No dia 12 de abril comemora-se o Dia do Obstetra, especialista da maior importância na área de Saúde, que está sempre ao lado das gestantes no momento mais significativo de suas vidas. A palavra obstetra vem do latim “obstetrix”, que significa estar ao lado. O papel do obstetra é estar ao lado da gestante, parturiente e da puérpera. “Significa um cuidado, assistindo e contribuindo para que aquele momento tão importante transcorra da forma mais leve e saudável possível”, explica o dr. Gustavo Francisco da Silva, que integra o corpo clínico do Neocenter Maternidade, de Belo Horizonte, instituição referência em neonatologia e partos prematuros.
“A data foi instituída em homenagem a São Zenão de Verona, considerado o protetor das crianças. E como somos os protetores das crianças ainda dentro do útero, veio essa homenagem. É uma data de homenagens e de reconhecimento pelo nosso trabalho”, diz Dr. Gustavo.
Origem – Os primeiros relatos desse ofício remontam de parteiras há cerca de 1.500 anos antes de Cristo. “Sempre houve pessoas que se ocupavam dos cuidados com as mulheres. A partir de uma modernização dos processos científicos na medicina, por volta do século XVlll, foram surgindo os cirurgiões obstetras. Então, o cuidado materno sempre existiu. Com o tempo foi se aprimorando do ponto de vista científico”, observa, lembrando que, “atualmente, a Obstetrícia tem-se avançado principalmente na Medicina fetal e nos cuidados fetais dentro do útero. Destacam-se algumas cirurgias realizadas antes do nascimento, como correção de mielomeningocele. Essas cirurgias são realizadas cada dia de forma mais segura, garantindo um melhor desfecho para o feto”.
Com relação a formação do Obstetra, o especialista explica que depois de seis anos de Medicina são mais três anos de residência médica, que englobam a saúde da mulher como um todo: a Ginecologia e Obstetrícia. As orientações do Obstetra são fundamentais para a saúde das gestantes e dos bebês, conforme ele explica:
Antes da gravidez – “A princípio orientamos sobre a importância das rotinas saudáveis como um todo: atividade física, alimentação balanceada, eliminação do tabagismo, controle do uso de álcool. Muitas condições ou doenças interferem de maneira negativa na gravidez, tanto para mãe, quanto para o feto. Dessa forma, identificá-las de forma precoce, principalmente anterior a concepção, possibilita uma gestação saudável”, enfatiza.
Após a confirmação da gravidez – É importante estabelecer uma rotina adequada de consultas pré-natal, de acordo com a condição da gestante. Os exames deverão ser realizados na época correta conforme foram indicados e seguindo as orientações de forma correta da equipe que acompanha a gestante. Os riscos são sempre avaliados a cada consulta de pré-natal. Por isso, é importante a gestante ficar atenta a alterações e sintomas que possam surgir ao longo desse período.
Fase pós-parto – É uma fase muito peculiar, onde as mudanças ocorreram de forma muito abrupta. De um dia para o outro a mãe passa a ter um “ser humano tão pequeno” para cuidar. Tanto as mudanças hormonais, físicas e de rotina podem fazer dessa fase a mais difícil. É muito importante ter uma rede de apoio. Complicações também podem surgir nesse período. Por esse motivo também é importante ficar atenta a alterações que possam trazer prejuízo.
Dr. Gustavo lembra que o objetivo do obstetra é a promoção de saúde tanto para a mãe quanto para o feto. Essa promoção vem através das consultas de pré-natal, momento de orientações, tirar dúvidas, solicitar e interpretar exames.
Outro ponto destacado pelo obstetra é a participação de uma parceria durante a gestação. “A presença do pai durante todo o processo é muito importante. Ele deve estar ao lado, apoiando as decisões, respeitando a autonomia da gestante, além da compreensão de todo o processo da gestação, que é muito completo. “Podemos ampliar essa participação para uma parceria, que se aplica a outras configurações familiares, por exemplo, a casais homoafetivos, inclusive para ‘mães solo’. Ter alguém próximo, com quem contar nos momentos mais difíceis, traz mais leveza para essa fase”.
Cesarianas e parto humanizado – Uma realidade com a qual o obstetra sempre se vê é o número de cesarianas no Brasil. Segundo dados no Ministério da Saúde, em 2022, cerca de 58% de todos os partos no Brasil se deram através de cesarianas. Isso é quase quatro vezes o recomendado pela Organização Mundial de Saúde. De acordo com o Dr. Gustavo, “essas altas taxas de cesarianas podem ser explicadas, de forma geral, pela ansiedade e medo do parto vaginal, pela falsa sensação de segurança da cesariana e pela falta de acesso à informação. Importante desmistificar algumas indicações de cesariana que vimos por aí, como exemplo, o “cordão enrolado no pescoço”.
Diante dessa realidade, ele enfatiza a importância do parto humanizado. Segundo ele, “deve-se entender como parto humanizado aquele parto que ocorra dentro das melhores evidências cientificas, respeitando a autonomia da parturiente, além de garantir segurança para a mãe e o feto. Humanizar é buscar informações de qualidade, trazer para discussão pontos polêmicos e que possam implicar insegurança para a mulher. Podemos ampliar o processo de humanização promovendo um ambiente (no seu sentido geral) de acolhimento e segurança. Isso se dá através de uma estrutura física preparada e adequada e, principalmente, equipe multidisciplinar. Então, pensando nesse contexto ideal, seria possível diminuir de forma considerável as taxas de cesariana”.
Perguntado sobre se o Obstetra pode influenciar a gestante para querer uma cesárea ou um parto normal, o especialista afirma que “pode sim, de forma considerável, principalmente durante o pré-natal. Como o próprio nome diz “pré-nascimento”, esse momento deve ser ideal para esclarecer dúvidas, sedimentar o conhecimento acerca do nascimento e, principalmente, trazer elementos que possam diminuir a insegurança em relação ao parto vaginal”. Nesse sentido, destaca: “devemos partir do princípio de que até que prove o contrário o parto será vaginal. A cesárea entra em campo para nos ajudar a trazer ao mundo bebês que por algum motivo não quiseram vir de parto vaginal ou que essa via naquele momento foi vista como a de menor segurança”.
Conforme explica, “a recuperação do parto vaginal é, indiscutivelmente, melhor e mais rápida para a gestante. Devemos entender que a cesariana é uma cirurgia, que implica em maiores cuidados, maior atenção a possíveis complicações, como infecção e sangramento. Tal procedimento implica em uma dificuldade maior de mobilidade, principalmente nos primeiros dias e o uso de mais medicamentos para controle da dor. Já no parto vaginal, a recuperação acontece de forma mais branda e mais rápida”.