Ele é feito com um gene modificado, que vai corrigir geneticamente o defeito deste paciente. O procedimento é feito através de injeção intraocular na retina. O medicamento está em processo de liberação no Brasil pela Anvisa. O problema é o altíssimo custo, em torno de R$ 500 mil. De resto, todos os outros 60 genes ainda não têm tratamento, porém, a ciência avança muito rápido, existem várias pesquisas em andamento. É provável que em um futuro próximo, todos os genes da Retinose Pigmentar possam ser tratados geneticamente”, explica o médico, que ressalta a importância do check-up preventivo. “Ao menos 1 vez por ano, os pacientes devem se consultar com um oftalmologista de sua confiança”, aconselha o oftalmologista.

 

Desafio diário

 

Diagnosticado com Retinose Pigmentar aos 17 anos de idade, o músico Odin de Albuquerque Lima Júnior, hoje com 60 anos, afirma que conviver com a doença é um desafio diário. Com 95% da visão comprometida, ele sempre procurou levar uma vida normal, apesar das limitações impostas pela doença. “O que mais me incomoda é o sentimento de pena das pessoas. Mesmo com todos os problemas, fiz faculdade, estudei piano, fui pianista na noite durante quarenta anos e produtor musical. Já tenho 9 coleções de livros didáticos e paradidáticos para todas as instituições de ensino do país”, orgulha-se.

Em 2017, ao lado de sua esposa Ana Paula, Odin criou o Retina Paraná, organização cujo objetivo é divulgar a patologia, informar sobre o andamento de estudos científicos e acolher todos os pacientes de retinopatias. Devido à progressão da retinose, o músico recentemente teve uma grande perda da visão que trouxe mais barreiras. “Hoje em dia estou restringindo meus movimentos e evito sair sozinho. Tenho um estúdio em casa para trabalhar com produção musical e aula de música. Parei de dirigir há 5 anos pois minha vista não permitia mais. Ainda não uso bengala, tenho uma mobilidade bastante razoável. Então vamos vivendo um dia de cada vez, administrando as dificuldades”, conta.

SEM COMENTÁRIOS

Sair da versão mobile