Aumento no número de estudantes e de escolas ampliou a necessidade da presença desses profissionais no mercado
Nos últimos 40 anos, a população brasileira saiu da casa dos 120 milhões de pessoas para um total de 203 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre diversos impactos provocados por esse crescimento populacional está a educação e a consequente necessidade de mais professores dentro das salas de aula, para suprir a demanda de ensino para as novas gerações.
Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam a demanda global para a formação de 24,4 milhões de professores no ensino primário e cerca de 44,4 milhões de docentes no nível secundário. Sem esses profissionais, as instituições apontam que não será possível alcançar a educação básica universal até 2030.
Dessa forma, o cenário atual coloca a formação dos professores em um papel central para a qualidade do ensino em todo o mundo. No entanto, com a grande necessidade de acompanhar o mercado e as diferenças nos modelos de ensino, diversas dúvidas surgem sobre o melhor caminho para colocar esses profissionais nas escolas.
Uma das opções é a retomada do fomento ao magistério. O curso de extensão subsequente ao Ensino Médio promove a inserção dos estudantes na rotina de sala de aula, por meio de estágios e outras práticas para a formação de professores. O Colégio Sagrado Coração de Jesus tem um dos programas mais tradicionais no Paraná, com turmas formadas desde 1946, e pretende, a partir de 2024, modificar a grade curricular para atrair mais alunos.
O novo formato irá permitir que, apenas no período da manhã, sejam aplicadas as horas-aula obrigatórias e o magistério, seguindo as diretrizes propostas pelo Novo Ensino Médio. Anteriormente, as atividades do curso eram aplicadas durante a tarde. Já com o novo formato, no contraturno, os estudantes terão acesso a atividades de estágio, o que permite maior autonomia aos alunos.
“Alguns estudantes não têm mais interesse no magistério e esse curso faz uma diferença muito grande em práticas, metodologias e posturas. Ele antecipa a preparação antes da pedagogia ou licenciatura em qualquer área da educação. Porque o magistério não vai dar só a base para uma sala de aula em anos iniciais, infantil e fundamental, mas também para quem irá trabalhar com pessoas em outras áreas, pelas metodologias, interação e inteligências múltiplas”, explica Patricia Almeida, diretora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Jesus.
O programa citado conta com parcerias junto a instituições de ensino como a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e o Pequeno Príncipe para oferecer profissionais qualificados e prontos para atuar com os desafios das salas de aula.
“A nossa preocupação é atender a demanda dos centros de ensino de ter profissionais que correspondam a um ensino de qualidade. A pedagogia oferece a complementação que aprofunda a pesquisa e o conhecimento, mas essa experiência, dentro da classe, é proporcionada pelo curso de magistério em nível médio”, completa a Irmã Maria Zorzi, diretora de Ensino Fundamental do Sinepe/PR e diretora-geral do Colégio Sagrado Coração de Jesus.
EAD: aliado ou inimigo?
Um ponto que divide opiniões na formação de professores é a presença do Ensino à Distância (EaD) nos cursos de pedagogia. Esse mercado é uma tendência e cresce anualmente no país. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que, entre os anos de 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos de graduação à distância teve um crescimento de 474%.
Vista a necessidade do aumento do número de professores em salas de aula, a formação desses profissionais pelo modelo à distância não pode ser considerada um problema, de acordo com a diretora de EaD do Sinepe/PR e diretora da Escola Superior de Educação da Uninter, Dinamara Pereira Machado. “É necessário afastar o senso comum de que a escassez de mão de obra qualificada se dá por causa da educação à distância. Precisamos pensar também que os cursos de licenciatura, entre eles o de pedagogia, são cursos superiores e não há dentro deles o que há no magistério”, pontua.
Atualmente, os estudantes de graduação precisam cumprir 400 horas de prática antes de concluírem a formação. Ou seja, além das competências teóricas, é preciso também preparar esses professores para lidarem com os desafios diários da sala de aula como a superlotação, a instabilidade emocional dos alunos, as mudanças sociais nas famílias e o suporte dos familiares aos estudantes.
“O EaD tem a mesma matriz curricular e as exigências dos cursos presenciais. Os alunos fazem atividades práticas dentro das regiões em que vivem, mas é preciso fazer algumas perguntas. O mercado sabe selecionar quais cursos, de fato, estão formando bons profissionais? Os cursos mais baratos cumprem com todos os requisitos que devem ter? Não é sobre entregar o mínimo, é sobre entregar qualidade, porque não pode haver diferença qualitativa entre o ensino presencial e o ensino à distância”, finaliza a diretora do setor.